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Título 42

Como o fim de uma medida sanitária da pandemia gera temor de agravamento da crise migratória nos EUA

Migrantes fazem fila para tentar conseguir abrigo na Igreja do Sagrado Coração em El Paso, Texas, na terça-feira (20) (Foto: EFE/EPA/ALLISON DINNER)

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O Título 42 se tornou o ponto principal do debate sobre imigração ilegal nos Estados Unidos, que neste ano atingiu seu recorde.

Trata-se de uma medida imposta pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) em 2020, durante a pandemia de Covid-19 e o mandato do ex-presidente Donald Trump, e que continuou em vigor na gestão do seu sucessor, Joe Biden.

Essa medida permite que os Estados Unidos expulsem automaticamente a maioria dos imigrantes ilegais que chegam à sua fronteira sul, sem lhes dar a oportunidade de solicitar asilo, sob o argumento de evitar a disseminação da Covid-19 em instalações de detenção.

Em abril, as autoridades de saúde americanas apontaram que o Título 42 não era mais necessário do ponto de vista de evitar a propagação da doença, e em novembro um juiz federal decidiu que a medida deveria ser revogada nesta quarta-feira (21).

Entretanto, procuradores-gerais de 19 estados americanos governados pelo Partido Republicano intervieram e pediram que a medida permanecesse em vigor, alegando que a falta de políticas migratórias do governo Biden criou um caos humanitário no sul dos Estados Unidos e em outros estados e que o fim do Título 42 poderia agravá-lo.

Diante desse pedido, a Suprema Corte dos Estados Unidos manteve temporariamente o Título 42 na segunda-feira (19) e informou que tomaria uma decisão sobre a vigência dele após manifestações das partes envolvidas, enquanto o caso segue tramitando em instâncias inferiores.

Em argumentação enviada ao Supremo americano na terça-feira (20), a gestão Biden concordou que a manutenção do Título 42 não faz mais sentido devido à posição do CDC de que ele não é mais válido do ponto de vista sanitário. Entretanto, o governo pediu que a medida permaneça em vigor até a próxima terça-feira (27), para que consiga se adaptar à mudança.

“Essa breve continuação da vigência permitiria que o governo se preparasse novamente para um retorno total às operações sob o Título 8 [norma que regula imigração e solicitações de asilo], com novas políticas adaptadas às consequências do fim das regras do Título 42 – um esforço complexo de várias agências com dimensões políticas, operacionais e de relações exteriores que foram suspensas ou parcialmente desfeitas à luz da vigência administrativa [da medida de 2020]”, justificou o governo.

Recorde

Na terça-feira, o governo do Tennessee relatou que foi informado que a autoridade migratória dos Estados Unidos planeja libertar no estado imigrantes adultos solteiros enquanto aguardam processo judicial.

“Já temos uma crise de segurança nacional na nossa fronteira e a tentativa do governo Biden de revogar o Título 42 apenas incentivará mais travessias ilegais. Não é compassivo perpetuar um problema que leva a mais exploração e tráfico”, disse o governador Bill Lee.

“Sete mil pessoas entram ilegalmente no nosso país todos os dias. Esta crise é grande demais para ser ignorada, e a única maneira de pará-la é proteger a fronteira. Colocar o ônus nos estados não é a solução, e não devemos arcar com o peso das falhas do governo federal”, complementou Lee, que disse estudar medidas judiciais contra a administração Biden.

A prefeitura da cidade de El Paso, no Texas, que faz fronteira com Ciudad Juárez, no México, anunciou que manteria o estado de emergência mesmo após a Suprema Corte manter temporariamente o Título 42. “Continuaremos procedendo como se o Título 42 tivesse sido suspenso”, disse o prefeito Oscar Leeser.

Na segunda-feira, o governo do Texas mandou ônibus com migrantes para Nova York e Chicago, repetindo o que o estado e também a Flórida haviam feito nos meses anteriores para pressionar redutos democratas.

As cidades de San Luis, no Arizona, e Denver, no Colorado, também declararam estado de emergência devido à chegada massiva de imigrantes nos últimos dias.

No último ano fiscal (1º de outubro de 2021 a 30 de setembro deste ano), os Estados Unidos registraram um recorde no número de flagrantes de migração ilegal na fronteira sul, com 2,7 milhões de registros. A maior marca anterior era de 1,9 milhão de casos, no ano fiscal de 2021.

O aumento da migração de pessoas de Cuba, Nicarágua e Venezuela, países que vivem graves crises políticas e econômicas, foi uma das principais razões para o recorde registrado em 2022, mas a crise humanitária no Haiti e a de segurança em El Salvador, Guatemala e Honduras (ainda que a participação geral da América Central nos fluxos migratórios totais para os Estados Unidos tenha diminuído, a migração a partir dessa região retornou a níveis pré-pandêmicos, segundo o think tank Council on Foreign Relations) também contribuíram.

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