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Colômbia

Congresso colombiano mostra a Duque a nova correlação de forças políticas

O presidente da Colômbia, Iván Duque, faz seu discurso durante a instalação do novo Congresso, em Bogotá (Colômbia). (Foto: EFE/ Carlos Ortega)

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A nova correlação de forças políticas na Colômbia ficou evidenciada nesta quarta-feira (20)durante a instalação do Congresso Nacional eleito em 13 de março, na qual a oposição, que se tornará governo em 7 de agosto, mostrou seu repúdio à gestão do presidente em fim de mandato, Iván Duque.

O discurso de posse da nova sessão foi o último de Duque perante o Legislativo, que terá entre suas atribuições a aprovação das ambiciosas reformas propostas por seu sucessor, Gustavo Petro, que será o primeiro presidente de esquerda do país.

"Para o próximo governo e para o presidente eleito Gustavo Petro, desejamos sucesso em seu governo. Nossa prioridade é e sempre será a Colômbia", disse Duque ao final de um tenso discurso interrompido às vezes por vaias de parlamentares do Pacto Histórico, coligação pela qual foi eleito seu sucessor e que, mesmo sem ser maioria, constitui a maior bancada legislativa.

O primeiro momento de tensão, que obrigou a diretoria do Senado a pedir ordem no Salão Elíptico do Capitólio, aconteceu quando Duque falava de seu programa "Paz com Legalidade" e dos avanços sociais de seu governo, o que o forçou a interromper seu discurso por alguns segundos.

O clima acalorado foi observado em outros trechos do discurso, como quando o presidente, do partido de direita Centro Democrático, se referiu aos assassinatos de lideranças sociais, que só neste ano já ultrapassam a marca de 100 casos.

"Tráfico de drogas, plantações de coca, corrupção e grupos armados ilegais têm sido os verdadeiros inimigos e os responsáveis ​​pelos assassinatos de nossos líderes sociais. É uma realidade que nos enche de dor", afirmou Duque, acrescentando que seu governo ofereceu "a mais de 88% dos líderes de nossas comunidades garantias para sua proteção."

Essa declaração fez com que alguns congressistas da esquerda se levantassem de suas cadeiras e, em coro, o chamassem de "mentiroso".

Antes da chegada do presidente, parlamentares do Pacto Histórico já exibiam fotos de lideranças sociais assassinadas e cartazes com a frase "Paz Total" e a favor do aborto.

Balanço otimista

Em seu balanço, Duque destacou os programas do governo para lidar com a pandemia de Covid-19, de "magnitudes jamais imaginadas" que atingiu o mundo inteiro e esteve presente durante 30 dos 48 meses de seu governo, "sendo o maior desafio que qualquer presidente colombiano enfrentou".

Em relação ao investimento social, o presidente destacou que pela primeira vez "mais de 3,2 milhões de colombianos" tiveram acesso a água e saneamento básico, enquanto os jovens, que lideraram os protestos de rua de 2021 contra seu governo, se beneficiaram de programas formais de emprego e outras iniciativas em matéria de educação.

Falando em equidade, o presidente disse que “a justiça social pode ser feita no campo, sem desapropriações ou preconceitos”, uma aparente referência à reforma agrária que o governo de seu sucessor pretende realizar.

Maioria legislativa de Petro

Apesar de Petro e o Pacto Histórico não terem obtido maioria legislativa nas urnas de 13 de março, as alianças forjadas nas semanas seguintes à sua eleição lhe permitirão contar, pelo menos no papel, com apoio suficiente no Senado e na Câmara para realizar as reformas prometidas.

No Congresso instalado hoje, Petro terá o apoio de 78 dos 108 senadores e 136 dos 186 deputados.

Nas eleições de março, o Pacto Histórico conquistou 20 assentos no Senado e 28 na Câmara dos Deputados, mas Petro conseguiu ampliar sua base de apoio graças a alianças com os partidos Liberal, Conservador, De La U, Alianza Verde, ASI, Comunes, Mais, Aico, Colombia Renaciente, Fuerza Ciudadana e Gente en Movimiento.

Das 16 cadeiras da Circunscrições Especiais Transitórias da Paz (Citrep) na Câmara dos Deputados, eleitas pela primeira vez este ano, nove aderiram à aliança do Petro e sete não definiram de que lado ficarão, assim como partidos como o Cambio Radical, Mira e Novo Liberalismo, entre outros.

Com isso, a oposição fica reduzida ao atual partido governista, Centro Democrático, com uma bancada de 13 senadores e 15 deputados.

Novo panorama

"Hoje, 20 de julho, após 212 anos de existência como Estado, uma nova história começará a ser escrita e seus pilares serão a paz e a justiça social e ambiental. O Congresso que toma posse hoje traz novas vozes das regiões e movimentos sociais", resumiu sobre a nova realidade do país a vice-presidente eleita, Francia Márquez, em sua conta no Twitter.

Entre os senadores que tomaram posse hoje está Rodolfo Hernández, candidato derrotado por Petro no segundo turno presidencial, que criticou tanto as vaias que foram ouvidas no Congresso quanto o balanço de governo apresentado por Duque.

"Não sei se o presidente Duque em seu discurso descreve a Suíça ou a Dinamarca, porque na Colômbia há 22 milhões de pobres morrendo de fome", lamentou Hernández, acrescentando que "uma corraleja (festival de touradas) tem mais ordem do que a sessão de abertura do Senado, pobre do meu país".

Duque encerrou seu discurso fazendo referência às dificuldades políticas que enfrentou em sua presidência, caracterizada desde o início por uma forte oposição dos partidos de esquerda.

"Nesses quatro anos, muitas nuvens passaram sobre esta nação. As de violência, as de ataques, as de desinformação, as de travessuras políticas e divisões que pouco servem para a Colômbia. Acima de tantas nuvens passageiras, algumas delas tempestuosas, há o azul imutável e transparente dos fatos", concluiu.

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