Agentes da Patrulha da Fronteira resgatam imigrantes ilegais que estavam sendo transferidos de esconderijo por contrabandistas| Foto: TODD HEISLER/NYT

Recentemente, um policial que fazia uma patrulha de rotina foi abordado por seis homens que acenaram freneticamente para que ele parasse. Os homens, todos imigrantes ilegaus, contaram uma história angustiante. 

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 Com a ajuda de traficantes de pessoas, eles haviam cruzado o Rio Grande alguns dias antes. Depois de serem transportados de uma casa para a outra, acabaram em um trailer no centro de Laredo, uma cidade de 250 mil habitantes, na maioria latinos, ao longo da fronteira com o México. Incapazes de pagar a quantia exigida pela passagem aos contrabandistas, os homens foram ameaçados e trancados na casa sem comida ou água. Eles chutaram uma janela na parte de trás para escapar. 

 Horas depois, quando um esquadrão formado por agentes da Patrulha da Fronteira dos EUA e policiais locais invadiu o local, encontraram um homem. Ele disse que estava esperando para ser levado ao seu próximo destino já que tinha dado a primeira parcela do valor aos contrabandistas – US$2.500. Ele iria pagar mais US$3.500 quando estivesse na estrada. 

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 Essas cobranças são parte de um negócio de contrabando humano ao longo da fronteira Sudoeste com o México, que arrecada cerca de US$500 milhões por ano. Os esconderijos, como o trailer de Laredo, estão no centro de uma cadeia de tráfico que ajuda as pessoas a atravessar a fronteira e entrar nos Estados Unidos. 

 Nos últimos dois anos, as autoridades invadiram cerca de 200 casas em Laredo. Quase 1.300 imigrantes – a grande maioria pobre e desesperada – foram removidos dos esconderijos e presos, de acordo com a Patrulha de Fronteira e o departamento de Investigações de Segurança Interna, uma divisão do Serviço de Imigração e Controle de Alfândega. 

 "Estes são apenas os que encontramos", diz Timothy J. Tubbs, vice-agente especial encarregado das investigações de segurança interna na região. 

Laredo é um local estratégico

 Cercada por uma extensão plana de arbustos e cactos, Laredo abriga o maior porto de entrada terrestre dos Estados Unidos, com mais de 2milhões de caminhões atravessando todos os anos. É também a maior fronteira para bens comercializados entre os Estados Unidos e o México. Mais de US$ 557 bilhões em importações e exportações passam pela cidade a cada ano, segundi a Corporação de Desenvolvimento Econômico de Laredo. 

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 A cidade também serve como terminal sul da Rodovia Interestadual 35, que corta o centro dos EUA em seu caminho para o Minnesota (Norte dos EUA), conectando-se a outras grandes estradas interestaduais – o que a torna um ponto de entrada ideal para os contrabandistas. 

 Os esconderijos são pontos essenciais nessas rotas de tráfico – que o prefeito de Laredo, Pete Saenz, chama de mancha escura da cidade. 

 "É perturbador e ilegal. Eles colocam em risco não apenas a vida das pessoas nesses esconderijos, mas também a vida daqueles que estão ao redor", afirma Saenz. 

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 O acúmulo de milhares de agentes de fronteira, quilômetros de cercas, sensores de alta tecnologia e postos de controle de imigração nos governos dos presidentes George W. Bush e Barack Obama – que agora está no centro da repressão de Trump à imigração – forçou os imigrantes, desesperados para escapar da violência em seus países, a procurar contrabandistas para entrar nos Estados Unidos. Os próprios traficantes são reféns financeiros dos cartéis de drogas que lhes cobram milhares de dólares para operar em seu território. 

 Uma casa secreta pode ser qualquer tipo de domicílio, em qualquer lugar. Em Laredo, elas foram encontradas em bairros populares e de baixa renda e também em algumas áreas mais prósperas. Incluíram até um motel ao lado de uma estação de patrulha de fronteira. 

