Por 30 anos, Edgar Latulip não se lembrou de seu próprio nome ou se deu conta de que estava morando a 130 quilômetros de casa, onde havia diferentes teorias a respeito de como e onde era mais provável que ele tivesse morrido.
Ninguém o tinha visto desde setembro de 1986, quando, de acordo com o noticiário local, Latulip desapareceu de um abrigo para famílias, subiu em um ônibus em direção à margem sul do lago Ontario e se esqueceu de quase tudo.
Ele assumiu uma nova identidade. Ele se estabeleceu em uma nova cidade. Ele construiu uma nova vida.
Mas uma recente recordação levou Latulip novamente ao mundo que ele havia deixado para trás.
A polícia anunciou na semana passada que Latulip, hoje com 50 anos, foi encontrado na cidade de St. Catharines, na província canadense de Ontario, não muito longe do local de onde desapareceu décadas antes.
E – o que é mais chocante – foi o próprio Latulip que resolveu o caso do seu desaparecimento.
Da última vez que sua mãe o viu, Latulip estava no hospital, se recuperando de uma tentativa de suicídio, de acordo com reportagem do jornal Waterloo Region Record.
Latulip abandonou o abrigo em Kitchener e, de acordo com a polícia, foi em direção às Cataratas do Niágara – “um local em que suicídios são comuns”, a reportagem observa. Dando um sinal especialmente alarmante, ele tinha saído do prédio sem levar sua medicação.
Logo na sequência, informa a polícia, Latulip sofreu um ferimento na cabeça e perdeu a memória.
Mas a polícia conta que ele começou a ter flashbacks no mês passado e se lembrou de seu verdadeiro nome: Edgar Latulip. Ele contou a um assistente social, o qual descobriu que ele era uma pessoa desaparecida e contatou as autoridades locais. Após um exame de DNA, a polícia foi capaz de confirmar sua identidade.
A ONG canadense Rede de Crianças Desaparecidas disse que se tratava de uma “notícia incrível”. “A recuperação de Edgar é a razão pela qual nós nunca desistimos!”, disse a diretora geral da organização, Pina Arcamone.
Phil Gavin, porta-voz do Departamento de Polícia da Região de Niágara, disse que Latulip agora está se preparando para se reencontrar com sua família. “É uma coisa e tanto descobrir que você na verdade é outra pessoa”, Gavin disse ao Washington Post, “então eu acho que ele está indo aos poucos”.
A história
Em 1986, Latulip era um homem de 21 anos com a idade mental de um garoto de 12, de acordo com o noticiário local e registros da época a respeito de pessoas desaparecidas. Ele estava morando em um abrigo para famílias próximo à cidade de Kitchener e se mantinha ao menos parcialmente graças a um benefício social para portadores de deficiência, de acordo com uma série de reportagens publicadas em 2014 no Waterloo Region Record.
Era uma terça feira quando ele deixou a cidade naquele mês de setembro.
Sua mãe, identificada pelo noticiário local ora como Silvia, ora como Sylvia Wilson, disse ao Record que ela temia que seu filho tivesse sido assassinado e enterrado. “Essa possibilidade sempre esteve no fundo da minha cabeça”, ela contou ao jornal em 2014. “Ter uma resposta significaria que a história estava encerrada. Quando Edgar desapareceu, fiquei muito doente. Tive de tirar uma licença médica do trabalho. Estive à beira de um ataque nervoso.”
O cartaz de pessoa desaparecida de Latulip mostrava um jovem com óculos de armação de arame e um sorriso largo, cheio de dentes – uma imagem gerada por computador para mostrar às pessoas qual poderia ser sua aparência. Dizia que ele tinha uma compleição magra, uma cicatriz acima de uma sobrancelha e sérios problemas mentais.
Por anos, investigadores tentaram encontrar Latulip, entregando panfletos e indo de porta em porta – e, mais tarde, dando novamente publicidade ao seu caso, assim como a vários outros, na esperança de resolver mistérios de décadas.
“Ter uma resposta significaria que a história estava encerrada. Quando Edgar desapareceu, fiquei muito doente. Tive de tirar uma licença médica do trabalho. Estive à beira de um ataque nervoso.”
O sargento Richard Dorling, o detetive de homicídios da Polícia Regional de Waterloo que supervisou a investigação original do desaparecimento de Latulip, começou a estimular a imprensa local e membros da comunidade a espalharem a palavra.
“Passe a informação adiante”, Dorling pediu ao Record em 2014. “Se você vir um cartaz, uma fotografia ou um artigo, publique no Facebook, divulgue no Twitter. Minha esperança é de que em algum lugar, alguém vai se lembrar de alguma coisa.”
No fim das contas, era Latulip quem iria se lembrar – e resolver seu próprio caso.
Em 1993, as autoridades seguiram uma pista até a cidade vizinha de Hamilton, depois que alguém informou ter visto Latulip lá, mas nunca o encontraram, de acordo com o Waterloo Region Record.
Em algum momento, ele se estabeleceu em St. Catharines.
A polícia não quis se pronunciar esta semana a respeito da vida de Latulip antes de seu desaparecimento ou do acidente que fez com que se esquecesse dela. Também não é claro que tipo de vida ele construiu para si mesmo depois de desaparecer – se ele tinha um emprego, uma casa ou uma família. As autoridades não revelaram o nome ou nomes que assumiu para si.
Mas eles confirmaram que Latulip tinha recentemente começado a trabalhar em conjunto com o Departamento de Polícia da Região de Niágara para descobrir sua verdadeira identidade. Gavin, o porta-voz da polícia, disse que investigadores retiraram uma amostra de DNA de Latulip e contataram o Departamento de Polícia da Região de Waterloo, o qual os ajudou a compará-la com uma amostra de um familiar.
Semana passada, as autoridades descobriram que as amostras eram compatíveis.
Duane Gingerich, um detetive da polícia de Waterloo que trabalhou no caso, disse que ficou exultante. “Tinha esperanças de que ele estivesse por aí em algum lugar”, disse ao Waterloo Region Record. “Para nós, como investigadores, isso é muito bom, é incrível. Dá satisfação porque a maior parte desses casos tem um desfecho diferente.”
“Você espera o pior quando uma pessoa está desaparecida há tanto tempo assim.”
Na sequência, a polícia telefonou para a mãe de Latulip, que agora vive em Ottawa. “Ela estava animada, feliz, radiante”, Gavin, o porta-voz da polícia de Niágara disse ao Post. “Depois de 30 anos sem saber onde estava seu filho – descobrir que ele está vivo, ela está muito animada com isso.”
Alana Holtom, uma porta-voz do Departamento de Polícia da Região de Waterloo, disse ao Post que conversou com a mãe de Latulip na quarta-feira e ficou sabendo que mãe e filho estão planejando se reencontrar.
“Ela disse que obviamente isso foi uma preocupação para ela por muito tempo”, disse Holtom.
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