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Dez soldados franceses morreram e 21 ficaram feridos em um violento confronto nos arredores de Cabul, informaram autoridades locais nesta terça-feira. Trata-se do mais mortífero incidente em mais de três anos para as forças estrangeiras presentes no Afeganistão.

Logo depois da divulgação da notícia, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, anunciou que viajaria imediatamente a Cabul. Os soldados franceses, da unidade de pára-quedistas e da Legião Estrangeira, foram mortos numa emboscada na noite de ontem na região de Surobi.

Em outro incidente, na manhã desta terça-feira, vários insurgentes, incluídos seis homens-bomba suicidas, atacaram a segunda base mais importante dos Estados unidos no Afeganistão, o Camp Salerno, que serve como um terminal logístico para operações no leste afegão. Sete militantes foram mortos, informou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), cinco soldados afegãos e dois da Otan ficaram feridos. Três dos homens-bomba foram mortos a tiros antes de se explodiram e três outros se explodiram após terem se rendido, ferindo soldados que estavam ao redor.

Autoridades afegãs disseram que o confronto com os franceses ocorreu ontem à noite no distrito de Surobi, na província de Cabul, cerca de 50 quilômetros ao leste da capital do país.

Um funcionário do governo local disse à Associated Press que dez soldados franceses morreram no incidente. Outra fonte disse que quatro soldados foram capturados e posteriormente, mortos. Os dois conversaram com a AP sob condição de anonimato.

Uma fonte ocidental descreveu o episódio como "complexo".

Soldados franceses seguiram hoje para a região dos confrontos a bordo de veículos blindados enquanto parte do contingente impedia a aproximação de civis. Testemunhas disseram que helicópteros sobrevoavam a área.

A região é conhecida como um bastião rebelde e houve uma série de confrontos ali entre soldados da Otan e insurgentes. O general francês Jean-Louis Georgelin disse hoje que a maior parte das baixas francesas ocorreu quando os soldados foram emboscados durante uma missão de reconhecimento a um passo nas montanhas. As forças travaram combate com os rebeldes e a luta durou horas. A Otan mandou reforços e disse que "um grande número" de insurgentes foram mortos. Oficiais afegãos disseram que 13 militantes foram mortos. Combatentes do Taleban e insurgentes aliados ao chefe da guerra renegado Gulbuddin Hekmatyar operam na região. Mais tarde, o Taleban assumiu o combate contra os franceses.

Até o fim de agosto, o contingente francês no Afeganistão subirá para 2,6 mil soldados. Em abril, Sarkozy havia prometido enviar mais 700 homens ao país asiático.

O ataque contra os franceses é a mais mortífera ação rebelde contra militares estrangeiros no Afeganistão desde junho de 2005, quando 15 soldados americanos foram mortos na província de Kunar depois de o helicóptero no qual viajavam ter sido abatido por uma granada propelida por foguete.

O ano de 2008 deverá ser o mais sangrento para as tropas ocidentais no Afeganistão desde a invasão americana de novembro de 2001. No total, 178 soldados da coalizão, incluídos 96 americanos, foram mortos no Afeganistão neste ano, segundo contagem da Associated Press. Mais de 3,4 mil pessoas, a maioria militantes do Taleban, foram mortos na rebelião afegã neste ano.

Com o ritmo de confrontos e mortes, 2008 ultrapassará 2007 como o ano mais sangrento para as tropas ocidentais, quando foram mortos 222 militares.

No ataque de hoje ao campo Salerno, os militares da Otan disseram que militantes do Taleban, vestidos com fardas, se aproximaram do portão principal da base e iniciaram o ataque. As forças da Otan tiveram que usar aviões para conter os rebeldes. A Otan informou em comunicado que três homens-bomba detonaram os explosivos após terem sido rendidos pelos soldados; outros três foram abatidos a tiros antes de se explodirem.

O general Zahir Azimi, porta-voz do Ministério da Defesa do Afeganistão, ofereceu um relato um pouco diferente: segundo ele, os seis homens-bomba se explodiram, e sete outros militantes foram mortos a tiros na batalha contra tropas da Otan e afegãs. Cinco soldados afegãos foram feridos, ele disse.

O Taleban confirmou o ataque. Um porta-voz do grupo no Afeganistão, Zabiullah Mujahid, disse que 15 militantes foram enviados para o ataque ao campo Salerno. Segundo ele, sete eram homens-bomba que se explodiram e oito conseguiram regressar para um esconderijo do Taleban. Mujahid disse que o Taleban também assume o ataque aos franceses.

Ainda nesta terça-feira, o presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, disse que tentará se reeleger no próximo ano, para finalizar o trabalho que iniciou em seu país. Em uma admissão também dos seus erros após quatro anos no cargo, Karzai disse que o Afeganistão ainda não tem um governo em pleno funcionamento, a corrupção permanece galopante e o povo afegão "ainda sofre de maneira enorme" em meio à luta contra o terror.

"Então eu tenho um trabalho a fazer, um trabalho a completar. Nesse sentido, é certo, eu gostaria de concorrer," disse um tranqüilo Karzai à Associated Press, no palácio presidencial em Cabul.

Algumas das mais duras críticas a Karzai vieram da sua inabilidade em combater o florescente tráfico de ópio (matéria-prima da heroína) no país, ao qual seus aliados políticos e mesmo seu meio-irmão Ahmed Wali foram implicados. Wali é chefe do conselho provincial da província de Kandahar.

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