 "Você pode andar em um bairro onde as crianças estão brincando nas ruas, e é capaz haver uma casa dessas ao lado", explica Jason D. Owens, chefe interino do setor de Patrulha de Fronteira de Laredo, cujo escritório mapeou esconderijos que autoridades federais e locais invadiram. "Elas são literalmente pontos de armazenamento de seres humanos – como se eles fossem pacotes para serem enviados." 

 Como funciona o esquema

O mapa da agência também mostra esses esconderijos no México. Mas, nas ruas da cidade fronteiriça de Nuevo Laredo, poucas pessoas estavam dispostas a falar sobre o assunto. As tropas que patrulhavam as ruas também se recusaram a comentar. 

 Dezenas de milhares de casas, hotéis e outros edifícios são usados como esconderijos, estendendo-se da fronteira até dentro dos Estados Unidos. Eles abrigam os migrantes até que os contrabandistas possam providenciar um meio de transporte – geralmente a parte de trás dos caminhões de reboque, onde as pessoas não podem ser imediatamente detectadas – através dos postos de controle da Patrulha de Fronteira. 

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 Os migrantes são então entregues em outra casa, onde são mantidos por traficantes que exigem mais dinheiro antes de levá-los ao seu próximo destino. 

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Os migrantes que não podem pagar são ameaçados e, em muitos casos, agredidos. Algumas mulheres foram estupradas, de acordo com registros do tribunal dos EUA, entrevistas com agentes da lei e declarações de imigrantes não autorizados. Os migrantes também ficam vulneráveis às chamadas gangues de extração, que os sequestram dos esconderijos de um grupo rival de contrabandistas e os extorquem, ou a suas famílias, por dinheiro, segundo documentos do tribunal dos EUA e registros do serviço de Investigações de Segurança Interna. 

 Os esconderijos geralmente não têm água corrente ou ar-condicionado. Até 100 pessoas são amontoadas em uma única casa, esperando que os contrabandistas as levem de lá. "As condições são terríveis. Você nunca sabe o que vai encontrar quando entra em um esconderijo", afirma Owens. 

 Registros que autoridades dos EUA descobriram que várias casas mostram que um operador típico recebe cerca de US$ 500 por semana. Alguns são imigrantes não autorizados, que as administram por um desconto em seus próprios pagamentos aos contrabandistas. Geralmente, são necessárias duas pessoas para gerenciar uma casa – alimentar os migrantes, coletar o dinheiro e providenciar transporte. 

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 Problema crônico

Os esconderijos se tornaram um problema tão grande que o Estado do Texas abriu uma linha direta para o público passar informações sobre eles por uma recompensa de até US$2.500. No âmbito da Operation Crackdown – um programa dirigido pela Guarda Nacional do Estado, a cidade de Laredo e a Patrulha da Fronteira –, as casas são demolidas para impedir que sejam usadas no futuro. 

 "Estamos tentando privar o elemento criminoso de sua capacidade de explorar esses edifícios", disse Owens durante uma cerimônia para demolir uma casa antiga em frente a uma escola primária. 

 Ele conta que a unidade de inteligência da Patrulha da Fronteira, junto com as autoridades locais e com outras agências dos EUA, encontraram dezenas de esconderijos a partir de entrevistas com migrantes, de dicas de vizinhos e da vigilância de agentes secretos. 

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 Mesmo assim, Owens admite que a aplicação da lei muitas vezes está um passo atrás dos contrabandistas, que frequentemente vão de casa em casa para fugir das autoridades. 

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 Mesmo assim, a melhor chance de pegar os contrabandistas, em geral, é na hora em que estão movendo os migrantes entre os esconderijos. 

 Owens afirma que não tem a menor ilusão de que a repressão vá impedir que os proprietários e outras pessoas aluguem casas para contrabandistas de imigrantes. Nem vai parar o contrabando em si. "Mas não ter as casas aumenta o risco de ser pego. Queremos dificultar o máximo possível para eles operarem e colocarem vidas em perigo", diz Owens. 

 

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