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Eleição nos EUA em 2024

Como fica a disputa pela indicação republicana para a Casa Branca com o indiciamento de Trump

Bandeira com mensagem de apoio a Donald Trump é exibida em frente a tribunal em Nova York, onde o ex-presidente se apresentou nesta terça-feira para a leitura das acusações contra ele (Foto: EFE/EPA/WILL OLIVER)

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Ao se apresentar nesta terça-feira (4) a um tribunal em Nova York para a leitura das acusações contra ele, Donald Trump, o primeiro ex-presidente dos Estados Unidos a se tornar réu num processo criminal, acirrou ainda mais o xadrez político americano para a eleição de 2024.

Como é quase certo que Joe Biden tentará a reeleição, a dúvida que resta é quem será o adversário do democrata na oposição republicana.

Trump afirmou que manteria sua pré-candidatura apesar dos seus problemas legais, e desde que foi divulgada a notícia de que seria acusado pelo caso de suposto pagamento para silenciar uma atriz pornô com quem teve um caso, muitos se perguntaram se ele poderia participar da corrida presidencial à Casa Branca no ano que vem.

Juristas entrevistados pela imprensa americana sustentam que sim. “Legalmente falando, não há nada que impeça um ex-presidente indiciado por um crime de concorrer a um cargo - até mesmo se [tiver sido] condenado”, disse Jessica Levinson, diretora fundadora do Instituto de Serviço Público da Loyola Law School, ao jornal USA Today.

Ela enfatizou que a Constituição dos Estados Unidos estabelece apenas três requisitos para um cidadão concorrer à presidência: ser cidadão nato, ter ao menos 35 anos de idade e residir no país por pelo menos 14 anos. Ou seja, todas condições que Trump reúne, ainda que indiciado ou até que venha a ser preso.

“Realmente se tornaria uma questão de, na prática, como você poderia governar o país atrás das grades, caso a situação chegasse a esse ponto?”, afirmou Levinson.

Para enfrentar Biden, Trump terá que passar pelas prévias do Partido Republicano. Líderes da legenda manifestaram apoio ao magnata nova-iorquino, como seu ex-vice-presidente Mike Pence e o governador da Flórida, Ron DeSantis, mas na hora da disputa, é provável que não se mostrem tão simpáticos assim.

Pence, que está sendo cogitado como pré-candidato, condenou o indiciamento de Trump como um “ultraje” e uma “perseguição política” em um evento conservador na sexta-feira (31), mas também se apresentou como um “líder de bom senso” para a eleição de 2024, numa indireta ao ex-companheiro de chapa.

Já DeSantis, que também não oficializou as suas intenções de concorrer à Casa Branca, disse que não atenderia um eventual pedido de extradição de Trump da Flórida para Nova York – o que não foi necessário, porque o ex-presidente viajou espontaneamente para se apresentar à Justiça.

Porém, dias antes, o governador da Flórida havia dito em entrevista ao canal Fox News que, ao contrário de Trump, governaria “sem um drama diário” se chegasse à Casa Branca.

Três oponentes já confirmados

Além de Trump, três integrantes do Partido Republicano, Asa Hutchinson, Nikki Haley e Vivek Ramaswamy, já confirmaram que disputarão a indicação da legenda para a eleição presidencial, e todos sugeriram que o ex-presidente será um alvo na campanha e nos debates das prévias.

Haley, ex-governadora da Carolina do Sul e que foi embaixadora dos Estados Unidos na ONU na gestão Trump, disse em um evento no estado de Nova Hampshire na semana passada que o ex-presidente tem “no máximo 25%” da preferência dos filiados ao partido. “Os outros 75% de republicanos ainda estão procurando um candidato”, afirmou.

Já o empresário Vivek Ramaswamy declarou em entrevista à NBC News que está “fazendo o que Trump planejou fazer em 2015 [ano em que este lançou pré-candidatura à presidência]”, mas que pretende levar a agenda da “América em primeiro lugar” “ainda mais longe”.

Ramaswamy alegou que os Estados Unidos precisam de “um líder corajoso” e que Trump e “certamente” DeSantis não preencheriam esse requisito.

“A base republicana, posso dizer por experiência própria, está ansiosa por uma tradição neste partido de colocar um verdadeiro outsider na Casa Branca. Agora, você pode ser o outsider apenas uma vez”, afirmou Ramaswamy, numa alfinetada direcionada a Trump.

Asa Hutchinson, ex-governador do Arkansas, é o mais crítico ao ex-presidente entre os pré-candidatos republicanos confirmados. Em entrevista no domingo (2) à emissora ABC News, ele afirmou “que o povo americano quer líderes que busquem o melhor dos EUA, não os seus piores instintos”.

Hutchinson, que havia criticado Trump pelas suas alegações de que a vitória de Biden em 2020 foi uma fraude, opinou que o ex-presidente “não deveria ser o próximo líder” dos Estados Unidos e deveria abandonar as suas aspirações presidenciais após ter sido indiciado em Nova York.

Além do caso Stormy Daniels, Trump pode se tornar réu por outras investigações, como as que apuram as suspeitas de sua participação na invasão ao Capitólio, de que teria tentado reverter a vitória de Biden no estado da Geórgia e de que teria levado documentos confidenciais da Casa Branca para sua residência na Flórida ao fim do seu mandato.

Em artigo para o site The Conversation, Emma Shortis, professora de história dos Estados Unidos no Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT, na sigla em inglês), afirmou que o ex-presidente poderá conseguir votos se colocando como vítima de perseguição dos democratas – nas prévias republicanas e caso consiga avançar para enfrentar Biden em novembro de 2024.

“É certamente plausível que Trump conseguirá obter benefícios políticos do espetáculo midiático – ele tem um longo histórico de transformar com sucesso em arma política as investigações sobre seus negócios como ‘caça às bruxas’, explorando efetivamente a obsessão dos conservadores com os ‘excessos do Estado”, argumentou Shortis.

Entretanto, caso Trump seja alvo de mais acusações, suas pretensões de voltar à Casa Branca podem desandar.

“É igualmente possível que múltiplas investigações e acusações acabem prejudicando Trump, forçando-o a sair dos trilhos na campanha e a entrar em situações fora do seu controle, nas quais ele não tem um desempenho tão bom”, alertou a professora.

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