As guerras do leste europeu e do Oriente Médio mudaram a forma como a economia global funciona, com destaque para o setor marítimo, que precisou se remodelar diante das alterações de rotas devido aos perigos de ataque nas proximidades do Mar Negro, Vermelho e no Golfo de Aden.
Nessa busca de novos trajetos, a China e os Estados Unidos, duas grandes potências econômicas que tiveram o comércio prejudicado nos últimos anos, encontraram no Chile uma rota de fuga para esses problemas com a região portuária de Punta Arenas, localizada no extremo do país americano.
À medida que as guerras obstruem rotas tradicionais no Oriente Médio e na Europa, os caminhos navegáveis na América Latina se tornam cada vez visados por esses países. Nesse sentido, o Estreito de Magalhães, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico e onde a região está localizada, vem ganhando destaque ao receber um maior volume de navios mercantes nos últimos anos.
Dados oficiais da Marina chilena mostram que entre janeiro e fevereiro deste ano, o tráfego na região aumentou 25% em relação ao mesmo período de 2023 e 83% em comparação com 2021, quando a economia começava a se recuperar da pandemia. As estimativas do país é de que esse tráfego aumente ainda mais, chegando a até 70% de crescimento este ano.
“Estamos em uma parte do mundo que é cada vez mais estratégica e que transcende o país”, disse o prefeito de Punta Arenas, Claudio Radonich, à revista Americas Quarterly.
Já o comandante da Marinha, Felipe González Iturriaga, governador marítimo de Punta Arenas, disse que a região consegue atender à demanda de embarcações que passam por lá, no entanto, com o crescimento esperado, novos recursos precisariam ser investidos. “Podemos lidar com o aumento do tráfego agora, mas se continuar, precisaremos crescer, tanto em infraestrutura quanto em pessoal”, disse à revista.
Atualmente, a área portuária chilena dispõe apenas de alguns molhes e rampas, que conseguem lidar com um número limitado de navios de médio porte, alguns navios de cruzeiro e barcaças que passam por lá. Contudo, segundo os entrevistados pela revista AQ, há um desafio de atender grandes navios-tanque e porta-contêineres, que são cada vez mais vistos ao longo do Estreito.
Mas os olhares para os caminhos navegáveis pelos EUA e China vão além da questão econômica. Pequim já manifestou interesse em construir um complexo portuário perto do Estreito de Magalhães, do lado argentino, visando aumentar sua presença na região e também projetar influência na Antártida, onde a rivalidade principalmente com Washington é crescente nos últimos anos.
Em abril do ano passado, a chefe militar do Comando Sul dos EUA, General Laura Richardson, fez uma visita oficial a Punta Arenas durante passagem pelo Chile e Argentina, com objetivo de analisar a segurança do Estreito diante do interesse explícito de Pequim na região.
Em novembro do ano passado, o presidente chileno Gabriel Boric, que cresceu em Punta Arenas, assinou um programa de investimentos de cinco anos, no valor de US$ 400 milhões (cerca de R$ 77,6 bilhões), para modernizar portos e outras infraestruturas em Magalhães.
Gestão Milei atrai investidores
O Estreito de Magalhães também é uma porta de entrada a investimentos para a Argentina. Por lá, os empresários ponderam sobre as oportunidades portuárias e de hidrogênio, conforme o presidente Javier Milei apresenta seu plano libertário para o país e abre espaço para o crescimento no setor privado.
De acordo com o especialista em segurança internacional Juan Belikow, uma empresa chinesa chamada Shaanxi demonstrou interesse em construir um porto em Rio Grande, no entanto a proposta foi rejeitada pelo governo federal, enquanto uma empreiteira argentina prepara planos para a região.
Em Ushuaia, mais ao sul do país, a Marinha também está expandindo uma base militar que visa aprimorar a logística na Antártida e monitorar a pesca chinesa na região.
Desde que assumiu a Casa Rosada, sede do governo argentino, Milei declarou seu alinhamento com os EUA e outros parceiros ocidentais.
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