Dezenas de milhares de pessoas protestaram esta sexta-feira contra o regime de Bashar al-Assad no centro da Síria, país cujas autoridades foram formalmente acusadas pelo Conselho de Direitos Humanos da ONU de "crimes contra a humanidade" pela morte de mais de 4 mil pessoas em nove meses de repressão.
Em uma sessão extraordinária celebrada esta sexta-feira (02) e convocada após a publicação de um chocante relatório sobre os crimes contra a humanidade atribuídos ao regime sírio, o Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU condenou, com uma resolução aprovada por uma esmagadora maioria dos 47 membros, "as violações estendidas, sistemáticas e flagrantes" dos direitos humanos e das liberdades fundamentais na Síria.
A resolução foi aprovada por 37 votos a favor, 6 abstenções e 4 votos contrários, de Cuba, Equador, Rússia e China.
Em uma primeira reação, a chancelaria russa considerou "inaceitável" a condenação da Síria pelo CDH e denunciou a possibilidade subjacente de uma intervenção militar no país.
Através da resolução, o CDH decidiu "transmitir" o relatório da comissão de investigação internacional publicado na segunda-feira ao secretário-geral da ONU visando a uma "ação apropriada".
Ao falar no início da sessão, a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, destacou que desde o mês de março mais de 4.000 pessoas morreram em atos violentos na Síria, entre elas 307 crianças.
Segundo especialistas da comissão, as forças de segurança mataram 56 crianças em novembro, o mês mais mortal desde o início da violência, em março.
"A repressão brutal" das autoridades sírias, "se não for finalizada agora" pode mergulhar o país "em uma guerra civil total", advertiu Pillay.
Em Sofia, Burhan Ghaliun, chefe do Conselho Nacional Sírio (CNS) que reúne parte da oposição, pediu que a ajuda internacional aos opositores do regime de Damasco "seja cada vez mais concreta".
"Só uma ação coletiva da comunidade internacional é capaz de dissuadir a máfia síria que hoje está no poder para que ceda diante da luta do seu povo", declarou depois de um encontro com o chanceler búlgaro, Nikolai Mladenov.
Sanções
A União Europeia anunciou na quinta-feira (1) novas sanções contra a Síria e nesta sexta-feira (2) publicou uma lista de personalidades e entidades sírias que passarão a sofrer sanções, incluindo dois milistros, militares, órgãos de imprensa e empresas petroleiras.
A petroleira anglo-holandesa Shell anunciou que cessará suas atividades neste país no rastro das sanções impostas pela UE.
A Shell é, ao lado da francesa Total, a principal companhia estrangeira na Síria. A empresa francesa decidiu continuar suas atividades no país, embora tenha reconhecido que as sanções europeias terão "um impacto", informou um porta-voz, explicando que os sócios sírios da Total não constam da lista da UE.
Na quarta-feira (30), a Turquia decidiu impor sanções à Síria, na mesma linha da Liga Árabe.
Em Ancara, o vice-presidente americano, Joe Biden, pediu esta sexta-feira ao presidente al-Assad que deixe o poder para permitir uma "transição pacífica".
Mas apesar das pressões e condenações, na prática a repressão às manifestações não cede. Esta sexta-feira, dezenas de milhares de manifestantes protestaram no centro do país.
Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), as manifestações mais importantes ocorreram na região de Homs, principal foco de protestos contra o regime, e na cidade de Hama, mais ao norte.
"Em 17 bairros de Homs e em nove cidades vizinhas, dezenas de milhares de pessoas pediram a criação de uma zona de interposição para garantir sua proteção", afirmou à AFP o presidente do OSDH, Rami Abdel Rahman, que mencionou uma importante manifestação em Hama.
Protestos
Também houve protestos menores em Alepo (norte), na província de Damasco e na região de Deraa (sul).
Paralelamente, houve marchas a favor do regime em várias cidades, como Damasco e as costeiras Jable e Tartus, para "denunciar medidas tomadas pela Liga Árabe contra a Síria e repudiar as tentativas de ingerência nos assuntos internos" do país, segundo a agência de notícias oficial Sana.
Nesta sexta-feira, outros sete civis morreram na Síria. Uma mulher e um idoso morreram atingidos por disparos das forças de segurança em Homs, segundo o OSDH, que mencionou "discórdias entre os militares" nesta região.
Um homem morreu em Hama atingido por disparos de um franco-atirador, segundo a mesma fonte, que indicou, ainda, que três pessoas faleceram atingidas por disparos na região de Idleb (noroeste), e outra em Deir Atiye (região de Damasco).
Na fronteira libanesa, dezenas de pessoas ficaram feridas esta sexta-feira atingidas por disparos de metralhadora em Tall Kalaj, informou o OSDH, segundo o qual esta cidade da província de Homs é palco, desde a quarta-feira, de vários ataques das tropas regulares do regime.
Como a PF costurou diferentes tramas para indiciar Bolsonaro
Cid confirma que Bolsonaro sabia do plano de golpe de Estado, diz advogado
Problemas para Alexandre de Moraes na operação contra Bolsonaro e militares; assista ao Sem Rodeios
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
Deixe sua opinião