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O conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, que completa um mês nesta terça-feira (7), foi iniciado com os ataques em território israelense que deixaram 1,4 mil mortos.
Desde então, o Estado judeu vem realizando uma contraofensiva na Faixa de Gaza. O Ministério da Saúde do enclave (administrado pelo Hamas) disse que essa ação já provocou mais de 10 mil mortes no território palestino – os governos americano e israelense questionam esses números.
Ainda não é possível visualizar um desfecho, já que Israel garantiu que só ocorrerá um cessar-fogo em Gaza quando os cerca de 240 reféns mantidos pelo Hamas forem libertados.
Cada novo dia de guerra traz consigo uma grande preocupação: o risco de escalada, com a entrada de outros agentes no conflito e uma expansão das hostilidades para outras regiões do Oriente Médio.
Desde o início da guerra, Israel já sofreu ataques do Hezbollah, grupo terrorista xiita baseado no Líbano, e dos rebeldes houthis do Iêmen, ambos apoiados pelo Irã. No Iraque e na Síria, bases dos Estados Unidos também foram alvos de grupos ligados a Teerã.
No momento, o temor é que ataques mais incisivos dessas facções expandam o conflito. Na sexta-feira (3), o líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que os ataques de 7 de outubro em Israel foram realizados exclusivamente pelo Hamas, mas afirmou que seu grupo está preparado “para todas as opções” e pode “recorrer a elas a qualquer momento”.
“Alguns dizem que vou anunciar que entramos na batalha. Já entramos na batalha em 8 de outubro”, afirmou, referindo-se às ações que o Hezbollah vem realizando ao norte de Israel desde o dia seguinte aos ataques terroristas do Hamas.
Nasrallah disse que uma entrada mais incisiva do grupo xiita libanês na guerra, caso ocorra, “não ficaria limitada” à escala dos ataques que promoveu até agora.
Os Estados Unidos têm realizado movimentos de dissuasão no Oriente Médio, ao enviar porta-aviões e um submarino nuclear e mobilizar soldados na região.
“Estamos trabalhando arduamente para garantir que o conflito em Gaza não tenha uma escalada, não se espalhe para outros locais – quer seja aqui, quer seja outro local da região”, disse o secretário de Estado americano, Antony Blinken, em visita no fim de semana ao Iraque, onde esteve após a terceira visita a Israel desde o começo da guerra.
“Todos estão procurando tomar as medidas necessárias, usar sua autoridade, usar sua influência para tentar garantir que o conflito pare e isso [uma escalada] não aconteça”, afirmou.
Embora tenha alertado sobre “duras consequências” em resposta à contraofensiva de Israel em Gaza, o Irã, agente oculto (nem tão oculto assim) no conflito, ainda não sinalizou entrada direta na guerra. Entretanto, com a situação extremamente instável no Oriente Médio, qualquer erro pode fazer a crise se espalhar, alertam especialistas.
“É uma situação altamente volátil, incerta e assustadora”, disse Jason Bordoff, diretor do Centro de Política Energética Global da Universidade de Columbia, ao New York Times.
“Há um reconhecimento entre a maioria das partes, os Estados Unidos, a Europa, o Irã, outros países do Golfo [Pérsico], que não é do interesse de ninguém que este conflito se expanda significativamente para além de Israel e Gaza”, disse Bordoff, que acrescentou, entretanto, que “erros, falhas de comunicação e mal-entendidos” podem levar os países a escalar o conflito, “mesmo que não queiram”.
Jon Alterman, vice-presidente sênior do think tank americano Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, concordou com essa hipótese em entrevista à NBC News. “O perigo não é que o Irã declare guerra, mas que algum comandante de campo faça algo estúpido e a questão se agrave dentro de um dia”, alertou.
Especialista alerta que Israel precisa dosar ataques em Gaza
Em entrevista à Gazeta do Povo, Sandro Teixeira Moita, professor do programa de pós-graduação em ciências militares da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), apontou que o Irã deve se envolver na guerra do jeito que já está fazendo: indiretamente.
“Não há interesse do Irã de lutar convencionalmente. É um país alvo de muitas sanções, tem uma tecnologia militar que obviamente não pode ser desprezada, como vemos no uso dela pela Rússia contra a Ucrânia, mas Teerã busca sempre fazer a guerra por meio de movimentos por procuração, que é o que está fazendo por meio do Hamas, da Jihad Islâmica e do Hezbollah”, afirmou Moita.
O Hezbollah, que tem o maior poderio entre os grupos apoiados pelo Irã, em tese representa o maior perigo para Israel, mas Moita apontou que sua força está limitada atualmente.
“Seria muito difícil para o Hezbollah entrar agora em um combate com Israel em grande escala, como foi em 2006, porque ele tem mais da metade do seu efetivo fora, na Síria, e não pode sair de lá porque está apoiando o [ditador Bashar al-]Assad. Mas isso não vai impedir o Hezbollah de fazer ações para dizer que está no jogo, como está fazendo”, explicou.
“O Hezbollah foi pego de surpresa, mas reagiu de forma a travar as forças israelenses que estavam no comando norte de descer para ajudar o sul. Isso, na terminologia militar, é uma ação clássica de fixação do inimigo”, disse Moita.
O especialista alertou, entretanto, que Israel precisa dosar seus ataques em Gaza para evitar uma escalada no conflito.
“Embora use muito poder de fogo, tem que entrar de maneira gradual, lenta e segura, até para tentar minimizar as baixas civis palestinas. Porque isso pode gerar uma reação grave do mundo islâmico, que seria contraproducente para Israel”, afirmou.
“Ainda que apoiado pelos Estados Unidos, o país pode se ver isolado na região, não no sentido de que os vizinhos vão atacá-lo, mas sim que eles podem tolerar mais a presença de movimentos terroristas anti-Israel nos seus territórios”, disse Moita.