Em março de 2018, Khalid bin Salman, embaixador da Arábia Saudita em Washington, convocou um grupo de lobistas americanos de alto escalão para enfrentar um desafio duplo e extremamente delicado.
Quatro meses após ‘tomar’ o poder, depois de ordenar a prisão de membros da família real e da elite empresarial, o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, se preparava para sua primeira visita oficial aos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o Congresso votava uma resolução bipartidária que buscava acabar com o apoio dos EUA a um bombardeio saudita contra o Iêmen, que já tirou a vida de dezenas de milhares de civis desde 2015.
Durante uma reunião na embaixada, na tarde de 12 de março, o embaixador saudita Khalid bin Salman sentou-se à frente de uma longa mesa em uma sala de conferências, ao lado de uma lousa que detalhava o percurso do príncipe. A reunião de conselheiros incluía Norm Coleman, um ex-senador de Minnesota; Marc Lampkin, um consultor veterano do Congresso dos EUA que serviu na equipe de transição do presidente Trump, e o estrategista democrata Alfred Mottur.
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Oito dias após o encontro, a resolução do Congresso destinada a retirar os Estados Unidos do que as Nações Unidas rotulavam de "a pior crise humanitária do mundo" seria derrotada, horas depois de Mohammed ter sido calorosamente recebido na Casa Branca, no início de seu tour nacional.
Ambos ‘sucessos’ refletiram o poder de uma sofisticada máquina/estratégia de influência saudita que moldou políticas e percepções em Washington durante décadas, reprimindo as críticas do reino rico em petróleo através da distribuição de milhões a lobistas, grandes escritórios de advocacia, grandes think tanks e empresas dos segmentos de defesa e de segurança. De acordo com documentos públicos, em 2017, os pagamentos da Arábia Saudita a lobistas e consultores em Washington mais do que triplicaram em relação ao ano anterior.
Influência sendo testada
Agora, porém, a força da operação saudita está sendo testada em meio ao escândalo sobre o assassinato do colaborador do Washington Post, Jamal Khashoggi, no início deste mês, no consulado saudita em Istambul. Uma morte que o reino reconheceu tardiamente - mais de duas semanas após o desaparecimento do jornalista.
Além de sua passagem por Washington, os sauditas desfrutaram de uma vantagem inestimável: um relacionamento caloroso com o presidente, que fez negócios com sauditas ricos, e seu genro, Jared Kushner, que desenvolveu uma estreita relação com o príncipe herdeiro por elaborar a política de governo do Oriente Médio. Os laços são resultado de um relacionamento de longa data entre administrações americanas passadas e a linhagem da família real saudita.
O reino também cultivou líderes de opinião através de ofensivas de charme. Figuras poderosas do governo - incluindo o vice-chefe da inteligência, general Ahmed al-Assiri, que foi demitido após o assassinato de Khashoggi - visitaram Washington para cortejar repórteres e analistas de think tanks.
O embaixador saudita organiza com frequência jantares íntimos em Washington e até alguns eventos de gala, como uma festa de luxo que aconteceu no Auditório Andrew W. Mellon, e que homenageou a mais recente visita do príncipe herdeiro. Documentos públicos revelaram que uma equipe de lobby do reino saudita foi enviada ao evento para garantir que os principais membros da comissão de relações internacionais do Congresso comparecessem ao evento.
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No início deste ano, autoridades sauditas chegaram a oferecer ingressos para o Super Bowl e até vôos fretados para estrelas da mídia irem ao evento, como Jake Tapper, da CNN, e Bret Baier, da Fox News, segundo o próprio Tapper e um porta-voz da Fox News. Eles, no entanto, dizem ter recusado as ofertas, e a embaixada saudita em Washington não atendeu a várias tentativas de contato para conversar sobre esse assunto.
Vários lobistas e instituições think tank declararam que vão ‘desligar a torneira de dinheiro’ saudita. Ainda não se pode definir se isso significa um impasse nos laços de Washington com a Arábia Saudita ou se é apenas uma pausa antes de os negócios voltarem ao normal.
