Os votos das eleições de meio de mandato nos Estados Unidos ainda estão sendo contados, mas o foco já começa a se voltar para a corrida presidencial de 2020. A questão é como os resultados das midterms podem mudar o cenário político para a próxima disputa pela Casa Branca.
O equilíbrio do poder no Congresso mudou depois da eleição desta terça-feira, mas a tão falada “onda azul”, referência a uma possível vitória esmagadora dos democratas, acabou como uma marola, segundo jornalistas e analistas políticos.
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Ainda assim, os democratas terão o controle da Câmara pelos próximos dois anos, o que traz novos desafios para a campanha do presidente Trump à reeleição. Ao mesmo tempo, o Partido Democrata também enfrenta seus próprios desafios.
A comentarista política Susan Page, do jornal USA Today, disse que ainda é cedo para saber o impacto desta votação na corrida presidencial . Para dar alguma perspectiva, ela lembrou as mudanças políticas que aconteceram no país nos últimos dois anos. No entanto, já é possível tirar algumas conclusões, segundo Page. “Em primeiro lugar, é possível ver o controle que o presidente Trump tem sobre o Partido Republicano. É um presidente que não vai ter a sua nomeação questionada. E veremos uma grande batalha no Partido Democrata pela nomeação, existem dúzias de democratas que querem ser nomeados”, disse Page à rede de notícias CBS. Os democratas devem lidar com a questão de quanto progressista deve ser a mensagem deles, e qual deve ser a atitude do partido em relação a Trump.
Desafios para os dois lados
Algumas décadas atrás, os republicanos desfrutavam do chamado bloqueio do colégio eleitoral. Mais tarde, foram os democratas e uma substancial onda azul de estados que pareciam dar e eles a vantagem nas corridas presidenciais. Os resultados das eleições de terça-feira ressaltaram que, por enquanto, esses dias acabaram. Nenhum dos partidos pode reivindicar uma vantagem clara na aritmética que decidirá quem vencerá a Casa Branca em 2020.
Os eleitores entregaram a Washington o governo dividido na terça-feira, derrubando a maioria republicana na Câmara enquanto reforçaram a maioria republicana no Senado. Esses resultados, estado por estado e distrito por distrito, enquadram os desafios geográficos e demográficos para o presidente Trump e quem quer que se torne o candidato democrata à presidência daqui a dois anos.
Os resultados de terça-feira destacaram o fato de que o ponto focal da batalha pela maioria eleitoral nos próximos dois anos, e provavelmente além, estará nos subúrbios. Os democratas dominam os grandes centros urbanos e Trump, liderando um Partido Republicano reconstituído, aumentou o controle do Partido Republicano sobre a América rural. Isso deixa o único lugar de verdadeira competição, os eleitores suburbanos, muitos dos quais há muito tempo favoreceram os republicanos, mas que encenaram uma revolta contra o presidente na terça-feira, votando em candidatos democratas.
O caminho para a Casa Branca, em última instância, depende de um punhado de estados. Dois anos atrás, Trump garantiu sua vitória ao ganhar dois grandes prêmios, Ohio (facilmente) e a Flórida (por pouco), e depois Wisconsin, Michigan e Pensilvânia pela menor das margens – menos que um ponto percentual em cada estado.
Na terça-feira, eleitores em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia apoiaram candidatos democratas para o governo e para o Senado; em Wisconsin e Michigan, eles reverteram oito anos de domínio republicano nos governos estaduais. O que isso significa para 2020 não está totalmente claro, uma vez que dois dos senadores e um dos governadores eleitos já detinham os cargos.
No mínimo, as vitórias democratas proporcionaram um impulso moral e, ao demonstrar a coalizão necessária para vencer, podem representar pelo menos um obstáculo simbólico para o presidente ao mapear sua estratégia para 2020. Mas os estrategistas do partido reconheceram na quarta-feira que muito trabalho ainda precisa ser feito nos campos de batalha do Meio-Oeste.
Os resultados de terça-feira em Ohio e na Flórida servem como um lembrete para os democratas dos desafios que o candidato do partido pode enfrentar em dois estados que forneceram algumas das disputas presidenciais mais acirradas das últimas duas décadas.
