Pelo menos oito pessoas morreram ontem em confrontos entre tribos rivais no disputado enclave de Abyei, na fronteira entre o norte e o sul do Sudão, informaram fontes dos dois lados. O Sudão do Sul deu início a um histórico referendo de secessão, no qual eleitores decidirão se o país deve permanecer unido ou dividir-se em duas nações. As votações durarão toda a semana.
Não há pesquisas confiáveis, mas o sentimento em Juba, capital do sul, é claramente pró-separação.
Para isso ocorrer, no entanto, o quórum precisa ser de 60%, o que não é simples em uma região do tamanho de Minas Gerais e praticamente sem estradas.
Pela capital local, a mão levantada virou um símbolo, representando o voto pela separação na cédula, um ícone gráfico pensado para uma região em que o analfabetismo adulto chega a 75%.
A outra opção é um desenho com as mãos apertadas, que significam a unidade. Em uma destas alternativas, terão de votar os 3,9 milhões de sudaneses registrados quando pressionarem seu polegar.
A Comissão de Referendo diz que "está 100% preparada", e que o resultado será anunciado até 22 de janeiro. "Esta é a forma de demonstrar que não somos cidadãos de segunda classe", afirma Lual Adal, parlamentar na Assembleia do sul. A região goza de autonomia desde os acordos de 2005, que encerraram uma guerra que deixou 2 milhões de mortos. "Estamos votando pelo resto de nossas vidas", diz ele.
No sul, mais de 50% da população vive com menos de US$ 1 por dia e a infraestrutura é quase inexistente. A região conta com enormes reservas de petróleo, que até o momento têm sido repartidas com o governo central. Isto, contudo, pode se tornar um problema. Teme-se que o governo central, de maioria árabe, não respeite o resultado.
O ditador sudanês Omar Bashir disse na última semana que o o sul não está pronto para se tornar um Estado. Se o voto for pela independência, haverá um período de adaptação de seis meses, até que nasça para valer o 193.º país do mundo. O nome da nova nação é uma incógnita. Pode ser Sudão do Sul ou Kush, nome de uma das primeiras civilizações da região sul do Rio Nilo, que se desenvolveu por volta do ano de 1500.