"A boa hospitalidade que os sauditas receberam em Washington, seja por causa dos esforços de lobistas ou por serem bons aliados, é algo a ser observado após a morte de Khashoggi", disse o senador Mike Lee, republicano de Utah que afirma que o Congresso se abdicou de responsabilidades constitucionais, apoiando as batalhas no Iêmen, mas sem declarar guerra.
Norm Coleman, líder do lobby saudita em Washington e uma figura influente do Partido Republicano, que também co-fundou um Comitê de Ação Política alinhado com o Presidente da Câmara, Paul D. Ryan, disse que se a parceria EUA-Arábia Saudita terminar, interesses nacionais estarão em jogo.
"O relacionamento com a Arábia Saudita é extremamente importante, e sua parceria para enfrentar a ameaça iraniana é fundamental para a segurança dos EUA e da região, incluindo a segurança de Israel", disse.
Sauditas estavam intensificando esforços
Nos últimos dois anos, sauditas intensificaram seus esforços para consolidar seu relacionamento com os EUA. Segundo registros públicos, gastos do reino saudita em lobby e consultoria nos EUA, que caiu de US $ 14,3 milhões em 2015 para US $ 7,7 milhões em 2016, subiram para US$ 27,3 milhões em 2017. Segundo documentos de lobby publicados pelo Centro de Política Responsiva, mais de 200 pessoas se registraram como agentes em nome dos interesses sauditas, desde 2016.
Entre os que aparecem na folha de pagamento estão algumas das principais lojas de relações públicas e de lobby de Washington: o McKeon Group, dirigido por Howard P. "Buck" McKeon, ex-presidente do Comitê de Serviços Armados da Câmara; BGR Group, uma empresa fundada pelos republicanos Ed Rogers e Haley Barbour; o Glover Park Group, que foi criado por estrategistas políticos democratas, incluindo Joe Lockhart e Carter Eskew; e o recentemente extinto Grupo Podesta, a antiga empresa do super lobista democrata Tony Podesta.
Ed Rogers e Carter Eskew escrevem artigos de opinião para o The Washington Post. Na semana passada, as empresas de ambos anunciaram que estavam retirando sua representação pela Arábia Saudita. De acordo com Kristine Coratti Kelly, assessora de comunicação do jornal, não era permitido que eles continuassem escrevendo os artigos e fazendo lobby pela Arábia Saudita ao mesmo tempo.
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Separadamente, o dinheiro da Arábia Saudita e fundos de seu aliado próximi, os Emirados Árabes Unidos, também foram transferidos para think tanks em Washington, incluindo o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, a Brookings Institution e o Middle East Institute. Na semana passada, todas as três instituições disseram que estão rompendo ou reconsiderando os subsídios recebidos da Arábia Saudita.
"Um das certezas sobre a política externa alimentados em Washington é que os EUA e a Arábia Saudita têm uma relação especial e inquebrável", disse o senador Chris Murphy, democrata de Connecticut e principal crítico da guerra no Iêmen. "Pelo menos, todo mundo que é esperto e sabe sobre política externa, e entra em seu escritório, lhe diz isso. Mas, como se sabe, muitas dessas pessoas estão recebendo dinheiro do golfo".
Os principais beneficiários
Um dos maiores beneficiários do dinheiro saudita foi o Middle East Institute (MEI), que se considera "uma fonte imparcial de informações e análises sobre essa região crítica", o Oriente Médio. A organização é presidida por Richard Clarke, que ocupou altos cargos de segurança nacional durante as administrações dos presidentes Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bill Clinton.
Segundo informações públicas, o think tank recebeu entre US $ 1,25 milhão e US $ 4 milhões em financiamentos sauditas, entre 2016 e 2017. Em 2016, o MEI recebeu US $ 20 milhões dos Emirados Árabes Unidos para renovar sua sede. Os Emirados também apoiaram as alegações de inocência do governo saudita a respeito da morte do jornalista Khashoggi.
O instituto também tem outros laços com o reino saudita. Michael Petruzzello - que ‘entrou’ para o reino como cliente, após os ataques terroristas de 11 de setembro, e cuja empresa de comunicações Qorvis Communication relatou US $ 6,3 milhões em serviços de lobby dos sauditas em 2016 e 2017 - foi membro do conselho do MEI até o começo deste ano, de acordo com um porta-voz do instituto. E Jack Moore, diretor da subsidiária norte-americana da companhia de petróleo estatal saudita, está atualmente no conselho. Nem Petruzzello, nem Moore atenderam ao pedido de entrevista.
