No pior incidente envolvendo disputas por terras no Paraguai nas últimas duas décadas, pelo menos seis policiais e dez camponeses sem-terra foram mortos ontem durante o cumprimento de uma ordem de desocupação na região de Curuguaty, no Paraguai, a cerca de 280 quilômetros de Foz do Iguaçu, no Oeste do estado. O confronto também deixou mais de 80 feridos. Parte precisou ser retirada da área com a ajuda de um helicóptero.
Ainda pela manhã, centenas de policiais cercaram a reserva natural de 2 mil hectares da fazenda do empresário Blas Riquelme à procura dos sem-terra, que atacaram a tiros os oficiais que se preparavam para iniciar a desocupação, por volta das 8 horas. Pouco antes do meio-dia, o presidente Fernando Lugo ordenou a intervenção das Forças Armadas. Ele garantiu que todos os órgãos de áreas estratégicas trabalharão para devolver a "calma e a segurança" ao país.
Durante o breve comunicado, Lugo também manifestou "seu apoio absoluto" às forças de ordem e apresentou suas condolências aos parentes das vítimas. O presidente convocou os ministros do Interior, da Defesa e o comandante das Forças Armadas para analisar a situação. Ao mesmo tempo, o Senado se reuniu em sessão extraordinária para debater a possível instauração de um estado de emergência na região.
Em entrevista à rádio 780 AM, um dos policiais que participou do confronto disse que a maioria dos tiros acertou o pescoço e a cabeça dos oficiais mortos, entre eles o chefe de Ordem e Segurança do estado de Canindeyú, Miguel Anoni, e o comandante e o subcomandante do Grupo Especial de Operações (GEO), Erven Lovera e José Sánchez.
De acordo com o ministro do Interior, Carlos Filizzola, "houve disparos por parte deles [sem-terra] e a polícia teve que responder".
Massacre provoca queda de ministro e comandante da polícia
O confronto que resultou na morte de policiais e sem-terra provocou uma nova crise no governo paraguaio. Diante da pressão do Senado e da Câmara de Deputados, o ministro do Interior, Carlos Filizzola, e o comandante da Polícia Nacional, Paulino Rojas, colocaram os cargos à disposição do presidente Fernando Lugo, que acabou acatando a decisão de ambos. Os novos nomes devem ser anunciados ainda hoje.
As destituições foram acordas durante reunião do presidente com o conselho dos ministros para discutir de que forma o governo deverá agir em relação aos ataques violentos e à ocupação de terras no estado de Canindeyú. Senadores, deputados e ministros da Corte Suprema de Justiça também se reuniram em sessões extraordinárias no início da noite para tratar do caso.
Ao anunciar sua saída, Filizzola disse que cabe ao presidente escolher aqueles que devem ocupar os cargos de ministro, os quais devem ser de sua inteira confiança. Afirmou ainda que continuará atuando como ativista político do oficialismo e apoiando as ações de Lugo. "Eu não renunciei. Coloquei a disposição meu cargo e o presidente da República aceitou, o mesmo aconteceu com o comandante da Polícia."Mais cedo, Filizzola havia afirmado que não tinha motivos para deixar o governo em meio à crise desencadeada pelo confronto.
87 mil famílias esperam receber terra do governo, segundo dados do movimento de sem-terra do Paraguai.