Um míssil portátil fabricado pelos Estados Unidos tem sido aclamado como símbolo da resistência ucraniana contra a invasão das tropas russas. Capaz de perfurar blindagens sofisticadas e até de derrubar helicópteros em altitudes baixas, os mísseis anticarro Javelin são relativamente leves e fáceis de operar, o que tem feito a diferença em um contexto de voluntários civis com pouco treinamento militar combatendo um exército inimigo numericamente bastante superior.
Em comunicado divulgado pelo Pentágono nesta quarta-feira (6), o porta-voz do Departamento de Defesa norte-americano, John Kirby, afirmou que a Ucrânia tem se defendido "muito efetivamente" com os mísseis Javelin que os EUA vêm fornecendo ao país.
No dia anterior, o governo Joe Biden anunciou que enviará mais US$ 100 milhões em ajuda militar à Ucrânia, para sistemas Javelin. O montante eleva para mais de US$ 1,7 bilhão a assistência americana concedida ao país europeu desde o início da invasão russa, em 24 de fevereiro.
Popular na opinião dos ucranianos, a arma foi apelidada de “Santa Javelin”, meme que já rendeu mais de US$ 1 milhão para vítimas da guerra. O jornalista canadense de origem ucraniana Christian Borys desenvolveu adesivos, camisetas e sacolas com a imagem de uma santa vestida de verde, segurando um Javelin, para arrecadar fundos para os órfãos da guerra. Os itens fizeram sucesso e foram comercializados em 60 países, o que levou o criador a ampliar a destinação do lucro para as vítimas do conflito.
Alexandre Moreira, Coronel da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), afirma que sem dúvida o Javelin foi um meio importante para a Ucrânia resistir às forças blindadas e mecanizadas dos russos. Para ele, no entanto, o grande trunfo ucraniano foi usar os chamados sistemas anticarros (mísseis guiados para abater tanques e outros veículos blindados) em ambientes próximos às cidades, como ocorreu no entorno da capital, Kiev.
“Muito do sucesso do emprego do Javelin e de outros sistemas anticarro, como o NLAW britânico, o Panzerfaust III alemão, e o Carl Gustaf M4 sueco, deve-se à tática conduzida pelos ucranianos neste conflito, a qual direcionou os russos para atuarem em ambientes urbanos, locais onde os carros de combate apresentam inúmeras vulnerabilidades, as quais, sabiamente, foram exploradas pelos ucranianos”, detalha.
Por utilizar um tipo de munição altamente explosivo, o poder de destruição do Javelin equipara-se ao de um disparo de canhão de carro com calibre superior a 120 mm. “Se o Javelin interceptar a parte de cima dos carros de combate, o efeito destrutivo será potencializado”, assegura o coronel. Isso porque, em vez de percorrer uma linha reta, o míssil tem capacidade de “manobrar” no ar e atingir o veículo de cima para baixo, área geralmente mais vulnerável da blindagem.
Após o disparo, o Javelin acompanha o alvo, mesmo que esteja em movimento. Isso faz com que o atirador possa correr para um local seguro antes que o míssil atinja a meta. Como o projétil é ejetado a poucos metros do lançador, o sistema também dificulta a localização do soldado e pode ser utilizado de dentro de prédios.
“Tal funcionalidade é feita pelo sistema do tipo ‘atire e esqueça’, o que permite que a equipe que o opera consiga se abrigar rapidamente, aumentando a possibilidade de sobreviver a ataques em resposta ao disparo do Javelin, por parte de forças inimigas”, acrescenta o Coronel Moreira.
Fácil de usar
A portabilidade e facilidade de manuseio também são destaques do Javelin. "Se você jogou um videogame, pode usá-lo", garantiu um soldado americano consultado pela Agência France-Presse. Segundo ele, outra vantagem é a possibilidade de usar o lançador (que pesa aproximadamente 20 quilos) “sem munições, para rastrear e olhar" o inimigo.
Um disparo de Javelin custa cerca de US$ 78 mil. Já o sistema de lançamento, que pode ser reutilizado várias vezes e conta com GPS e câmera infravermelha capaz de aproximar o alvo, sai por algo em torno de US$ 100 mil. “Em que pese a existência de sistemas anticarro com a eficácia parecida com a do Javelin, ele se distingue dos demais devido às tecnologias que possui, o que justifica seu alto custo”, afirma o coronel.
Apesar do sucesso do Javelin em áreas urbanas, o Coronel Moreira defende que, segundo a doutrina militar, “a melhor arma anticarro é outro carro de combate”. Por isso, completa ele, “se observa diariamente o líder ucraniano pedir aos países ocidentais que doem seus carros de combate e blindados para Ucrânia”.
“Somente com mais carros de combate, será possível aos ucranianos montar ofensivas e contra-ataques mais eficazes, especialmente na frente do Donbass, onde os combates em campo aberto tendem a favorecer as grandes formações blindadas russas”, defende.
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