Scott Zuke, porta-voz do instituto, disse que deixa claro aos doadores que as instituições são independentes. "Não aceitamos nenhuma doação de um governo, indivíduo, corporação ou fundação que queira restringir nossa liberdade acadêmica", disse.
Lobby em alta a partir de 2016
No outono de 2016, o lobby pró-saudita em Washington teve de aumentar seus esforços após um grande revés: o sucesso de um projeto de lei promovido pelas famílias das vítimas do 11 de Setembro, conhecido como JASTA (Justice Against Sponsors of Terrorism Act, Justiça contra patrocinadores de atos terroristas), que lhes permitiu processar o governo saudita sobre seu suposto apoio aos ataques terroristas. Dos 19 sequestradores envolvidos no episódio, 15 eram cidadãos sauditas.
Ao aprovar a lei, o Congresso cancelou o veto de Barack Obama pela primeira vez em sua liderança, apesar dos argumentos dos funcionários do governo de que a medida poderia expor funcionários dos EUA a processos semelhantes no exterior.
O governo saudita, que negou qualquer vínculo com os atos terroristas do 11 de Setembro, continuou fazendo lobby contra a lei no início de 2017, promovendo emendas que os defensores dizem que a teriam destruído. Militares veteranos foram recrutados por consultores sauditas para dizer ao Congresso que a medida poderia levá-los a um possível litígio.
"Os sauditas são muito sujos em suas lutas", disse Terry Strada, uma das principais autoras do processo contra a Arábia Saudita e cujo marido foi morto no World Trade Center. "Os veteranos apareciam em Washington usando uma linguagem idêntica à fala dos sauditas. Eles achavam que as únicas pessoas que conseguiriam ir contra as famílias do 11 de Setembro e eram veteranos".
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Alguns dos veteranos, no entanto, não haviam sido informados de que os sauditas estavam apoiando suas visitas, de acordo com uma queixa apresentada por famílias das vítimas do 11 de Setembro ao Departamento de Justiça, no ano passado. Os veteranos ficaram no Trump International Hotel, uma das propriedades do presidente norte-americano, e o reino pagou a conta de US$ 270.000,00, revelaram registros de lobby. "É uma viagem incrível e, basicamente, como férias cinco estrelas", diz um convite enviado por email.
David Casler, um sargento aposentado que mora em Sacramento, disse que achava que um grupo sem fins lucrativos de veteranos estava pagando por sua estadia no hotel de Trump. Só depois que ele chegou a Washington descobriu que os sauditas estavam pagando a conta."Percebemos que éramos peões", disse Casler.
Petruzzello, que ajudou a organizar a campanha dos veteranos, não atendeu à tentativa de contato. No ano passado, ele disse ao Yahoo News que sua empresa seguiu as leis de lobby, e que as alegações de que os veteranos foram enganados "soam vazias para ele".
Trump forja ligações com aliados sauditas
Quando foi candidato à presidência, Trump chamou o veto de Obama de "vergonhoso" e "um dos pontos baixos de sua presidência". Mas ele e seu genro logo estavam forjando relações pessoais com importantes aliados sauditas e outros líderes do Oriente Médio. No início, as apresentações foram feitas em parte graças a Thomas J. Barrack Jr., um amigo de Trump há 30 anos que faz negócios no Oriente Médio e tem conexões pessoais com figuras poderosas na Arábia Saudita, Catar e Emirados Árabes Unidos. Barrack também se recusou a comentar sobre o assunto.
Em maio de 2016, Barrack apresentou Kushner a Yousef Al Otaiba, oinfluente embaixador dos Emirados Árabes Unidos nos Estados Unidos e importante aliado saudita, de acordo com uma testemunha. Barrack disse a Trump que conhecia outros líderes regionais, incluindo o emir do Catar, e teria comentado sobre a promessa de um poderoso príncipe saudita chamado Mohammed bin Salman.
