O brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da comissão internacional independente que investiga os crimes de guerra na Síria, alertou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU que o conflito atingiu um ponto crítico, ameaçando toda a região.
Para vocês, o conflito da Síria chegou a um ponto que ameaça a região. Por quê?
Faz pelo menos um ano que vínhamos advertindo isso. O perigo de a crise se espalhar para a região era uma coisa que estava prevista. Para nós, não foi surpresa.
A guerra da Síria ganhou outro contorno com o fortalecimento de jihadistas estrangeiros?
Não há a menor dúvida porque o Estado Islâmico do Iraque e do Levante [EIIL] passou a nem combater o governo. Estão combatendo outros grupos menos radicais dentro da Síria. Esses jihadistas foram importados para a Síria desde 2012. Combatentes estrangeiros foram se consolidando, conquistaram territórios, inclusive, recursos.
Isso significa o fim de grupos moderados de oposição na Síria?
Não estamos usando mais o qualificativo "moderado". Há dois grupos mais extremos na Síria: o EIIL e o Al-Nusra, que é mais ligado à Al-Qaeda. Eles tiveram poder de atração muito grande para outros grupos porque têm recursos e conquistaram território e até campos de petróleo. Os que atuaram no início da rebelião, os atores mais moderados e não militarizados, foram tragados por essa escalada da militarização.
Vocês previram isso ou subestimaram o poder dos jihadistas?
Desde 2012 estamos chamando atenção para o perigo de indivíduos e Estados financiarem e motivarem a ida de jihadistas para a Síria. Mas nosso chamado não adiantou muita coisa.
O EIIL estaria superando a Al-Qaeda como o mais perigoso grupo jihadista?
Calcula-se que eles têm muito mais recursos do que a Al-Qaeda, que tem uma verba estimada de US$ 30 milhões por ano. Em Mossul, o EIIL se apoderou de alguns recursos, até de ouro, da ordem de US$ 400 milhões. Eles têm parte do Exército que os Estados Unidos desmantelaram no Iraque e têm combatentes de outros grupos. Não é só o Isis que está lutando: é uma coalizão. Mas não temos detalhes sobre isso.