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Os Estados Unidos, herdeiros do domínio marítimo da Inglaterra, aproveitam a guerra na Ucrânia para afastar, ainda mais, a Europa da Rússia e da China.
Com fortes sanções dos ocidentais ao país comandado por Vladimir Putin e tendo a OTAN com uma missão cada vez mais clara contra os países antidemocráticos, incluindo a China, os americanos pretendem dominar o rico mercado europeu.
Os chineses formam a maior população mundial e são os maiores exportadores de mercadorias do planeta, fazendo da China a grande adversária dos americanos em uma Guerra Fria 2.0. Essa realidade justifica os recentes conflitos em Taiwan, a maior exportadora de chips para a internet 5G.
Ao mesmo tempo, a Rússia, antiga União Soviética (URSS), depois da invasão à Ucrânia, ajuda a fortalecer, mais uma vez, as diferenças ideológicas entre ocidentais e orientais.
EUA x Rússia: a corrida pelo coração do mundo
A União Soviética, que incluía a Rússia e vários países vizinhos até a queda do Muro de Berlim, em 1989, e a dissolução da URSS em 1991, tinha mais de 22 milhões de metros quadrados. Hoje, apesar da perda territorial, a Rússia ainda é o maior país do mundo em extensão, tem mais de 17 milhões de metros quadrados, além de possuir, ao mesmo tempo, saída para o mar e ampla estrutura terrestre para ferrovias.
Essas características russas estavam na lista do que passou a ser considerado, no começo do século 20, como o "coração da terra" (Heartland, no termo em inglês), pelo geógrafo britânico John Mackinder. O coração do mundo seria esse lugar com saídas para o mar, mas também com estrutura ferroviária em saídas pela terra, recursos naturais e boas áreas para a agricultura.
Para Mackinder, o modelo de dominância dos britânicos - semelhante ao dos americanos na época - através do oceano estava com os dias contados e quem dominasse o Heartland controlaria o mundo. O conceito dele influenciou importantes episódios históricos e ainda pode ser encontrado em movimentos geopolíticos contemporâneos.
Mackinder inspirou autoridades de diferentes ideologias. Através dele, por exemplo, o diplomata americano George Kennan incentivou o então presidente do país, Harry Truman, em 1947, a conter a União Soviética e a expansão comunista.
Se a Rússia tivesse se unido à Alemanha no século 20, haveria grandes chances de se tornarem juntas essa potência mundial. Se mais países da Europa fossem alinhados, conectando geograficamente a Rússia e a China, na Eurásia, seria criado um gigante inimigo imbatível para os americanos.
Os livros de História dizem que a Guerra Fria acabou com a dissolução da União Soviética em 1991, mas hoje temos certeza de que ela só estava latente, até a invasão russa à Ucrânia.
EUA x China: a corrida tecnológica e comercial
É evidente que, para além do conceito de Mackinder, hoje o coração da terra ganharia muito com a capacidade comercial da China. "Os chineses potencializaram ao máximo a lógica dos ingleses do século 18, de que manda no mundo quem controla o comércio. O atravessador ganha mais do que o produtor e do que o vendedor", diz o professor de Relações Internacionais e cientista político Marcelo Suano. "Uma China próxima da Europa seria o pesadelo de Mackinder", destaca. Taiwan, mais um palco de disputas entre Ocidente e Oriente, também expõe o imperialismo das grandes potências. Hoje, a ilha autoproclamada independente da China é a maior exportadora de chips para a tecnologia 5G. Enquanto os Estados Unidos lideram a inteligência desse ramo, a China comanda o desenvolvimento de antenas. Nessa guerra fria tecnológica, além das vantagens geográficas, sai na frente quem controla o comércio. Ter os países mais ricos do mundo ao seu lado é garantir parte do mercado consumidor desse novo produto que tem potencial para enriquecer nações.
“Os dois gigantes tecnológicos veem o mercado da União Europeia como uma oportunidade fantástica para dar-lhes a liderança global em um dos mercados mais rentáveis do mundo. A participação no mercado da UE é fundamental em sua estratégia política e econômica para alcançar a liderança global", pontua o analista da ARP Digital, Nelson Ricardo Fernandes.
A Guerra na Ucrânia e a reorganização geopolítica
A invasão da Ucrânia foi o que os Estados Unidos precisavam para incentivar ocidentais a sancionarem a Rússia, um dos grandes candidatos históricos a dominar o mundo. Esse movimento geopolítico pode favorecer os americanos nessa briga pelo novo mercado de tecnologia, porque atinge não apenas o país comandado por Vladimir Putin, mas também todas as nações antidemocráticas. De acordo com Fernandes, a abordagem política adotada pelos EUA é manter a Rússia e a China longe do bloco do G7 para diminuir sua esfera de influência na União Europeia. O posicionamento da atual gestão americana, sob o comando de Joe Biden, é de “convencer as nações democráticas a não fazer negócios com países que não compartilham os mesmos valores democráticos apoiados pelos países europeus”. A OTAN, por exemplo, mudou sua declaração de missão de “defender a Europa contra uma invasão russa” para "defender os valores democráticos contra regimes não democráticos”. Assim, se Taiwan também for invadida - a China já está se manifestando militarmente na ilha vizinha -, pode ser que o grande exportador de matéria prima para o 5G corte relações com o gigante asiático. Ou pode ser, simplesmente, que o mundo fique ainda mais claramente dividido entre ocidentais e orientais, dificultando as relações de China e Rússia com o importante e rico mercado europeu.
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