“A luta pelo reconhecimento do genocídio se confunde com a história da minha família.” A frase de James Onnig Tamdjian vale para a grande maioria dos descendentes de armênios no Brasil. Professor de Relações Internacionais da Faculdades de Campinas (Facamp) e presidente da Associação Cultural Armênia de São Paulo, ele conta que os pais e irmãos de seus avós não conseguiram escapar do massacre. A exemplo da grande maioria dos descendentes armênios no Brasil, ele luta pela lembrança e o reconhecimento enquanto genocídio do episódio que vitimou 1,5 milhão.

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“Ao adotar o Brasil como pátria, meus avós se dedicaram para a manutenção da cultura armênia e da luta pela justiça. Eram órfãos, vítimas do genocídio que foram salvas por obras do acaso. Não vejo e nunca vi revanchismo ou qualquer sentimento mais exacerbado. As movimentações em escala mundial provam que, mesmo cem anos depois, a comunidade não esqueceu e quer justiça, reconhecimento”, conta James, que ajudou a preparar seminários, palestras e workshops para a data e é diretor político do Conselho Nacional Armênio no Brasil. “O mais importante é que queremos criar uma cultura antigenocídio, que eles nunca mais ocorram. Colaborar com a prevenção de crimes contra a Humanidade.”

Assim como em tantos outros países, no Brasil, a comunidade armênia se concentra principalmente em torno de descendentes de sobreviventes do massacre iniciado em 1915. Os hoje mais de 30 mil armênios e descendentes residindo no país se concentram principalmente em São Paulo. Por aqui, figuras de diferentes lados do espectro político sinalizaram apoio ao reconhecimento de um genocídio, como o senador José Serra (PSDB) e o ex-ocupante de sua cadeira, Eduardo Suplicy (PT). No entanto, apenas São Paulo, Paraná e Ceará usam o termo.

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Se na Armênia desembarcou recentemente a socialite e onipresente Kim Kardashian, além do popularíssimo System of a Down — formado por herdeiros de sobreviventes, marcará a efeméride com um show na capital, Yerevan — por aqui, organizações preparam seminários, marchas em protesto contra o não reconhecimento turco e até intervenções culturais, apoiadas por uma organização própria do consulado-geral de São Paulo.

Refugiado

Stepan Hrair Chahinian é descendente direto do genocídio. Aos 17 anos, desembarcou no Brasil. Os pais vieram de diferentes partes do império durante o massacre e encontraram refúgio em Aleppo, território sírio. Os dois se casaram, começaram vida nova, mas em 1963 vieram ao Brasil anos após o pai encontrar uma irmã em São Paulo. Outros de seus tios foram para França, EUA e para a Armênia soviética.

Stepan fez seus estudos por aqui, se tornou arquiteto e milita pela causa armênia (é vice-presidente da filial paulista da União Geral Armênia de Beneficência). O filho, também arquiteto mas também fotógrafo, foi para a Turquia, onde reencontrou a antiga casa dos bisavós. Um livro sob o enfoque dos sobreviventes será lançado localmente na próxima semana, mas ainda sem previsão no Brasil.

— O apoio pela causa armênia envolve cultura, educação, suporte, sem conotação partidária e política. Meu pai era um militante ativo. Qualquer evento que tenha relação com a armenidade, apoio — declara. — O mais grave é que a Turquia segue a política do negacionismo. Não lutamos por vingança, mas por ser reconhecido o que houve. Enquanto a ferida não for fechada, vai sangrar para sempre, o próprio Papa disse. Evita de abrir precedentes para outros casos.

Radialista e presidente de clube

Radialista formado, Sarkis Karamekian comanda a rádio Armênia Eterna e atua por diversas frentes: é militante e presidente-fundador de duas organizações: a Câmara Internacional de Comércio Brasil-Armênia e o Fedainer (Associação Juventude Armênia), que venceu invicto a segunda divisão do Paulista e hoje disputa a Primeirona com clubes grandes como Corinthians, São Paulo, Osasco e São Bernardo.

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— É muito gratificante atender gente de toda a diáspora, gente que vem de vários países de acordo com as necessidades, divulgando atividades e dando apoio à causa. O grande objetivo da comunidade é sempre somar e multiplicar. Servir o próximo — se orgulha. — O Fedainer faz 30 anos em 2015, e com ele ajudamos a divulgar o que a comunidade faz. Tudo isso sem deixar de representar nossa pátria amada, o Brasil.

Tragédia no palco

Há sete anos, Arthur Haroyan veio para o Brasil. Seus bisavós foram mortos pelos turcos e uma mesquita foi erguida onde o bisavô havia construído uma igreja, na cidade de Kars. Seu núcleo familiar se estabeleceu em território armênio, mas o ator e roteirista decidiu tentar a sorte no país com o roteiro de uma peça de teatro contando histórias fictícias como mulheres trancadas em uma casa, um cônsul americano, oficiais turcos, soldado que se apaixona por uma armênia... Tudo em torno “de 80%” de fatos reais e históricos.

A peça estreou em 2012, e é exibida todas as quartas e quintas-feiras no espaço cênica Viga, na capital paulista. No dia 24 de abril, eles se manifestam em frente ao consulado da Turquia, “com os nossos figurinos e diálogos”, representando a peça com o apoio da comunidade armênia de São Paulo.

“É meu dever e de cada armênio defender essa causa, contar ao mundo os horrores que nossos bisavós sofreram durante a Primeira Guerra Mundial. Nós fomos arrancados das nossas terras históricas que construímos mais de 5 mil anos atrás. Sem dúvida, foi uma limpeza étnica. Afinal, o genocídio dos armênios foi um exemplo clássico para Hitler.”

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