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Há um ano, o Likud, partido de Benjamin Netanyahu, venceu a quinta eleição realizada em Israel em menos de quatro anos e o político veterano voltou ao Executivo israelense após apenas 18 meses fora.
O primeiro-ministro já enfrentava uma crise política antes do início da guerra contra o Hamas, devido aos grandes protestos contra sua proposta de reforma do Judiciário, e desde o início do conflito Netanyahu vem acuado por cobranças de que a inteligência israelense falhou ao não conseguir prevenir os ataques terroristas de 7 de outubro.
Uma pesquisa divulgada pelo jornal Maariv no mês passado mostrou que 80% dos israelenses acreditam que Netanyahu deveria assumir publicamente a responsabilidade por esse erro, incluindo 69% dos que votaram no Likud há um ano.
Outro levantamento, realizado este mês pela Universidade de Tel Aviv para uma emissora de TV israelense, indicou que apenas 18% da população de Israel quer que o primeiro-ministro continue no cargo; 76% dos entrevistados querem que ele renuncie: 47% desejam que ele o faça depois que a guerra contra o Hamas acabar e 29% que isso aconteça imediatamente.
Yossi Mekelberg, integrante do Programa sobre Oriente Médio e Norte da África do think tank britânico Chatham House, destacou em artigo recente que, antes do desgaste pela reforma do Judiciário, Netanyahu já sofria de um “grave déficit de legitimidade” devido a acusações de corrupção, que limitaram suas opções de parceiros de coligação em 2022. Os ataques do Hamas ampliaram a insatisfação.
“Evidentemente, a maioria dos israelenses está sofrendo com o que aconteceu e preocupada com o futuro. Eles também veem o atual governo, e Netanyahu pessoalmente, como responsáveis por este desastre – e incapazes de liderar Israel para além do conflito imediato”, afirmou Mekelberg.
Porém, para o coordenador da Pós-graduação em Direito Internacional e Direitos Humanos da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Rudá Ryuiti Furukita Baptista, o primeiro-ministro israelense enfrenta claramente mais dificuldades do que antes da guerra, mas não está morto politicamente.
Em entrevista à Gazeta do Povo, Baptista afirmou que Netanyahu soube articular um governo de união nacional com a oposição (válido apenas até o fim do conflito) e “colocar a necessidade de uma contraofensiva” em Gaza.
“Isso não quer dizer que deixaram de lado a discussão sobre a reforma do Judiciário, os conflitos entre direita e centro-esquerda, isso não fica superado com o conflito”, salientou o analista.
Porém, uma vitória em Gaza pode ajudar Netanyahu (ainda que não haja “como definir uma verdadeira vitória num conflito desse porte”, afirmou Baptista) e sua experiência e capacidade política podem propiciar uma reviravolta.
“Tratando-se desse primeiro-ministro, tudo é possível, porque ele é o premiê com o maior número de mandatos da história de Israel [está no sexto], tem uma capacidade como agente político muito forte. Não foi ministro apenas das Relações Exteriores, também foi diplomata junto à ONU, dessa forma, sabe lidar com a política internacional e com a noção de agenda. Então, é alguém que não tem como ser descartado como um político de virada de jogo”, disse Baptista.
Num contexto de instabilidade política que vinha antes da última eleição de Netanyahu, novas parcerias podem surgir – até mesmo com a retomada de laços com grupos que viraram a cara para o premiê.
“Em se tratando de político profissional, o movimento de agentes políticos desse porte, com esse currículo, eles têm margem de manobra muito grande”, afirmou Baptista.
“Muito provavelmente, se necessário para a manutenção de um governo, diante de eventual necessidade até de mudança de pensamento, ainda que apenas para a corrida eleitoral ou para a formação de grupos para conseguir ter força e poder governamental, eu acredito que ele [Netanyahu] tem potencial para criar reviravoltas internas”, disse o especialista.