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"Censura generalizada"

Como jornais internacionais estão retratando as manifestações no Brasil

Tucker Carlson fala do Brasil
Tucker Carlson, âncora da Fox News, emissora americana de direita, menciona protestos e censura no Brasil. (Foto: Reprodução / YouTube / Fox News)

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A imprensa internacional tem dado atenção às manifestações dos eleitores inconformados com a derrota do presidente Jair Bolsonaro nas urnas e vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, resultado anunciado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e reconhecido por parte da base de apoio de Bolsonaro. A Sky News, com linha editorial de centro (veja mais abaixo sobre a classificação do viés político de cada publicação), destacou com imagens milhares de manifestantes nas ruas de São Paulo. “Eles estão chamando por uma intervenção”, diz o canal, fechando a imagem em um cartaz de uma manifestante, “basicamente, querem um golpe militar. Odeiam as políticas de esquerda de Lula da Silva e querem que ele saia a qualquer custo”.

A NBC News, de esquerda moderada, disse que os manifestantes “não aceitam sua derrota apertada, mas decisiva”. Para a publicação, que mencionou atrasos em voos e más consequências econômicas dos cerca de 150 bloqueios de ruas e estradas, “Bolsonaro ficou em silêncio enquanto seus apoiadores ficaram mais barulhentos”.

A Al Jazeera em inglês, publicação de centro ligada ao governo do Catar, entrevistou um eleitor que disse “queremos um terceiro turno, não daremos o país para um ladrão para nos tornarmos a Venezuela, ele foi condenado à prisão e libertado por um amigo”. Uma repórter da publicação esteve no local de um dos bloqueios próximos de Brasília no início da semana passada, que foi desbaratado com gás lacrimogêneo. “O silêncio do presidente só aumenta as tensões”, disse ela. Lula é mostrado durante a visita do presidente da Argentina Alberto Fernández. Outra reportagem da Al Jazeera relata o incidente em que uma pessoa avançou com o carro sobre aos manifestantes, “ferindo sete pessoas, incluindo dois policiais rodoviários federais”. A reportagem fecha dizendo que “Bolsonaro fez um apelo público pela paz”.

O famoso âncora da publicaçãoamericana de direita Fox News, Tucker Carlson, fez um editorial em que comparou a retórica de “ameaça à democracia” da esquerda brasileira com a esquerda americana, prestes a disputar as eleições de meio de mandato nos EUA. “Se você se importa com a democracia, se pensa que o procedimento é essencial”, diz Carlson, “então você investiga essas alegações [de fraude]. Qualquer coisa menos que isso não é democracia”.

Para a Fox News, nas palavras do âncora, “você não tem permissão para fazer perguntas sobre essa eleição no Brasil, e não tem permissão porque o governo Biden não quer. O YouTube, que funcionou nos últimos anos como um braço do governo Biden, anunciou que está censurando qualquer publicação no Brasil que questione os resultados”. Mencionando Alexandre de Moraes sem citar seu nome, Carlson estranhou “censura generalizada, em uma ‘democracia’, impedindo pessoas de fazer perguntas sobre como funciona a ‘democracia’”, e comentou que Bolsonaro era o único que desafiava a hegemonia da China na América do Sul.

“As demonstrações estão enfraquecendo” desde as manifestações de Bolsonaro, noticiou a ABC News da Austrália, de linha moderada de esquerda. “Havia muita preocupação que o sr. Bolsonaro desafiaria os resultados, mas ele autorizou o início da transição”.

Como pendeu a cobertura de acordo com vieses das publicações

Para saber o viés de diferentes publicações e de coberturas, há pouco método além da observação direta. Mas o comparador de notícias Ground News, fundado em 2017 pela canadense Harleen Kaur Jolly, promete mudar o rigor dessa avaliação. Ele usa uma média da classificação de três organizações de monitoramento da imprensa independentes: All Sides, Ad Fontes Media e Media Bias Fact Check. Essa média dá um índice de viés editorial para cada publicação, que então é classificada em sete categorias, da extrema-esquerda ao centro e à extrema-direita. Assim, o agregador também classifica se a cobertura de uma determinada pauta foi dominada pela esquerda, pelo centro ou pela direita.

O Ground News também classifica publicações de acordo com um índice de “factualidade”, que leva em conta, por exemplo, a rapidez na correção de erros. O índice leva a três categorias: factualidade baixa, mista ou alta. Jornais brasileiros como a Gazeta do Povo estão listados, mas não classificados nos índices. Logo, as classificações valem para a imprensa internacional, especialmente a falante do inglês.

O agregador mostra que o maior interesse em cobrir notícias sobre Jair Bolsonaro está na esquerda, com 47% da cobertura, seguida pelo centro, com 30%, e por fontes de direita, com 22%. A cobertura de pautas sobre Lula também tem maioria de jornais de esquerda (45%), mas o interesse das publicações de direita também é maior, com 33% da cobertura. O centro se interessa menos, com 22%. Em comparação, a notícia da transição de governos foi coberta na maior parte por veículos de centro, com 53% da cobertura.

A notícia do pedido de Bolsonaro para que os manifestantes liberassem as vias teve cobertura predominante de 13 publicações de centro como BBC, Reuters e South China Morning Post (um jornal de Hong Kong). Oito publicações de esquerda e oito de direita cobriram. Com 60 fontes ao todo, cerca de metade delas foi classificada de acordo com o índice de viés. O site de esquerda The Daily Beast e o jornal de direita The Epoch Times foram as publicações mais polarizadas nessa cobertura.

Uma das notícias com o maior desequilíbrio político de cobertura tratou de Bolsonaro não ter participado da cerimônia do 7 de setembro no Congresso. Somente 7% das fontes eram de direita, 53% eram de esquerda. Por essa razão, o comparador de notícias alerta para um “ponto cego” nessa cobertura.

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