O Congresso do Peru votava na noite desta quinta-feira (22) a aprovação do pedido de renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczyski, 79, um dia depois de ele apresentar sua saída do cargo.
O presidente da casa, o fujimorista Luis Galarreta, esteve negociando durante o dia com os porta-vozes de cada bancada para que a renúncia fosse aprovada até o final da manhã de sexta-feira (23).
Se esse processo for terminado no prazo, o até então vice-presidente, Martín Vizcarra, 55, assumirá, após uma breve cerimônia, o cargo de presidente da República.
Vizcarra chegou ao Peru nesta madrugada. Ele estava no Canadá, onde era embaixador. Em uma breve mensagem, ele disse que “o Peru sempre pode seguir em frente”. A posse está marcada para esta manhã.
Enquanto isso, a Procuradoria peruana determinou o impedimento de Kuczyski de deixar o país. Porém, as condições para que ele continue sendo investigado pela acusação de envolvimento no escândalo da empreiteira brasileira Odebrecht só serão conhecidas após o final do debate no Congresso.
Manifestações
No começo da tarde de quinta, três manifestantes caminhavam em fila vestidos com uniformes de presidiários e usando máscaras: uma com a cara de Kuczynski, outra com a de Keiko Fujimori, a líder do partido fujimorista (Força Popular) e a terceira com a de Kenji, seu irmão mais novo e inimigo político.
Atrás destes, pessoas carregavam bandeiras do Peru, e gritavam: "que todos vão embora, chega de corrupção".
Enquanto essa cena ocorria nos arredores da praça diante do Palácio Presidencial todo o centro de Lima está cercado por cordões de isolamento e placas de metal, colocadas pela polícia.
Kuczyski, já com trajes mais informais, voltou a aparecer na escadaria do edifício. Despediu-se com abraços e apertos de mão dos funcionários, e deixou o local. Não sem antes afirmar que não permitiria "ser pisoteado" pelos congressistas na sessão.
Ao longo do dia, políticos opinaram sobre a renúncia do ex-mandatário.
"É preciso que fique claro que o sr. Kuczynski não é uma vítima, está saindo por ser corrupto e imoral", disse a jornalistas a esquerdista Veronika Mendoza, ex-candidata presidencial em 2016, hoje líder do partido Nuevo Perú, em seu comitê.
Mendoza foi crucial para a vitória de Kuczyski nas eleições porque o apoiou nos últimos dias antes da votação, "apenas para que fosse derrotado o fujimorismo", e que hoje não se conformava com o fato de o ex-mandatário não ter cumprido sua promessa de não indultar o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
Na sessão que segue pela manhã desta sexta, o parlamento também decidirá se iniciará o processo de retirada do foro privilegiado do congressista Kenji Fujimori e dos demais que aparecem nos vídeos que mostram tentativa de compra de votos e que aceleraram a renúncia de PPK. Caso isso ocorra, eles podem ser expulsos do Congresso e processados.
Reação internacional
O governo da Colômbia emitiu um comunicado sobre o ocorrido em Lima. "Lamentamos profundamente a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski", diz o texto, que reforça, porém, que o país "está seguro de que se realizará uma transição governamental no marco dos princípios democráticos".
O governo chileno também lamentou a renúncia de Kuczyski, mas afirmou que "respeita as decisões deste país-irmão, esperando dar continuidade à nossa boa relação", segundo a Chancelaria.
Já na Venezuela, houve festa com fogos de artifício, organizada pelo homem-forte do chavismo Diosdado Cabello. "Esse era o homem que não queria a Venezuela na Cúpula das Américas (em 13 e 14 de abril). Agora quem não vai estar será ele."
No fim do dia, o ditador Nicolás Maduro voltou a afirmar que comparecerá à cúpula.