Governistas e rebeldes se enfrentaram na quinta-feira com armas pesadas na área central de Abidjan, a principal cidade da Costa do Marfim, depois da chegada das forças de Alassane Ouattara, reconhecido pela ONU como vencedor da eleição presidencial de novembro.
O conflito se intensificou depois que o grupo de Ouattara declarou que o atual presidente, Laurent Gbagbo, tinha apenas horas no poder.
Moradores disseram que os combates se tornaram pesados perto da TV estatal, a RTI, bem como em bairros no sul da cidade, depois que as forças de Ouattara avançaram rapidamente em Abidjan, vindas de diferentes direções.
Unidades de elite de Gbagbo se posicionaram ao redor do palácio presidencial enquanto soldados franceses foram deslocados pela cidade para proteger residentes estrangeiros. Um helicóptero de guerra da Organização das Nações Unidas (ONU) sobrevoou a área.
Gbagbo se recusou a deixar o poder depois da eleição de novembro, cujos resultados, dando vitória a Ouattara, foram endossados pela ONU. O impasse decorrente da atitude de Gbagbo desencadeou um conflito que deixou centenas de mortos e fez ressurgir o cenário da guerra civil de 2002-03.
"Peço a vocês que sirvam a seu país. É tempo de se unir a seus irmãos nas Forças Republicanas", afirmou Ouattara em um comunicado destinado a encorajar a deserção dos membros das forças de segurança leais a Gbagbo.
O governo da África do Sul disse que o chefe do Estado Maior do Exército, general Phillippe Mangou, se refugiou na residência do embaixador sul-africano em Abidjan, em um dos maiores reveses à estrutura de poder de Gbagbo.
O governo dos Estados Unidos afirmou que Gbagbo se enfraqueceu "significativamente" por causa de deserções e da desintegração de suas tropas.
Fontes na área de segurança disseram que alguns dos integrantes da polícia militar se uniram ao campo de Ouattara, mas outros permaneciam leais a Gbagbo.
As tropas da ONU também estão agora controlando o aeroporto de Abidjan, depois que as forças favoráveis a Gbagbo abandonaram o local, disseram fontes da ONU e do setor de segurança do país.
O primeiro-ministro do governo formado por Ouattara, Guillaume Soro, declarou que Gbagbo tinha somente duas ou três horas remanescentes no poder e que "o jogo acabou."
Numa dramática arrancada em quarto dias, as forças pró-Ouattara chegaram a Abidjan depois de tomarem o porto de San Pedro, importante para o escoamento do cacau --do qual o país é o principal produtor mundial--, e de terem capturado a capital, Yamoussoukro, avançando centenas de quilômetros desde o início da semana.
O governo de Ouattara, até o momento bloqueado em um hotel de Abidjan, anunciou um toque de recolher à noite, por três dias, e ordenou o fechamento das fronteiras marítima, terrestre e aérea até nova decisão, segundo um comunicado de seu Ministério do Interior.
Segundo a ONU, foram confirmadas as mortes de 494 pessoas no conflito desde que o impasse começou, após as eleições, e a crise humanitária se agrava: 1 milhão de pessoas tiveram de deixar suas casas em Abidjan.
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