Poucos meses após a posse de Trump, Kushner e Mohammed se encontraram pessoalmente pela primeira vez em um almoço no Regal State Dining Room da Casa Branca. Eles imediatamente se deram bem, trocando tantos telefonemas nas semanas seguintes que algumas autoridades de inteligência levantaram preocupações de que Kushner fosse um diplomata freelancer, relatou o Post.
Antes e após o visita do príncipe, o feed @ArabiaNow, do Twitter da embaixada - dirigido pela Qorvis Communication, de acordo com registros de lobby -, ofereceu uma visão bem positiva do reino rico em petróleo e seu papel no Iêmen.
Em 10 de março de 2017, a @ArabiaNow twittou: "A Arábia Saudita intensifica sua assistência para cuidar de doentes e feridos no Iêmen", vinculada a um post que detalhava a assistência humanitária liderada pela Arábia Saudita - afirmações que ativistas de direitos humanos rejeitam como propaganda.
Na mesma época, um dos rivais de Mohammed estava buscando uma oportunidade para a administração. Em maio de 2017, o Ministério do Interior da Arábia Saudita - na época, liderado por Mohammed bin Nayef, o próximo na fila para o trono - pagou US$ 5,4 milhões para uma empresa liderada por um conselheiro da campanha Trump e proprietário da vinícola Oregon, Robert Stryk, segundo arquivos públicos.
Apenas um mês depois, quando Mohammed foi promovido pelo rei Salman, o acordo terminou abruptamente, devido à "mudança de regime na Arábia Saudita", segundo documentos de lobby arquivados por Stryk, que também se recusou a comentar.
Poucos meses depois do almoço na Casa Branca, Kushner persuadiu Trump a escolher a Arábia Saudita como seu primeiro destino de viagem ao exterior. Outros funcionários do governo contrariaram a escolha, informou o Post.
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Funcionários da Casa Branca se recusaram a comentar, exceto para se referir a uma entrevista que Trump deu ao The Post, na qual ele minimizou o relacionamento de Kushner com o príncipe herdeiro. “Jared não faz negócios com a Arábia Saudita. Eles são dois jovens. Jared não o conhece bem, e não é nada disso. Eles são apenas dois jovens, que têm a mesma idade, e gostam um do outro, eu acredito”, disse o líder.
O príncipe herdeiro não era o único oficial saudita que fazia rondas em Washington. Na cidade, na mesma semana, Assiri - o funcionário da inteligência saudita demitido após o assassinato de Khashoggi - disse a repórteres que o governo Trump prometeu aumentar a divisão de inteligência e a defesa dos EUA.
Dias depois, Assiri escreveu um artigo publicado na Fox News.com que saudava a importância da parceria EUA-Arábia Saudita na luta contra o terrorismo. O artigo de Assiri foi registrado no congresso pelo deputado da Califórnia Edward Royce, também presidente republicano do Comitê de Relações Exteriores da Câmara.
Royce elogiou "o apoio do general Assiri à partilha de informações" e observou que "a relação entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita é fundamental para a luta contra o terror".
Foi pelo menos o segundo balanço de Washington feito por Assiri, que também se encontrou com repórteres em maio de 2016 para discutir a guerra no Iêmen. Durante essa visita, Assiri foi convidado pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais para debater sobre questões de direitos humanos no Iêmen, de acordo com o think tank.
Máquina reforçada para visita real
Em março, diante da proximidade da visita do príncipe e da votação sobre o Iêmen, a máquina dos sauditas em Washington entrou em ação. O embaixador estabeleceu um cronograma e uma lista de cidades, além de ter feito sugestões sobre pessoas importantes que Mohammed deveria encontrar.
Coleman descreveu a reunião como uma sessão de planejamento de rotina. Mottur confirmou que ele e Lampkin estavam presentes em nome de sua firma Brownstein Hyatt Farber Schreck. Lampkin não retornou a um pedido de comentário.
Durante as sete semanas que antecederam a visita do príncipe herdeiro e o voto de resolução do Iêmen, os lobistas relataram 759 contatos com membros do Congresso, funcionários, acadêmicos e repórteres em nome do governo saudita, de acordo com registros públicos.
O reino enfrentou um trio incomum entre os dois partidos: Murphy, Lee e o independente Bernie Sanders, que, juntos, lutaram para acabar com o envolvimento americano no Iêmen.
