Assunção - O Congresso paraguaio rejeitou ontem um projeto de emenda constitucional para autorizar a reeleição presidencial, em uma manobra que surpreendeu os partidários do presidente Fernando Lugo. Aliados de Lugo apresentaram há algumas semanas o projeto de iniciativa popular com cerca de 90 mil adesões , embora o mandatário afirme, reiteradas vezes, que não pretende disputar um novo mandato, o que é proibido pela Constituição de 1992.
O projeto não estava na ordem do dia, pois ainda deveria ser estudado por uma Comissão de Assuntos Constitucionais do Senado. Para surpresa da bancada governista, um senador da oposição propôs que a medida fosse incluída em primeiro lugar na pauta da sessão ordinária de ontem. Dois senadores governistas deixaram o plenário em protesto, e a medida foi arquivada por unanimidade, o que significa que a emenda não poderá ser analisada até o ano que vem.
A decisão confirma que Lugo terá de deixar o cargo em 15 de agosto de 2013, e abre um debate sucessório dentro do bloco governista.
O senador Carlos Filizzola, principal partidário da medida, disse que o Senado "deu as costas ao povo, à cidadania". Já Miguel Saguier, do Partido Liberal (aliado de Lugo), sugeriu que a emenda seria oportunista.
A senadora oposicionista Lilian Samaniego disse que "a campanha em prol da reeleição está estimulada pelo próprio presidente da República, que com sua clássica ambiguidade pretende parecer alheio à tentativa de violação constitucional."
Por causa da proposta de reeleição, Lugo chegou a ser comparado ao ex-ditador Alfredo Stroessner, que alterou a Constituição da época para permanecer no poder indefinidamente, e ao seu antecessor, Nicanor Duarte, que também tentou aprovar essa emenda.
Líderes da esquerda, que se mostra dividida e sem um candidato forte para 2013, argumentaram que a intenção era preservar o processo de mudança iniciado pelo presidente.