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A China está se tornando uma verdadeira obsessão para quem busca exemplos de como lidar de forma eficaz com a epidemia de Covid-19. Mas além de ser inapropriado (foi precisamente neste país onde tudo começou e o regime tem uma grande parte de responsabilidade nisso), é também um exemplo incompleto, porque outros países da Ásia lutaram até agora de maneira eficaz contra o vírus e conseguiram contê-lo com resultados ainda melhores, sem recorrer aos custosos e brutais métodos empregados pelo sistema comunista.
Contrariamente à China, Taiwan aplicou métodos muito diferentes, para não dizer contrários. Enquanto Pequim seguia censurando as notícias, inclusive antes de que a epidemia se tornasse de conhecimento público em todo o mundo, o governo de Taipei se mobilizou e começou a difundir imediatamente informações essenciais à população. Tudo em nome da máxima transparência. Devido, sobretudo, à trágica experiência de epidemia de Sars (2002-2003), as autoridades da ilha chinesa, agora, tomaram medidas muito rapidamente.
Já em janeiro, com a ajuda de muitas iniciativas privadas, asseguraram-se de que cada cidadão soubesse como agir, como comportar-se e onde conseguir máscaras, com aplicativos de celular constantemente atualizados sobre onde encontrá-las em toda ilha. Desde o começo de janeiro, o governo de Taipei estabeleceu um centro único de orientação e controle para coordenar os esforços em matéria de saúde. Desde 31 de dezembro, Taipei havia introduzido controles para os passageiros procedentes de Wuhan, inclusive antes de que as autoridades chinesas dessem sua confirmação oficial do surto. Em janeiro, começou a quarentena obrigatória para os que chegavam de Hubei, a primeira província afetada da China.
Em fevereiro aplicaram as mesmas restrições a todos os viajantes que haviam estado ou estavam conectados indiretamente com a China, e a quarentena se ampliou aos que chegavam de Hong Kong e Macau. A quarentena foi aplicada muito seriamente, com multas de até 10 mil dólares para quem a violasse ou escondesse que fez uma viagem a zonas epidêmicas. A prevenção teve êxito, tendo em conta que (no momento em que se escrevia esse artigo) só há 47 casos de coronavírus em Taiwan para um total de 22 milhões de habitantes.
Uma outra história de sucesso é a cidade-Estado de Singapura, que empenhou métodos preventivos similares aos de Taiwan. Aqui, também, a experiência da epidemia de Sars foi muito útil. O primeiro ministro Lee Hsie Loong, depois de um discurso exemplar de calma, otimismo e claridade, colocou em quarentena e depois fechou as fronteiras a todos os viajantes vindos da China.
Ainda que igualmente sofreram um primeiro surto, as autoridades sanitárias locais desenvolveram um método muito refinado para rastrear os infectados e todos os contatos pessoais que tiveram na ilha. Também neste caso, as punições para quem mente às autoridades sobre contatos, sobre sintomas ou para quem viola a quarentena, podem custar muito caro, até mesmo levar à prisão. Até então, Singapura registrou apenas 166 casos, dos quais 93 curados, numa população de 5 milhões e meio de habitantes.
Singapura e Taiwan são ilhas, embora extremamente conectadas com a China, tiveram, contudo, a possibilidade de fechar-se para defender suas fronteiras. Fizeram aquilo que, talvez, a Itália também poderia e deveria ter feito ao final de janeiro, quando a epidemia estava se propagando somente na Ásia. O caso da Coreia do Sul pode, portanto, ser mais interessante para nós, porque é uma demonstração de como conseguiram conter uma epidemia que já havia se propagado rapidamente.
Embora fosse o segundo país do mundo, depois da China, com maior número de infecções, com quase 8 mil casos confirmados, a Coreia do Sul atualmente está registrando uma desaceleração no número de infetados. A maré epidêmica, muito provavelmente, se inverterá daqui para frente. Também neste caso, o governo de Seul não recorreu à imposição de zonas restritas para cidades e regiões inteiras como na China (e como se tenta fazer na Itália). A liberdade de movimento nunca foi seriamente limitada, senão nas áreas mais infestadas, como na cidade de Daegu.
Os métodos empregados lá, como em Taiwan e Singapura, são sobretudo o diagnóstico precoce e o rastreamento dos contagiados, além da reconstrução de todos os seus contatos. Numa população de quase 52 milhões de pessoas, comparável à italiana, rastrear os infectados e todos os contatos possíveis não deve ter sido uma tarefa fácil, mas foi possível graças à tecnologia, que também na Itália é muito difundida como a geolocalização dos celulares, à coleta de dados públicos e, acima de tudo, a uma campanha massiva de diagnósticos por amostras.
Até o presente momento foram efetuadas ao menos 180 mil testes. Primeiro aos viajantes conectados direta ou indiretamente à China, depois a todos os cidadãos que pedissem. Para acelerar o tempo, as autoridades coreanas criaram postos de saúde ao longo das vias públicas, onde é possível efetuar o teste sem nem mesmo descer do carro. Durante o dia, os resultados chegam ao celular da pessoa que se submeteu ao teste. A partir desse momento, se positivo, ele e seus contatos são advertidos e devem respeitar a quarentena.
Para rastrear os casos suspeitos na Coreia do Sul, desenvolvedores privados criaram aplicativos para celular que mostram o mapa dos infectados. Sem revelar suas identidades pessoais, os mapas indicam onde se encontram os infectados, por onde passaram e os locais que frequentaram. Dessa maneira, os coreanos, mesmo continuando a ter liberdade de movimento, sabem onde é mais perigoso andar. O governo chegou tarde, propondo apenas nas últimas semanas um aplicativo para Android (a versão para iPhone estará disponível apenas a partir de 20 de março) que permite à pessoa em quarentena obter informação em tempo real (mas em troca oferece automaticamente a sua posição às autoridades).
O outro lado da moeda desse sistema é o risco de caça às bruxas. Embora seja um sistema que respeite a privacidade, alguém hábil em investigar na internet pode cruzar os dados à disposição e rastrear a identidade do paciente e de seus contatos. E, infelizmente, agora existem inúmeros casos de linchamento online para os acusados de terem agido de forma imprudente. Também os locais públicos que foram frequentados por eles correm o risco de ficarem desertos, de perder os clientes.
Obviamente nenhum método é perfeito. Mas esses três países asiáticos, contrariamente à China (e contrariamente à Itália que tenta imitá-la), não paralisaram a sua economia, não colocaram em quarentena províncias e regiões inteiras. O risco que se corre em países asiáticos como Taiwan, Cingapura e Coreia do Sul é precisamente a violação da privacidade.
Mas também na Itália, para todos aquele que chegam da Lombardia, do Vêneto, de Emília, do norte da Itália em geral, já está difundido o estigma de propagador de doenças, que, por ser coletivo, é ainda pior.
Assim como os habitantes de Hubei, na China, que mesmo agora são tratados coletivamente como cidadãos de segunda classe, discriminados também no trabalho, mesmo se são saudáveis, apenas pela culpa de estarem no lugar errado e na hora errada.
Stefano Magni, jornalista e ensaísta, é bacharel em Ciências Políticas, autor de “Contro gli statosauri, per il federalismo” e professor associado no curso de Geografia Econômica da faculdade de Jurisprudência da Università degli Studi di Milano.