O Senado dos Estados Unidos, sem muito alarde e passando por cima de objeções de longa data do presidente Donald Trump, aprovou por unanimidade uma resolução nesta quinta-feira (12) que reconhece oficialmente o genocídio armênio, juntando-se à Câmara dos Deputados na condenação do massacre de 1,5 milhão de pessoas na Turquia no início do século passado.
A medida ocorre após uma votação no Comitê de Serviços Armados do Senado na quarta-feira para impor sanções à Turquia pela recente compra de um sistema de mísseis russo e pela ofensiva do país contra a minoria curda na Síria.
As ações da Turquia causaram grande frustração no Congresso, dando um novo impulso às tentativas de reacender a questão do reconhecimento do genocídio armênio, que perdurou por décadas no Congresso, enquanto presidentes e legisladores alertavam que a votação prejudicaria as relações com a Turquia, um aliado da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
Três tentativas anteriores de levantar a questão no Senado, após a votação da Câmara que reconheceu o genocídio armênio em outubro por 405 votos a 11, foram bloqueadas por senadores republicanos que fizeram uma objeção semelhante: que, embora a questão precisasse ser tratada, o momento não seria o melhor.
A resolução do Senado não pode forçar o governo Trump, nem exige a assinatura do presidente; apenas expressa "a noção do Senado" de que é política dos EUA reconhecer o genocídio armênio e tratá-lo como tal.
"Eu apoio o espírito desta resolução… No entanto, acho que não é a hora certa", disse o senador republicano Kevin Cramer, que no início deste mês se tornou o senador mais recente a se opor a uma votação sobre o assunto no Senado. "A adoção desta resolução hoje em minha opinião é desnecessária… E pode muito bem minar o esforço diplomático em um momento crucial".
Os senadores republicanos Lindsey Graham e David Perdue também fizeram objeções quando os senadores que apresentaram a resolução, o democrata Robert Menendez e o republicano Ted Cruz, tentaram trazer a questão nas últimas semanas. Segundo relatos, pelo menos dois dos senadores que se opuseram bloquearam as tentativas anteriores a pedido da Casa Branca.
Mas quando Menendez e Cruz apresentaram a questão na quinta-feira, ninguém se opôs - e a resolução foi aprovada. Mesmo o deputado democrata Adam Schiff, que apresentou a versão da resolução na Câmara, não tinha previsto a votação, e nem sabia, logo em seguida, que a medida havia sido aprovada pelo Senado.
A resolução do genocídio armênio tem sido objeto de intenso lobby há décadas, com a Turquia mantendo apoio contra a medida por meio de uma campanha para convencer os legisladores, especialmente os falcões da segurança nacional, a se oporem a ela. Mas o esforço da Turquia foi revertido recentemente, quando Trump fez um acordo com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan para retirar as tropas dos EUA na Síria - um sinal para o governo turco de que os Estados Unidos não impediriam seus esforços para atacar as fortalezas curdas da região.
Há muito tempo Ancara considera os curdos, que reivindicam direitos à terra em partes da Turquia, uma força terrorista. Mas os curdos na Síria eram os aliados dos Estados Unidos mais capacitados na luta contra o Estado Islâmico - e abandoná-los foi demais para a maioria dos legisladores.
Com o apoio do congresso à Turquia tão reduzido, a Câmara liderada pelos democratas aprovou sanções contra a Turquia e a resolução do genocídio armênio em questão de semanas. Até agora, não estava claro se a resolução passaria no Senado, onde um senador pode impedir que uma medida avance para uma votação.
"Este é o momento da verdade que demorou a chegar", disse Cruz logo após a resolução ter sido aprovada, afirmando que o Senado tinha "um dever moral de reconhecer o que aconteceu com os 1,5 milhão de almas inocentes que foram assassinadas" porque "essa é a coisa certa a fazer."
Menendez tentou segurar as lágrimas enquanto falava, dizendo que estava "grato por esta resolução ter sido aprovada em um momento em que ainda existem sobreviventes do genocídio… que poderão ver que o Senado reconhece o que eles passaram".
O assassinato pelo Império Otomano de 1,5 milhão de armênios no início do século passado é uma das tentativas de genocídio mais bem documentadas da história, até mesmo com a descrição do embaixador americano da época de uma "campanha de exterminação de raça".
Após a votação da Câmara que reconheceu o genocídio armênio, Erdogan disse que esse foi "o maior insulto ao nosso povo", e cogitou cancelar uma viagem a Washington como forma de protesto. A Turquia argumenta que os armênios morreram como resultado da Primeira Guerra Mundial.
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