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Conflito em área de fronteira entre Brasil e Venezuela tem mortos

 | Nelson Almeida/AFP
(Foto: Nelson Almeida/AFP)

O ‘Dia D’ da missão humanitária na Venezuela, neste sábado (23), foi marcado por fortes confrontos nas fronteiras com o Brasil e a Colômbia. Caminhões e manifestantes tentaram romper os bloqueios militares venezuelanos para fazer entrar cargas com alimentos, remédios e outros mantimentos. O saldo foi trágico.

Três pessoas morreram na cidade venezuelana de Santa Elena De Uairén, próxima à fronteira com o Brasil, por disparos de armas de fogo, segundo funcionários de saúde venezuelanos. Outros 13 feridos foram transferidos para hospitais no Brasil, quatro deles com ferimentos a bala. Há feridos ainda em atendimento no hospital de Santa Elena. O diretor da ONG Foro Penal, Alfredo Romero, afirmou ao canal venezuelano NTN24 que os mortos seriam quatro, mas não há confirmação oficial.

Em Pacaraima (RR), segundo moradores, forças de segurança impediram manifestantes de se aproximar da fronteira com bombas de gás lacrimogêneo. Imagens do canal Globonews mostraram manifestantes, do lado venezuelano da fronteira, atirando coquetéis molotov contra um posto do exército venezuelano, que acabou incendiado, por volta de 18h45 (horário de Brasília).

Em resposta, a Guarda Nacional Venezuelana avançou e atirou bombas de gás, forçando os venezuelanos a recuar de volta ao lado brasileiro da fronteira. Poucos minutos depois, os venezuelanos tentaram mais uma vez avançar sobre as posições dos militares, e chegaram a retirar a bandeira venezuelana que fica no marco que separa Brasil e Venezuela. Ao menos um manifestante teve de ser socorrido, supostamente por inalar gás.

O tumulto entre venezuelanos e as forças leais ao ditador Nicolás Maduro fez com que dois caminhões que levariam ajuda humanitária à Venezuela fossem trazidos de volta para Pacaraima, longe da fronteira. Dois caminhões já tinham cruzado a fronteira, mas ainda não tinham sido liberados para entrar livremente em território venezuelano.

Caminhões incendiados na fronteira com a Colômbia

A tensão também foi grande durante todo o dia na fronteira entre Venezuela e Colômbia. Dois caminhões que levavam mantimentos da Colômbia para a Venezuela foram queimados na ponte Santander, que liga a colombiana Cúcuta à Ureña, segundo o departamento de migração da Colômbia. Nuvens de fumaça negra subiram e se espalharam pelo ar.

Os caminhões estavam em uma caravana de quatro veículos que tentaram seguir viagem depois que os manifestantes romperam uma barreira de obstáculos erguida pela Guarda Nacional Venezuelana. Uma multidão tentou retirar as caixas com os suprimentos dos caminhões enquanto o fogo destruía os carregamentos.

“O regime usurpador se vale dos atos mais vis e tenta queimar um caminhão com ajuda humanitária que se encontra em Ureña. Nossos valentes voluntários estão fazendo uma corrente para proteger a comida e os remédios”, escreveu em uma rede social o líder oposicionista Juan Guaidó, reconhecido como presidente interino da Venezuela por cerca de 50 países. “O regime usurpador viola o Protocolo de Genebra, no qual se diz claramente que destruir ajuda humanitária é um crime de lesa-humanidade”, afirmou Guaidó.

Antes, militares e policiais lançaram gás lacrimogêneo e balas de borracha contra os manifestantes, deixando ao menos seis feridos, nas pontes Simón Bolívar e Santander, que ligam Cúcuta a San Antonio e Ureña, na Venezuela. Na linha de frente, os manifestantes jogavam pedras para tentar forçar o recuo dos militares. A fronteira entre os dois países foi fechada na noite de sexta-feira (22) por ordem do ditador Nicolás Maduro.

Os feridos são manifestantes que faziam parte de uma “corrente humanitária” para fazer passar a assistência. “Eles começaram a disparar à queima-roupa como se fôssemos criminosos”, afirmou o lojista Vladimir Gomez, 27, à agência de notícias Reuters, com uma camiseta branca manchada de sangue.

“Sou dona de casa, estou aqui lutando pela minha família, por meus filhos, por meus pais, resistindo ao gás lacrimogêneo dos militares”, afirmou à Reuters Sobeida Monsalve, 42.

Momentos antes, Guaidó subiu em um dos caminhões em sinal de partida. “A ajuda humanitária está definitivamente a caminho da Venezuela, de maneira pacífica, para salvar vidas neste momento”, disse o líder opositor. Não ficou claro se ele tentou cruzar a fronteira com o comboio.

“Pequena rusga”, diz coronel brasileiro

Após o incidente na fronteira em Pacaraima, o coronel brasileiro Jacaúna de Souza disse a jornalistas que o conflito entre venezuelanos e militares do regime Maduro “foi um episódio lamentável. Ninguém esperava que isso acontecesse no nosso território. Recebemos uma chuva de gás lacrimogêneo. Esperamos que isso não fique assim. Que alguma coisa seja feita pelo nosso governo”.

Questionado se considerava o incidente um ataque, respondeu que houve uma “pequena rusga na fronteira”: “A fronteira está reforçada, protegida. Não existe mínima possibilidade de sermos invadidos.” Em entrevista à TV Globo, o coronel Souza disse que os militares venezuelanos também fizeram disparos com munição real contra os manifestantes.

O governo brasileiro confirmou que dois caminhões carregados com itens de ajuda humanitária cruzaram neste sábado a fronteira entre o Brasil e a Venezuela, “adentrando o país vizinho, sem incidentes na travessia.” Em nota, a Presidência da República afirmou que “a participação do governo brasileiro foi exitosa em reunir e transportar as doações até o destino de distribuição”.

No entanto, os dois caminhões enviados pelo Brasil retornaram à cidade fronteiriça de Pacaraima, após terem permanecido estacionados na fronteira durante o dia, segundo os correspondentes da AFP no local.

A ação, que tem o apoio dos Estados Unidos, foi anunciada pelo líder opositor Juan Guaidó, que se autoproclamou presidente interino da Venezuela, numa afronta ao ditador Nicolás Maduro.

O objetivo da operação de envio de alimentos, medicamentos e produtos de primeira necessidade à Venezuela é reduzir a fidelidade de militares a Maduro, uma vez que bloquear a passagem da ajuda humanitária colocaria as forças de segurança contra uma população necessitada.

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