Num movimento que passou praticamente despercebido no plano de gastos do governo americano para este ano fiscal, aprovado no último dia 16, o Congresso cortou pela metade o orçamento para ajuda ao Afeganistão e proibiu o início de novos projetos de infraestrutura no país.
Aparentemente sem resistência do governo, a decisão reduz de forma considerável a ambição americana em seu último ano de ocupação no país.
Ao invés dos US$ 2,1 bilhões estimados pelo presidente Barack Obama no ano passado, o Congresso aprovou apenas US$ 1,1 bilhão para ajuda a projetos de desenvolvimento.
O governo também voltou atrás em sua oferta de US$ 2,6 bilhões para garantir recursos "críticos", como veículos de ataque para as forças de segurança afegãs. O Pentágono concordou que seria possível trabalhar com só 40% desse valor, segundo o "Washington Post".
Com quase 1.600 páginas, o plano de gastos aprovado no Congresso tem sido, aos poucos, destrinchado por políticos e pela imprensa americana.
A Casa Branca defende que, apesar das reduções, o governo "seguirá fornecendo ao Afeganistão níveis significantes de assistência".
"Acreditamos que um apoio sustentado e significativo para o governo do Afeganistão e de seu povo é fundamental para manter as conquistas da última década e garantir que os terroristas nunca mais serão capazes de usar o solo afegão para atacar a nossa pátria", disse a porta-voz da Casa Branca Laura Lucas Magnuson em um comunicado.
Segundo o representante do governo para Afeganistão e Paquistão, James F. Dobbins, no entanto, os cortes "refletem o clima no Congresso e vão ter impacto nos mais altos níveis de apoio".
Para ele, esse "é um exemplo do preço que o Afeganistão está pagando" pela indefinição do presidente Hamid Karzai sobre um acordo bilateral de segurança que definiria os termos da presença militar dos EUA após a retirada da maior parte do contingente internacional, neste ano.
Mesmo com os cortes, o custo total dos EUA com guerra no Afeganistão não vai cair substancialmente neste ano. Para as operações militares, o valor aprovado é quase o mesmo do ano passado: US$ 85,2 bilhões. Apesar de já contar com menos soldados no país, os gastos seguirão altos justamente pelas despesas com o fechamento de bases e o retorno do todo o equipamento militar aos EUA.
Tropas
Segundo o "Wall Street Journal", o comandante das forças estrangeiras no Afeganistão, Joseph F. Dunford Jr., pretende ir à Casa Branca na próxima segunda-feira para pedir que 10.000 soldados fiquem no país após a retirada do contingente americano, prevista para este ano.
A ideia é que esses militares permaneçam para ajudar a treinar as forças de segurança afegãs e conduzam operações de contraterrorismo contra insurgentes talibãs e militantes ligados à Al Qaeda.
Para tornar a oferta mais atrativa ao governo, que quer apressar o quanto antes o fim da mais longa guerra americana, Dunford vai sugerir que os 10.000 militares sigam no país até 2017, quando Obama deixará o poder.
O plano do governo, segundo fontes ouvidas pelo jornal, é deixar, no máximo, 2.000 soldados no país.