Em Ohio, o senador democrata Sherrod Brown venceu sua candidatura à reeleição, oferecendo aos democratas um modelo para ganhar um estado competitivo com histórico progressista. Mas na corrida para o governo, o procurador-geral republicano Mike DeWine derrotou o democrata Richard Cordray.
Os resultados da Câmara mostram as mudanças de padrão na América suburbana, mesmo em alguns lugares onde as disputas estaduais foram contra eles. Os democratas construíram sua nova maioria na Câmara com vitórias nos territórios suburbanos em que os republicanos desfrutaram de um apoio de longa data.
As mudanças de republicano para democrata foram substanciais em muitos desses distritos. Mas também foi impressionante a quantidade de disputas pela Câmara que foram decididas por margens de cinco pontos ou menos. Uma primeira análise das disputas mostrou que 18 democratas que ou foram vitoriosos ou lideravam na quarta-feira venceram suas disputas com cinco pontos percentuais ou menos.
Os republicanos tentarão recuperar essas cadeiras daqui a dois anos. Mas uma medida de quanto maior a maioria democrata poderia ter sido é que cerca de duas dúzias de republicanos venceram ou estavam liderando por margens de cinco pontos ou menos.
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A retórica de Trump e seu estilo claramente custaram ao Partido Republicano na terça-feira nesses distritos suburbanos e complicarão suas perspectivas de reeleição em dois anos. Mas o prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, argumentou na quarta-feira que os democratas devem construir uma coalizão suburbana através de questões como saúde e educação, evitando assim que o presidente crie uma barreira entre os dois grupos em outras questões.
Emanuel, que como membro do Congresso supervisionou a posse do partido em 2006, disse que não tem dúvidas de que o que aconteceu nas corridas de terça-feira foi uma rejeição ao presidente, especialmente dada a força da economia e o grau em que as linhas distritais do congresso favorecem os republicanos.
"Mas não é um realinhamento", acrescentou ele, "a menos que façamos o trabalho duro, tanto em 2020 quanto além".
Democratas progressistas ou moderados?
Vinte e três milhões de pessoas votaram nos democratas nas primárias das eleições de meio de mandato de 2018, e mais de 50 milhões votaram nos democratas na terça-feira nas eleições gerais. Agora que o foco político se volta imediatamente para a corrida presidencial de 2020, o que as legiões de democratas que tentam derrotar Trump concluem de toda essa votação? Apesar da conversa sobre como "toda a energia está à esquerda", o populismo progressista e o socialismo democrático não impressionaram nas primárias e quase foram excluídos nas eleições gerais. A verdadeira energia de voto nas midterms impulsionou principalmente os democratas tradicionais que se aproximavam de seus distritos ou estados roxos (onde tanto os republicanos quanto os democratas recebem apoio sem um favorito) ou vermelhos (onde o apoio aos republicanos é maior).
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Para começar, apesar de algumas vitórias eletrizantes dos ultra-progressistas nos distritos azuis, a verdadeira história é como os democratas progressistas tradicionais e pragmáticos se saíram tanto nas primárias quanto nas eleições gerais. A moderada bancada do New Democrat na Câmara dos Estados Unidos endossou 37 candidatos nas primárias, e 32 receberam a indicação – uma taxa de vitória de 86%. Em comparação, a Our Revolution, a organização de base fundada e dirigida por apoiadores de Bernie Sanders, teve uma taxa de vitórias abaixo de 40% nas primárias. Nas eleições gerais, 23 candidatos apoiados pelo New Democrat conquistaram cadeiras na Câmara que antes eram de republicanos, ajudando o partido a obter a maioria, enquanto nenhum candidato endossado pela Our Revolution conseguiu um assento vermelho. Zero.
A questão sobre o tom da mensagem dos democratas até a próxima campanha - mais progressista ou mais moderada - será fundamental para o partido, na opinião de Susan Page. “Essa será uma das coisas que o partido terá que considerar, mas não acho que saberemos qual a decisão até que eles tenham um indicado”, disse.
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