Ditador da Coreia do Norte, Kim jong-un, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na cúpula de Cingapura em 12 de junho| Foto: KEVIN LIM/AFP

Na quinta-feira passada (23), o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou que iria pela quarta vez a Pyongyang, capital da Coreia do Norte. Na sexta-feira, apenas algumas horas antes de Pompeo partir, o presidente Donald Trump tuitou que a viagem não iria acontecer. O cancelamento ocorreu depois que um alto funcionário do governo norte-coreano enviou uma carta secreta a Pompeo que convenceu tanto ele quanto Trump de que a visita não teria sucesso.

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Pompeo recebeu a carta de Kim Yong Chol, vice-presidente do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia do Norte, na manhã de sexta-feira, e a mostrou a Trump na Casa Branca, segundo confirmaram dois altos funcionários do governo americano. O conteúdo exato da mensagem não está claro, mas foi suficientemente agressivo para que Trump e Pompeo decidissem cancelar a jornada de Pompeo, na qual ele apresentaria o novo enviado especial Stephen Biegun aos norte-coreanos. 

A secretária de Imprensa da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse à CNN que Pompeo estava junto com o presidente na sexta-feira à tarde quando Trump tuitou que estava cancelando a viagem de Pompeo porque sentiu que "não estamos fazendo progresso suficiente com relação à desnuclearização da Península Coreana". Repórteres também notaram a presença de Andrew Kim, um oficial da CIA na Ásia que viajou com Pompeo para Pyongyang. 

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As autoridades se recusaram a dizer como a carta foi transmitida, mas a Coreia do Norte tem se comunicado cada vez mais por meio de sua missão na ONU, conhecida como o "Canal de Nova York". Em particular, Trump e o ditador Kim Jong-un trocaram uma série de cartas, algumas enviadas pelo próprio Pompeo. A última carta de Trump, à qual a Coreia do Norte já respondeu, encorajou o regime de Kim a progredir mais na desnuclearização enquanto alertava contra retrocessos adicionais. 

Em seus tuítes de sexta-feira, Trump também culpou o governo chinês pela falta de cooperação da Coreia do Norte. Mas o fato de que o presidente ter reconhecido publicamente que as negociações não estavam indo bem foi um grande revés para sua administração. Trump e Pompeo haviam afirmado repetidamente que as negociações estavam progredindo. 

Desentendimentos

Não se espera que Trump abandone totalmente a diplomacia que iniciou na cúpula de 12 de junho em Cingapura. Mas, a menos que Pyongyang responda positivamente ao seu mais recente movimento, Trump pode ficar do lado de autoridades que querem aplicar mais pressão ao regime de Kim por meio de sanções mais duras ou outros meios, como o conselheiro de segurança nacional John Bolton. 

"Eu não sei se o presidente admitiria que acabou", disse um dos diretores. "Mas se os norte-coreanos não avançarem, Bolton vai argumentar com Trump: 'Você não precisa admitir que estava errado, mas precisamos começar a escalar contra eles para forçá-los a manter seus compromissos'".  

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A viagem de Pompeo foi feita para negociar um acordo passo-a-passo com Pyongyang. Kim quer que os Estados Unidos emitam uma declaração para acabar com a Guerra da Coreia, e o governo Trump quer que o regime norte-coreano faça uma declaração de seus programas e ativos nucleares e de mísseis. 

Bolton e o secretário da Defesa, Jim Mattis, se opõem a que Trump faça uma declaração sobre o fim da Guerra da Coreia neste momento, segundo afirmam vários oficiais do governo americano. Os dois acreditam que a Coreia do Norte deve agir primeiro e que qualquer declaração de Pyongyang deve ser verificada antes que os Estados Unidos façam qualquer concessão. Bolton não estava na sala quando Trump postou seus tuítes, mas era contra a viagem desde o início. 

O secretário de segurança nacional acredita que quaisquer concessões, incluindo encontros face a face, são vistas pelos norte-coreanos como sinais de fraqueza e, portanto, são inúteis. Mattis acredita que emitir tal declaração sem pensar em todas as implicações poderia impactar negativamente as ações militares conjuntas entre EUA e Coreia do Sul na península. O Departamento de Estado argumenta que a declaração é apenas um passo político, muito aquém de um tratado de paz, que viria muito mais tarde. 

Enquanto isso, há um controverso debate entre agências sobre o que exatamente a Coreia do Norte está fazendo atualmente com seus programas nucleares e de mísseis. Não existe uma avaliação única do governo dos EUA, portanto, as agências americanas têm opiniões divergentes sobre o potencial de agressividade do país de Kim Jong-un e até sobre quais métricas devem ser usadas para avaliar a falta de progresso. 

Há também uma crescente preocupação da administração Trump de que o governo sul-coreano de Moon Jae-in esteja cada vez mais disposto a se aproximar de Pyongyang, independentemente da aprovação de Washington. Moon está planejando uma visita a Pyongyang no próximo mês. Seu governo está considerando abrir um escritório de representação lá, além outros esforços de cooperação. 

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"Temos um grande problema com a Coreia do Sul", disse um funcionário de alto escalão a par das negociações ao diretor da Universidade de Stanford, Daniel Sneider. "Chegou ao ponto em que os sul-coreanos estão determinados a avançar. Eles já não sentem a necessidade de agir em paralelo conosco".

Futuro

Os porta-vozes do Departamento de Estado, Pentágono e Conselho de Segurança Nacional recusaram-se a comentar. Em particular, vários oficiais do governo disseram que consideram o compromisso diplomático da Coreia do Norte como um esforço de baixa probabilidade, porque duvidam que Kim Jong-un tenha realmente tomado a decisão de desnuclearizar. Mas há amplo consenso de que esse esforço deve continuar até que se prove que é fútil, considerando as alternativas.  

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Joel Wit, um ex-negociador nuclear da Coreia do Norte, disse que a administração Trump não deve evitar possíveis progressos em questões como sequenciamento e deve deixar Pompeo, Biegun e sua equipe trabalharem para acertar um acordo. 

"Devemos estar negociando continuamente e ter Pompeo pronto para atuar quando o envolvimento dele for necessário", alega. "Essa coisa toda sobre quem deve agir primeiro é boba. Queremos que eles deem o primeiro passo, eles querem que a gente vá primeiro, mas adotando uma posição intermediária os dois países podem avançar". 

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Se Pompeo e Biegun não forem capazes de mostrar a Trump que podem progredir, nas próximas semanas o presidente pode adotar uma posição muito mais rígida que pode aumentar as tensões com Pyongyang e Seul. Mas agora, cabe a Kim Jong-un dar o próximo passo.