Insurgentes atiram para o alto e agitam a bandeira do país: sinal do forte nacionalismo líbio| Foto: Filippo Monteforte/AFP

Auxílio internacional

ONU estuda enviar missão de paz

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, vai pedir ao Conselho de Segurança que estude o envio de uma missão de paz à Líbia, diante de notícias de execuções em massa na "fase decisiva" dos conflitos entre rebeldes e forças do ditador Muamar Kadafi. O país também sofre com a escassez. A capital aguardava 32 barcos com ajuda humanitária para tentar restabelecer os serviços básicos interrompidos há alguns dias.

Em Sirte, cidade natal de Gaddafi e um dos últimos redutos do ditador, os combates seguem e os rebeldes tentam negociar com a população a rendição de kadafistas. A Otan também participa das operações de busca pelo ditador, cujo paradeiro é desconhecido, apesar de rumores de que ele deixou o país.

Excêntrico

A excentricidade do líder líbio nunca foi uma novidade, uma vez que o guarda-roupas extravagante e a mania de se hospedar em tendas sempre chamaram a atenção do mundo. Na última semana, porém, objetos encontrados no quartel-general do ditador, em Trípoli, revelaram uma figura ainda mais singular.

Na devassa feita nos vários prédios do complexo de Bab al-Azizia, rebeldes encontraram um álbum só com fotos da ex-secretária de Estado americana Condoleeza Rice. Nas casas dos filhos de Gaddafi, ficou evidente a vida de ostentação que levavam: jacuzzis, paredes de mármore e ouro, uma Lamborghini e um sofá de ouro em formato de sereia com o rosto da filha Aisha.

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O aeroporto de Trípoli é controlado por rebeldes, mas aliados de Kadafi ainda lutam no local
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Trípoli - Reconstruir, do marco zero, instituições de Estado aniquiladas por 42 anos de ditadura será a principal tarefa do Conselho Na­­cional de Transição (CNT) da Líbia. Mas não só. Internamente, no vasto, desértico e pouco populoso ter­­ritório líbio, estão à espreita do novo governo os velhos focos de tensão que afligiam Muamar Ka­­dafi: divisões tribais e o risco da militância islâmica jihadista.

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Antes mesmo da captura, a festejada queda do ditador ameaça balançar o mais sólido pilar que uniu milhares de líbios, dos mais variados espectros, ao CNT – o ódio à figura do tirano que enriqueceu ao oprimi-los. Na falta do ideal anti-Kadafi, caberá aos rebeldes cumprir as promessas de criar um mecanismo administrativo capaz de dar voz à toda a so­­ciedade. Nada fácil num país onde há cerca de 140 tribos e onde, até a independência, em 1951, havia três províncias – Cirenaica, Tri­­politania e Fezzan – que davam ao cidadão uma identidade regional, lado a lado à tribal e ao clã ao qual cada um pertencia. "Superar definitivamente o tribalismo histó­­rico será decisivo para o sucesso da nova Líbia", diz o pesquisador Shashank Joshi, doutorando em Relações Internacionais da Uni­­ver­­sidade de Harvard. "Poucas de­­zenas de tribos são politicamen­­te engajadas, o que não significa que pertencer a um determinado grupo ou clã não ajude, por exemplo, na hora de conseguir um em­­pre­­go."

Forte nacionalismo

Sem questões sectárias, a Líbia tem uma população sunita e duas etnias – a árabe e a berbere, em geral, misturadas ao longo dos anos – facilitando, em tese, o diálogo nacional, favorecido ainda pelo que talvez seja a única herança positiva de Kadafi: uma educação pública que doutrinou o conceito da nacionalidade líbia a toda uma geração. O especialista americano Ronald Bruce St John, autor de vários livros sobre o país, vê no desarmamento, e não nas tribos, uma preocupação urgente. "Os líderes tribais são conservadores, mas a Líbia passou uma ur­­banização considerável, aproximando-se muito da sociedade urbana", garante.

A sensação de triunfo dos re­­beldes conseguiu, por enquanto, ocultar sinais de fissura no Con­­selho Nacional de Transição – existentes, como indica o misterioso assassinato do comandante militar Abdel Fatah Yunis, há três semanas, ainda sem explicação. Novos indícios de divergências transpareceram também quando, ainda em Benghazi, o CNT tra­­çou um curioso esboço de Cons­­tituição.

Avanço

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Rebeldes líbios anunciaram controlar todo o Aeroporto Inter­­na­­cional de Trípoli, mas admitiram a existência de combatentes leais ao ditador Muamar Kadafi na área. Três aviões civis que estavam pista de pouso foram destruídos. Ainda na sexta-feira, os insurgentes também afirmaram controlar um importante posto na fronteira entre a Líbia e a Tunísia, Qafr ben Ghirshir

No sábado, foi divulgado que jatos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) fizeram ataques aéreos durante a noite em Trípoli e em Sirte, cidade natal de Muamar Kadafi – vista como o último grande foco de resistência do regime no país.

Os corpos de cerca de 53 pessoas foram encontrados em um galpão na capital líbia, depois de terem sido aparentemente executadas no início desta semana, afirmou o canal de televisão britânico Sky News. O correspondente da emissora, Stuart Ramsay, citou testemunhas ao afirmar que 150 pessoas foram mortas no local em 23 e 24 de agosto, enquanto forças rebeldes lutavam para tomar o controle da capital líbia.

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