Equipe médica leva paciente ao novo centro de tratamento temporário para pacientes com coronavírus, em Roma| Foto: ANDREAS SOLARO/AFP
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O presidente dos Estados Unidos Donald Trump anunciou na última quarta-feira (11) que seu país iria suspender as conexões com a Europa a partir de sexta-feira a partir de sexta-feira (13). A medida foi tomada, segundo ele, porque os países da União Europeia não foram capazes de tomar medidas mais drásticas para conter os viajantes da China, e está prevista para durar por 30 dias.

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Trump também acusou a UE de “não tomar as mesmas precauções que os EUA e não querer controlar as viagens provindas da China”.

Nesta segunda-feira (16), a Europa também decidiu fechar suas fronteiras. Ambas as medidas visam reduzir a movimentação e o contato direto entre pessoas, a fim de achatar a “curva da epidemia”.

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Na China o avanço do contágio parece ter estabilizado, enquanto no resto do mundo ele segue aumentando. Tanto que já são mais pessoas infectadas ao redor do globo do que na própria China. Se somarmos apenas os dados dos maiores países da Europa continental ocidental (Itália, Espanha, Alemanha e França) temos 51.844 casos contra 81.032 na China.

Desde a última sexta-feira, a Espanha, tendo no dia cerca de 4.200 casos confirmados do coronavírus (hoje já são 9.942), declarou emergência nacional, e o país já é considerado novo epicentro da doença.

Como foi possível que a Europa se tornasse hoje o principal disseminador da doença? Estaria certo o presidente dos EUA em fechar a fronteira contra os países da UE? O Brasil deveria pensar em fazer algo semelhante?

Alguns números podem explicar as fortes medidas adotadas até aqui. A Europa é o destino mais procurado do mundo quando se trata de turismo. Segundo dados da Forbes para o ano de 2017, o velho continente foi responsável por mais de 50% do market share global de turismo, com cinco países no top 10 de destinos preferidos pelos viajantes: França (1.º lugar), Espanha (2.º),  Itália (5.º), Reino Unido (7.º) e Alemanha (8.º).

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Juntos, esses países totalizam um afluxo de pessoas de aproximadamente 302,2 milhões de pessoas anualmente. A série histórica do número de viajantes no mundo está em constante crescimento desde o final da crise financeira de 2008, portanto os dados consolidados de 2019 devem ser ainda maiores.

A China também figura no ranking em 4.º lugar, com 60,7 milhões de visitantes anuais. O que explica em parte a disseminação rápida do vírus para outros lugares do mundo. Podemos cruzar esses dados com a quantidade de gastos com turismo fora do país natal: segundo a Fobes, a China lidera o ranking com US$ 257,7 bilhões – quase o dobro que o segundo lugar, os EUA, com US$ 135 bilhões.

Segundo um relatório da China Tourism Academy (CTA) de agosto de 2019, os turistas chineses fizeram cerca de 6 milhões de viagens para Europa em 2018. Com apenas essa variável, não é possível explicar todo o quadro, mas os números mostram que o contato entre pessoas da China e da Europa é bastante expressivo.

O caso italiano

Em 29 de janeiro de 2020, a Itália detectou e isolou os dois primeiros casos do novo coronavírus, dois turistas chineses. O governo bloqueou viagens vindas da China e criou barreiras de verificação para os viajantes que entravam no país, mas as medidas mostraram-se insuficientes: antes da última semana de fevereiro, o país já havia passado da centena de infectados. Isso fez com que o governo italiano tentasse isolar as cidades mais afetadas, mas tampouco o controle resolveu. Hoje já são 27.980 casos e 2.158 mortes. O segundo país mais afetado do mundo.

Mas o que país fez de errado para que isso acontecesse? Os especialistas acreditam que o vírus circulou despercebido pelo país até meados de janeiro, prosperando porque os infectados não apresentaram sintomas severos que justificassem um exame detalhado. Quando os casos graves começaram a aparecer, era tarde para tentar uma contenção localizada.

