Um sistema americano de lançamento de foguetes tem ajudado a Ucrânia e se tornou uma das esperanças do país na (dificílima) tentativa de vencer a guerra contra a Rússia.
O High Mobility Artillery Rocket System (Sistema de Foguetes de Artilharia de Alta Mobilidade), mais conhecido pela sigla Himars, tem sido utilizado principalmente nas regiões ocupadas pela Rússia, como Kherson, onde Kyiv planeja uma contraofensiva.
Leve, rápido e preciso, o sistema ganhou até mesmo uma música na Ucrânia em sua homenagem, cuja letra elogia suas qualidades e o alento que o Himars traz ao povo ucraniano: “foguete após foguete contra inimigos imundos/ele libera toda a nossa raiva”.
No final de julho, os Estados Unidos anunciaram o envio de mais quatro Himars, elevando o total fornecido pelo Pentágono para 16 desses lançadores. Mas especula-se que, com outros equipamentos cedidos por outros países, até 24 Himars estejam sendo usados pelas forças ucranianas.
Nelson Ricardo Fernandes, analista de riscos e ex-major do Exército brasileiro, disse que esse sistema “muda o nível de precisão” na guerra. “O Himars é todo automatizado, o carregamento dele é muito rápido. Enquanto um lançador russo demora de 30 a 40 minutos para ser carregado ou recarregado, alguns um pouco mais modernos 20 minutos, o Himars é possível fazer em cinco minutos. Ele atira e sai fora muito rápido, não dá tempo para um tiro de contrabateria”, detalhou.
“O que aconteceu é que quando chegou o M777 [obuses], que tinha mais ou menos o mesmo alcance dos lançadores russos, ele conseguia acertar com precisão, mas havia tantos lançadores russos e uma cadência tão grande que o cano do M777 não aguentava, ele não é feito para dar muitos tiros. Então, não conseguia dar conta”, explicou o analista.
“A Ucrânia pediu os Himars porque assim teria um lançador que trabalharia, ao invés de na faixa de 30 km, que era na qual estava todo mundo trabalhando, com alvos na faixa de 60 a 80 km. Chega-se até a 300 km, mas conforme o tipo de munição; o lançador não muda”, acrescentou.
O Himars tem capacidade para seis foguetes GMLRS (que têm alcance de cerca de 70 km e são os que estão sendo utilizados na Ucrânia) ou ER GMLRS (150 km) ou um míssil ATACMS (300 km). Está em desenvolvimento o uso de mísseis PrSM, que poderiam atingir alvos até 500 km.
Fernandes apontou que a Ucrânia tem usado os Himars para atingir postos de comando russos e depósitos de munição e para “uso tático do armamento”, como destruir pontes para atrapalhar o fluxo de suprimentos para as tropas invasoras.
“O problema é que o foguete do Himars é relativamente pequeno, ele não é feito para destruir pontes, então ele consegue destruir o tabuleiro, a parte de cima da ponte, não a infraestrutura dela. Aí, a Rússia joga trilho de trem em cima, concreta e usa”, explicou o analista, citando também as pontoon bridges (pontes flutuantes) usadas pelos russos.
Nesta terça-feira (9), surgiu a notícia de que ocorreram explosões em depósitos de munição em uma base aérea russa na península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, mas não há informações de que foram entregues à Ucrânia munições de Himars capazes de cobrir essa distância (cerca de 200 km da frente de batalha).
O Ministério da Defesa da Rússia disse que as explosões não resultaram de ataques e que as causas estão sendo investigadas. Entretanto, um alto funcionário de Kyiv disse ao New York Times, sob condição de anonimato, que o ataque foi realizado pela Ucrânia e que “foi usado um dispositivo de fabricação exclusivamente ucraniana”.
Ucrânia quer pelo menos cem Himars
No final de julho, o ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, disse que o Himars e outros lançadores de foguetes já enviados para a Ucrânia haviam ajudado a destruir cerca de 30 estações de comando russas e depósitos de munição.
“Isso desacelerou significativamente o avanço russo e diminuiu drasticamente a intensidade de seus bombardeios de artilharia”, disse Reznikov, em uma entrevista ao think tank americano Atlantic Council.
Entretanto, ele estimou que a Ucrânia precisa de pelo menos cem Himars para que estes efetivamente “se tornem um divisor de águas no campo de batalha”.
Nelson Ricardo Fernandes concorda. “No número atual, você não consegue massa de fogo suficiente para mudar o rumo de uma guerra desse tamanho”, alertou. “O Himars está sendo útil, está atrapalhando os russos, está dando resultado, mas para dar uma virada no conflito, seria necessária uma quantidade bem maior que a atual.”
O analista apontou ainda que a Rússia já vem buscando medidas para reduzir a influência dos Himars no campo de batalha.
“A Rússia está falando com o Irã para comprar drones grandes que levam armamentos e que conseguem ficar 17 a 24 horas voando. Eles vão colocar vários drones na região e, quando virem um Himars, o próprio drone vai atirar”, afirmou.
Outros problemas para os ucranianos, segundo o analista, são uma provável escalada russa nos próximos meses e a chegada do inverno na Europa – que, com a possível interrupção total do fornecimento de gás pela Rússia, pode gerar uma insatisfação popular grande o suficiente para abalar decisivamente o apoio do Ocidente à Ucrânia.
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