Ouça este conteúdo
A retomada dos ataques na fronteira entre Armênia e Azerbaijão nesta terça-feira (13) levantou temores da eclosão de uma segunda guerra no espaço da antiga União Soviética, hostilidades que chegam no pior momento para a Rússia, que tenta mediar, mas agora está imersa na campanha de guerra na Ucrânia.
O confronto armado entre os dois países explodiu pouco depois da meia-noite de hoje em diferentes pontos da fronteira comum com o uso de armas de diferentes calibres, incluindo morteiros e drones.
Um cessar-fogo facilitado pela Rússia até agora não foi cumprido, embora haja uma redução significativa na intensidade dos bombardeios, segundo a Armênia.
Armênia e Azerbaijão, em desacordo desde a década de 1980 sobre Nagorno-Karabakh - reconhecido internacionalmente como território do Azerbaijão, mas povoado por armênios étnicos - acusam-se mutuamente de ataques fronteiriços, que se repetem esporadicamente.
No entanto, o conflito atual é o mais grave não apenas desde o fim da guerra de 44 dias no outono de 2020 pelo controle do enclave separatista, na qual o Azerbaijão derrotou a Armênia, mas também é o confronto mais sério na fronteira comum.
Os dois países nunca delimitaram a fronteira ao se envolverem no conflito por Nagorno-Karabakh antes da desintegração da União Soviética.
De acordo com Yerevan, pelo menos 49 soldados armênios foram mortos e três civis ficaram feridos nos últimos ataques. Por sua parte, Baku informou que entre as fileiras do Azerbaijão também houve perdas, mas sem especificar o número.
A versão da Armênia é que o Exército azeri atacou em sete direções e "tentou avançar", enquanto o Azerbaijão afirma que suas tropas tiveram que tomar "medidas de resposta decisivas" para suprimir o fogo armênio e atos de sabotagem em três pontos da fronteira.
O primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, pediu imediatamente a ativação do Tratado de Amizade, Cooperação e Assistência Mútua assinado entre Yerevan e Moscou em 1997, que inclui a possibilidade de assistência militar da Rússia.
Desde meados da década de 1990, a Rússia tem uma base militar na cidade de Gyumri, no nordeste da Armênia.
Durante a última guerra em Nagorno-Karabakh, cujo cessar-fogo também foi facilitado pela Rússia, as autoridades armênias não puderam recorrer ao Kremlin, porque os combates ocorreram em território azerbaijano reconhecido internacionalmente.
Pashinyan também pediu ajuda da aliança militar pós-soviética liderada pela Rússia, a Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC), que interveio no último mês de janeiro com tropas de paz no Cazaquistão, e do Conselho de Segurança da ONU.
Rússia e OTSC tentam reduzir tensão
A Rússia, longe de falar em uma possível intervenção militar, ressaltou que o conflito entre as duas partes deve ser resolvido "exclusivamente por meios políticos e diplomáticos".
Além disso, argumentou que as questões de fronteira devem ser abordadas no âmbito da comissão bilateral com a assistência de Moscou.
Já a OTSC, que agrupa seis ex-repúblicas soviéticas (Rússia, Armênia, Belarus, Cazaquistão, Quirguistão e Tajiquistão), destacou que ativou "os mecanismos para a resolução da situação", sem revelar mais detalhes.
No entanto, reiterou que o uso da força é "inaceitável".
Momento ruim
A França, por sua vez, anunciou que levará o confronto ao Conselho de Segurança da ONU, onde exerce agora a presidência.
Para a Europa e especialmente para a Rússia, uma nova frente de batalha no Cáucaso Sul aconteceria no pior momento devido à guerra na Ucrânia.
"A Rússia tem apenas ferramentas políticas na região para chamar as partes à paz. Não tem recursos militares. Duas mil de suas forças de paz em Karabakh e uma base militar na Armênia não são um recurso que a Rússia possa usar", afirmou à Agência Efe o diretor do Instituto do Cáucaso com sede em Yerevan, Alexandr Iskanderian.
O analista de segurança regional Vakhtang Maisaya observou, por sua vez, que "o Azerbaijão, percebendo que a Rússia estava se enfraquecendo na guerra com a Ucrânia, decidiu agir", porque está confiante de que a Rússia não enviará suas tropas para lutar pela Armênia.
Além disso, o ex-ministro das Relações Exteriores do Azerbaijão, Tofik Zulfugarov, argumentou que "não é do interesse da Rússia, dadas suas dificuldades na Ucrânia, complicar as relações com o Azerbaijão e o principal aliado do Azerbaijão: a Turquia".
As ligações internacionais aconteciam entre Pashinyan e as lideranças francesa, americana e russa, enquanto a equipe do presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, se comunicava com Moscou e Ancara, o grande aliado que ajudou Baku política e militarmente a derrotar a Armênia em Nagorno-Karabakh há dois anos.
Europa e EUA pedem pelo fim do conflito
O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavusoglu, exortou a Armênia a "parar com suas provocações e se concentrar nas negociações de paz e na cooperação com o Azerbaijão".
O confronto renovado entre a Armênia e o Azerbaijão ocorre duas semanas depois que Pashinyan e Aliyev concordaram em Bruxelas em intensificar os trabalhos para avançar em direção a um tratado de paz.
Pashinyan assegurou hoje no Parlamento que "ficou claro" que Baku não quer discutir as propostas armênias sobre as negociações de paz.
Os EUA foram o primeiro país a pedir a cessação imediata de todas as hostilidades entre as duas nações, seguidos pela Geórgia e pela Ucrânia.
O Irã, que faz fronteira com a Armênia e o Azerbaijão, alertou que não aceitará mudanças nas fronteiras.
Por sua parte, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, pediu um cessar-fogo completo e sustentável, enquanto o alto representante de Relações Exteriores da União Europeia (UE), Josep Borrell, acionou o enviado especial para o Cáucaso Sul e a crise na Geórgia, Toivo Klaar, para viajar "imediatamente" para a Armênia e o Azerbaijão para tentar acalmar as tensões.
Por fim, o representante especial da Otan para o Cáucaso Sul e Ásia Central, Javier Colomina, também pediu a cessação das hostilidades e uma desescalada urgente.