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Em tese, não havia motivos fortes o suficiente para o governo italiano tomar medidas tão drásticas como está fazendo agora, com a quarentena quase que do país inteiro.

Ainda não foram encontrados outros motivos que justifiquem o aumento repentino de casos na Itália.

O avanço em outros países

Na França, até dia 2 de fevereiro, duas pessoas estavam confirmadas com coronavírus. Hoje já são 50 mil contaminados e 127 mortos. O presidente Emmanuel Macron decretou o fechamento de escolas, bares, restaurantes e alguns negócios menos fundamentais. Com o número de casos dobrando a cada três dias, o governo francês implementou o “modelo italiano” de confinamento por 15 dias.

A chanceler alemã Angela Merkel disse que: “o número de pessoas infectadas com coronavírus na Alemanha está aumentando”, e implementou uma série de medidas para reduzir o contato social. Entre elas: fechamento de teatros, salas de concerto, feiras, museus, mercados e academias. Restaurantes permanecem abertos das 6 às 18 horas. Missas e eventos serão proibidos.

Após o decreto de estado de emergência, na Espanha apenas estão funcionando “lojas de alimentos, bebidas e produtos essenciais, farmacêuticos, médicos, ópticos, ortopédicos, higiênicos, prensas, combustíveis, tabacarias, equipamentos tecnológicos e de telecomunicações, alimentos para animais de estimação, lavagem a seco, cabeleireiro, comércio eletrônico, telefone ou correspondência.” Também estão suspensas as atividades em bares e restaurantes (embora o serviços de entrega em domicílio estejam funcionando), além de museus, bibliotecas e outros locais culturais.

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O caso britânico

O governo da Inglaterra havia apenas de início recomendado que as pessoas que apresentassem qualquer sintoma do coronavírus que não fosse considerado grave ficasse de quarentena por 14 dias em casa.

Essa medida foi criticada pela OMS, porque os números baixos de contágio apresentados pelo país até aqui, provavelmente estaria mascarados pela falta de testes precisos de quantas pessoas estão de fato infectadas.

Nesta segunda-feira (16) o governo anunciou medidas mais duras para conter o contágio:

  • Quem mora com alguém que tem tosse ou temperatura deve ficar em casa por 14 dias
  • As pessoas devem começar a trabalhar em casa, quando puderem
  • Evitar bares, clubes, teatros e outros locais sociais
  • Usar o sistema de saúde somente quando realmente precisarmos
  • A partir de terça, o governo não estará mais "apoiando" reuniões de massa com apoio de trabalhadores de emergência

Contudo, o fechamento temporário de escolas ou negócios ainda está descartado pelo primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson.

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Resposta coletiva

À exceção do fechamento de fronteiras e da restrição de viagens para o continente, a União Europeia ainda não implementou medidas mais rigorosas e unificadas no continente, apesar de ter previsão legal para isso graças ao Mecanismo de Proteção Civil da União Europeia, que visa fortalecer a cooperação entre os estados-membros da UE e os 6 estados participantes no campo da proteção civil, com vistas a melhorar a prevenção, a preparação e a resposta a desastres.

Contudo, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen já propôs um conjunto abrangente de medidas para:

  • Garantir o fornecimento adequado de equipamentos de proteção e suprimentos médicos em toda a Europa.
  • Amortecer o golpe para os meios de subsistência das pessoas e a economia, aplicando total flexibilidade das regras fiscais da UE.
  • Estabelecer uma Iniciativa de Investimento em Resposta ao Coronavírus, no valor de 37 bilhões de euros, para fornecer liquidez a pequenas empresas e ao setor de saúde.
  • Fornecer um conjunto coerente de diretrizes aos estados-membros sobre medidas de fronteira para proteger a saúde dos cidadãos, permitindo o livre fluxo de bens essenciais.

Essas propostas ainda devem serem implantadas e, por enquanto, os países europeus estão longe de uma resposta coordenada e unida para o enfrentamento da crise.