Homem segura bandeira cubana durante manifestação em Miami contra o restabelecimento diplomático dos EUA com Cuba| Foto: Gaston De Cardenas/EFE

O histórico restabelecimento de relações diplomáticas entre EUA e Cuba inaugura uma nova dinâmica na política da América Latina, avaliam especialistas, diplomatas e ex-mandatários da região. Ao retirar da sala o bode – na expressão de vários entrevistados – que atravancou conversas bilaterais de todas as nações latino-americanas com Washington nas últimas três décadas, o presidente Barack Obama recupera influência para os EUA, estimula o resgate da Organização dos Estados Americanos (OEA) e abre espaço para que países como Brasil, Colômbia e México se empenhem em Havana pela abertura política e econômica.

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Independentemente da orientação ideológica, era consensual a visão dos países latino-americanos de que a política dos EUA para Cuba era anacrônica, prejudicava injustamente o desenvolvimento e o povo cubanos e permanecia um ruído considerável à integração das Américas.

A guinada também implicará um reposicionamento da América Latina. Sem o isolacionismo patrocinado por Washington, e na prática com o embargo a Cuba severamente minado, a região não poderá se ancorar na retórica anti-imperialista para justificar diálogo morno e desconfiado com os EUA e para não agir de forma mais ativa na resolução de crises como a da Venezuela. "Haverá uma mudança radical e fundamental. Acredito que, de forma geral, o discurso anti-imperialista que tínhamos na região está encerrado. A Guerra Fria acabou", afirmou na semana passada o ex-presidente da Colômbia Andrés Pastrana.

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Sobretudo, as nações latinas ganham uma carta sólida para empurrar Raúl Castro em direção à flexibilização do regime cubano. As conversas com Havana sempre eram limitadas até agora pela argumentação do regime de que os EUA queriam desestabilizar a ilha e reverter suas conquistas históricas. Sem a nuvem da "agressão", Cuba deverá caminhar na integração ao sistema interamericano, que supõe adesão a padrões mínimos em diversos temas e a mecanismos multilaterais de monitoramento, que devem ser defendidos por todos os sócios.

Brasil, um interlocutor natural

Para o Brasil, o anúncio de Obama também terá impacto. Diplomatas e analistas acreditam que o tema funcionará como potente aquecedor na operação de degelo das relações – que começou com a conversa telefônica entre Obama e a presidente Dilma Rousseff após a reeleição, terá prosseguimento na posse dia 1.º e culminará na visita de Estado da brasileira, em 2015. "É um impulso ao diálogo político Brasil-EUA, paralisado em alto nível desde a descoberta da espionagem, em meados de 2013. Agora ganha-se uma agenda positiva, mesmo que esse não seja o ponto prioritário das relações", diz um interlocutor brasileiro.

Observadores acham que o Brasil se impõe como interlocutor de Washington e Havana e será consultado para os próximos passos da reaproximação. Isso porque tem laços históricos com Cuba, canais e contatos consolidados e presença empresarial.

Além disso, avalia-se que o Brasil ganha com a perspectiva de mais abertura econômica. O país tem trocas comerciais com Havana e negócios na ilha e está envolvido na mais importante obra de infraestrutura de Cuba, a zona franca do Porto de Mariel, com financiamento do BNDES, e que será o canal de integração com os EUA quando o embargo for derrubado.

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Exilados cubanos em Miami protestam contra abertura diplomática

EFE

Diversas organizações do exílio cubano em Miami se concentraram neste sábado, no centro da cidade, para expressar rejeição às "infames concessões" feitas pelo presidente dos EUA, Barack Obama, ao regime "tirânico de Raúl Castro". O protesto do exílio, que ocorreu pacificamente pelo Parque de José Martí, concentrou seus principais ataques contra a "traição", "claudicação" e "nefastas medidas" de Obama.

"Sentimos muita dor. O presidente Obama pensa que com suas medidas vai ajudar o povo de Cuba, e não é assim. Isso ajuda o governo de Cuba a fortalecer e equipar sua maquinaria repressiva contra o povo cubano e a sociedade civil", disse Berta Soler, líder das Damas de Branco, que se somou pela primeira vez a um protesto do exílio em Miami.

A dissidente ressaltou o fato de que os cubanos de dentro e de fora da ilha constituem "um só povo" unido pela "dor" perante o imediato restabelecimento das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba.

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Foi possível ouvir gritos como "Obama, covarde, traidor!", "Abaixo a ditadura castrista!", e, sobretudo, o clamor de "Liberdade!" e "Viva Cuba livre!".