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Liberdade religiosa

Condenação de mulher por blasfêmia na Indonésia causa reações violentas

Mulher foi declarada culpada de reclamar do volume da convocação islâmica. Lei está sendo usada para atingir minorias no país com a maior população de muçulmanos no mundo

Mesquita em construção na Indonésia | Pixabay
Mesquita em construção na Indonésia (Foto: Pixabay)

A condenação de uma mulher budista nesta semana por acusações de blasfêmia tem alarmado muitos na Indonésia que já estavam preocupados com a erosão do pluralismo religioso no país com mais muçulmanos no mundo. Meiliana, uma budista de 44 anos da ilha de Sumatra, foi declarada culpada na terça-feira por violar a controversa lei de blasfêmia e condenada a 18 meses de prisão. O crime dela: reclamar do volume da convocação islâmica à oração por uma mesquita perto de sua casa. 

No ano passado, o popular ex-governador de Jacarta, Basuki Tjahala Purnama, que é cristão, foi condenado a dois anos de prisão por supostamente desrespeitar o Alcorão, o que é considerado uma blasfemia .

Meiliana, que como muitos indonésios usa apenas um nome, pode apelar da decisão, embora condenações desse tipo raramente sejam revertidas. 

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As duas maiores organizações muçulmanas do país criticaram a condenação. "Não cometeu blasfêmia. O que ela fez foi oferecer uma queixa de boa vizinhança, e isso não é um insulto ao Islã", disse Ismail Hasani, especialista em direito da Universidade Estadual Islâmica de Jacarta e diretor de pesquisa do Instituto Setara de Democracia e Paz 

A Indonésia, uma democracia multiétnica formada por milhares de ilhas, reconhece oficialmente seis religiões como iguais perante a lei e durante muito tempo foi vista como uma das nações de maioria muçulmana mais tolerantes do mundo. Mas acontecimentos nos últimos anos, incluindo a condenação do ex-governador de Jacarta; uma legislação proposta para proibir atos homossexuais e o surgimento de grupos políticos islâmicos, têm preocupado os defensores da abordagem secular. 

Neste mês, o presidente Joko Widodo, relativamente moderado,  surpreendeu seus partidários mais liberais ao anunciar que seu companheiro de chapa na candidatura à reeleição, em 2019, será o clérigo islâmico Ma'ruf Amin. No seu papel como chefe do Conselho Ulema Indonésio, Amin foi influente para estimular a prisão do ex-governador, um ex-aliado de Widodo. 

Debate 

O caso de Meiliana tornou-se parte do debate maior sobre o pluralismo religioso. Na quinta-feira, dezenas de milhares assinaram uma petição on-line pedindo a Widodo para "libertar Meiliana e defenda a tolerância!" 

O caso também provocou discussões sobre o chamado à oração e o volume. "Eu amo o som do azan", disse a comediante indonésia Sakdiyah Ma'ruf em sua conta no Twitter, referindo-se ao chamado para a oração. "Mas, na realidade, como uma muçulmana que acabou de ter um bebê, as altas chamadas ao amanhecer para as orações, vindas de várias mesquitas de uma só vez, podem ser perturbadoras". 

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Como o ex-governador, Meiliana faz parte da minoria étnica chinesa na Indonésia, que tem sido frequentemente alvo de discriminação. A Human Rights Watch aponta que a lei da blasfêmia tem sido usada para perseguir uma ampla gama de grupos. A entidade estima que, pelo menos, 22 pessoas foram condenadas pela lei desde que Widodo assumiu o cargo em 2014. Juntamente com grupos como a Anistia Internacional e o Instituto Setara, a Human Rights Watch está ativamente em campanha para revogar a lei da blasfêmia. 

"Esses casos de blasfêmia infringem os direitos das pessoas", disse Hasani. “E parece que, provavelmente, o presidente não se importa muito com esse problema".

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