Os Estados Unidos se aliaram à coalizão liderada pela Arábia Saudita em uma guerra civil contra os rebeldes Houthi, apoiados pelo Irã, argumentando que a campanha militar é uma ação necessária na luta contra o terrorismo.
"As pessoas parecem ter dificuldade em acreditar no que acontece no Iêmen. Os sauditas estão claramente bombardeando civis, repetidas vezes, e as pessoas não querem acreditar, o que revela o quão poderosas são suas relações em Washington”, disse Murphy, um crítico de guerra aérea.
Andrea Prasow, vice-diretora da Human Rights Watch em Washington, lembrou de ter conversado com um importante assessor do Congresso sobre as mortes de civis no Iêmen, e percebeu que o assessor recebia simultaneamente textos de Otaiba, o bem-informado embaixador dos Emirados Árabes Unidos.
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No dia da votação, em 20 de março, o secretário da Defesa, Jim Mattis, fez uma rara aparição nos almoços das prévias democratas e republicanas no Senado, apelando ao Congresso para não aprovar a resolução, disseram funcionários. "Eles chamaram as grandes armas", disse um dos principais assessores do Senado. A resolução não conseguiu avançar por 44 votos a 55.
No mesmo dia, o príncipe saudita chegou a Washington, dando início a uma visita de três semanas em que se encontrou com a magnata do entretenimento Oprah Winfrey, com o fundador da Microsoft, Bill Gates, e o CEO da Amazon, Jeff Bezos, também dono do The Washington Post.
Sua chegada foi recebida com um artigo no site do Middle East Institut, escrito por Fahad Nazer, identificado como um colaborador convidado, que escreveu: "Os EUA e o Ocidente devem tomar conhecimento das mudanças sociais que estão ocorrendo na Arábia Saudita e apoiar o príncipe herdeiro”.
Um link do nome da Nazer direciona o leitor para uma pequena biografia descrevendo-o como "colunista do jornal saudita Arab News e consultor político da Embaixada da Arábia Saudita em Washington”. "As opiniões que ele expressa são estritamente suas", diz a página.
Nazer recebeu US$ 91 mil em honorários de consultoria do reino em 2017,segundo arquivos. Ele disse ao Post que não faz lobby na administração ou no Congresso e que ele seguiu todas as leis referentes ao seu trabalho de consultoria para a embaixada.
Zuke, o porta-voz da MEI, disse que publica artigos expressando pontos de vista diferentes.
Mudança de rumo
Agora, muitas instituições estão repensando suas conexões com a Arábia Saudita após a morte de Khashoggi, que as autoridades turcas concluíram que foi deliberadamente alvo de um grupo de 15 agentes sauditas que o mataram e desmembraram dentro da embaixada.
"Para think tanks, assim como universidades e museus, receber dinheiro saudita terá consequências por algum tempo", disse Daniel Benjamin, diretor do Centro John Sloan Dickey da Universidade de Dartmouth, que trabalhou na Brookings e no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CEEI).
Na sexta-feira, o CEEI disse que não irá prosseguir com as doações feitas de US $ 900 mil do governo saudita para fornecer treinamento em desenvolvimento de habilidades para sua embaixada em Washington.
"inda acreditamos que os Estados Unidos têm interesse em manter um relacionamento bilateral com a Arábia Saudita", disse o porta-voz do CEEI, H. Andrew Schwartz, por e-mail.
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"Muito do que os EUA querem alcançar no Oriente Médio se torna mais difícil sem esse relacionamento. Neste momento, porém, dadas as circunstâncias que cercam o assassinato de Khashoggi, o instituto decidiu reavaliar seu relacionamento com o reino saudita".
Da mesma forma, a Brookings Institution disse ao BuzzFeed, na semana passada, que estava rompendo com a única concessão de pesquisa que recebia dos sauditas - uma quantia de seis dígitos "para fornecer uma análise e avaliação do setor de think tanks saudita".
Na semana passada, o Middle East Institute pediu às autoridades sauditas que "ajam rapidamente para revelar a verdade sobre o que aconteceu com Khashoggi e responsabilizar os responsáveis”.
O think tank disse que diminuiria o financiamento saudita - mas "manterá o assunto sob revisão ativa enquanto aguarda o resultado da investigação".