A decisão de os Estados Unidos saírem do Afeganistão pode resultar em consequências que vão além da vida quotidiana do povo afegão. A retirada precipitada das tropas que gerou um avanço rápido do Talibã sobre a capital Cabul e a consequente confusão para retirada de civis do aeroporto da cidade, somada ao ataque terrorista que vitimou até agora 170 pessoas entre civis e militares prepararam um cenário para uma crise de confiança nos Estados Unidos entre seus parceiros da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a OTAN.
Isso num momento que a China tem-se revelado como o principal rival dos EUA na geopolítica mundial.
Biden anunciou em abril que iria retirar as tropas norte-americanas do Afeganistão. Isso foi visto pelos aliados da OTAN mais como um fato consumado do que uma decisão tomada em conjunto.
Essa decisão minou a divisa do grupo “todos dentro, todos fora” e deixou os europeus sem alternativa a não ser partir.
Tom Tugendhat, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento Britânico teceu críticas ao comportamento americano em matéria do New York Times: “a súbita retirada do Afeganistão após 20 anos e tanto investimento em vidas e esforços fará com que aliados e potenciais aliados ao redor do mundo se perguntem se eles têm de decidir entre democracias e autocracias, e perceber que algumas democracias não têm mais poder de sustentação”.
Antes, “todos sabiam que dependeriam dos Estados Unidos para defender e apoiar o mundo livre”, completou ele.
Agora, muitos países europeus temem que a retirada do Afeganistão tenha efeitos desestabilizadores que afetam diretamente seus interesses de segurança.
Europeus temem prejuízos
O continente teme um fluxo imigratório desordenado como o que ocorreu durante a guerra da Síria. Líderes europeus até já se organizam para pressionar os países vizinhos da Ásia para acolherem os refugiados afegãos.
Além disso, a proximidade geográfica torna o continente europeu lugar preferencial para ataques terroristas de eventuais grupos extremistas islâmicos que possam florescer em meio ao vácuo de poder no Afeganistão.
Os europeus criticam que a decisão do presidente americano foi mais motivada por questões de política interna do que por necessidade efetiva de segurança internacional.
O ex-premiê britânico Tony Blair chegou a afirmar que Biden agiu “em obediência a um slogan político imbecil sobre acabar com ‘as guerras eternas’.”
Outra questão agravante foi a lentidão com a qual Biden respondeu às chamadas de líderes da OTAN. Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido, principal aliado histórico dos EUA, demorou 36 horas até conseguir conversar com o presidente americano sobre a crise.
Futuro da OTAN
Quando as questões mais críticas do Afeganistão estiverem resolvidas, certamente esse fatores pesarão numa possível queda de braço com a China ou Rússia.
Por outro lado, uma reportagem do Centro para Estratégia e Estudos Internacionais mostra que a crise gerada pelo Afeganistão também pode servir de alerta para uma reorganização da atuação das forças militares ocidentais.
Uma reforma que já vinha sendo defendida nos dois lados do Atlântico.
Do lado europeu, começa-se a procurar alternativas para a necessidade de contar com apoio dos Estados Unidos no suporte material das operações militares.
Isso se reflete num aumento gradativo dos orçamentos de defesa europeu desde 2015 (com aumento de 1,7% em relação ao PIB) chegando a um aumento de 4,6% do PIB em 2019.
O artigo ressalta contudo que há um longo caminho para uma possível autonomia europeia.
Mesmo assim, os aliados dos Estados Unidos não têm interesse em abandonar seu velho parceiro, sobretudo num cenário de recuperação pós-pandemia, quando Rússia e China estão prontos para fazer sua influência econômico-política crescer no mundo.
Esse cenário mostra que, apesar da crise, o enfrentamento dos desafios pelo Ocidente na próxima década passa por uma reforma da OTAN.
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