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Militares ucranianos descansam em uma trincheira na área de Donetsk, atingida por bombas de fragmentação após o início da guerra
Militares ucranianos descansam em uma trincheira na área de Donetsk, atingida por bombas de fragmentação após o início da guerra| Foto: EFE/EPA/ANATOLII STEPANOV

Há 15 anos, a Rússia testava pela primeira vez em seu território o uso do armamento que seria conhecido como o “pai de todas as bombas”. Em 2007, o país conseguiu gerar uma explosão equivalente a uma bomba convencional de 44 toneladas: trata-se, portanto, do maior dispositivo explosivo não nuclear do mundo.

Não à toa, as bombas termobáricas, ou bombas à vácuo foram condenadas pela comunidade internacional. Agora, a embaixadora da Ucrânia nos Estados Unidos, Oksana Markanova, e outras entidades internacionais acusam as forças russas de utilizar esta tecnologia de altíssima letalidade na Ucrânia.

Na última terça-feira (1), Markanova fez a denúncia a repórteres após reunião com membros do Congresso dos Estados Unidos. "Eles usaram a bomba a vácuo hoje", disse. "A devastação que a Rússia está tentando infligir à Ucrânia é grande". Também foram relatados avistamentos de lançadores de foguetes termobáricos na Ucrânia nos últimos dias.

"Crime de guerra sobre trilhos"

Compostos por um combustível altamente volátil, as bombas termobáricas explodem em duas etapas, produzindo um efeito que se parece com um borrifador.

Ao ser detonada, a bomba sofre uma explosão menor, que evapora rapidamente e é capaz de penetrar em edifícios, trincheiras, porões, bunkers e cavernas. O resultado desta fase é um efeito de vácuo que suga todo o ar do nível do solo e o lança para cima em uma enorme nuvem de cogumelo. Foi a identificação de nuvens deste tipo que acendeu as suspeitas do uso destas bombas na Ucrânia.

Em seguida, um segundo explosivo é acionado, composto por minúsculos grãos metálicos. Em menos de um segundo, essas partículas se inflamam e queimam em temperaturas que chegam a 3 mil graus Celsius — o equivalente às regiões mais "frias" do Sol —, criando uma bola de fogo e produzindo pressões enormes de ar.

O efeito de compressão e detonação pode ser altamente prejudicial às estruturas, mas a principal razão pela qual as explosões termobáricas são tão destrutivas é a onda de pressão externa prolongada, muito mais perigosa do que o choque “breve” produzido por explosivos comuns.

Além disso, esses armamentos causam lesões diferentes nos atingidos: podem esmagar as vítimas mais próximas até a morte, quebrando ossos e dividindo órgãos internos, ou sugando todo o ar dos pulmões e destruindo estruturas delicadas do órgão, sem deixar sem sinais de danos externos.

“A Rússia tem um histórico de uso de termobáricos contra cidades e vilas na Síria, causando danos civis generalizados”, diz o consultor Marc Garlasco, em entrevista ao site da revista britânica New Scientist. Garlasco explica que os tratados internacionais de direitos humanos preveem que estas armas só podem ser utilizadas contra alvos militares distintos e de forma que o dano seja proporcional ao ganho militar.

Imagens postadas por civis ucranianos indicam que a Rússia teria instalado o TOS-1 Buratino, um veículo equipado com 24 foguetes com ogivas termobáricas. Uma salva de um único TOS-1 cobre uma área de 200 por 300 metros. “É difícil entender como o TOS-1 pode ser usado legalmente em uma cidade”, diz o especialista, que chama o veículo de “um crime de guerra sobre trilhos”.

As primeiras bombas termobáricas surgiram na Segunda Guerra Mundial, inicialmente utilizadas pelos alemães. Foram aperfeiçoadas na década de 1960, por ocasião da Guerra do Vietnã e, em 2001, foram utilizadas novamente pelos Estados Unidos para combater as forças da Al-Qaeda, no Afeganistão. A Rússia também lançou mão destes armamentos na guerra na Chechênia, em 1999, além de fornecer o material para o regime de Bashar al-Assad, na Síria.

"Clusters" ou bombas de fragmentação

Ocorre que, além deste tipo de munição, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch denunciaram o uso de bombas de fragmentação - outro armamento condenado pela comunidade internacional – em solo ucraniano.

Ambas as organizações alegam que as forças russas utilizaram estas munições para atacar uma pré-escola no nordeste da Ucrânia e um hospital na região de Donetsk. Imagens gravadas em um ataque russo em Kharkiv também mostram explosões típicas desse tipo de arma.

Ao contrário das bombas termobáricas, as bombas de fragmentaçao explodem em um único impulso e se dividem em submunições que, em tese, são detonadas no momento do impacto. Como consequência, este tipo de artefato deixa um grande número de vítimas, uma vez que estas partes menores se espalham para todos os lados em grande velocidade, ao invés de atingir um alvo específico.

O problema é que boa parte das submunições não explode no momento do ataque e podem dicar "adormecidas" durante longos anos após o fim da guerra, transformando o território em um campo minado.

Por conta da alta letalidade destes "clusters", em 30 de maio de 2008, em Dublin, na Irlanda, mais de 100 países assinaram um tratado internacional que proíbe o uso dessas bombas em conflitos militares. A Rússia, os Estados Unidos e o Brasil não fazem parte dos signatários. Ainda assim, caso o uso destes materiais em áreas civis seja confirmado, o país responsável pode ser investigado por crime de guerra.

Também desenvolvidas durante a Segunda Guerra e utilizadas maciçamente no Vietnã, as bombas de fragmentação foram amplamente utilizados por Israel contra o Hezbollah, no Líbano, o que deu força às campanhas pela proibição. Para justificar a recusa em assinar o acordo, os Estados Unidos afirmaram, em 2008, que o uso destas munições "faz parte de sua estratégia de guerra".

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