No final de outubro, os EUA anunciaram o projeto de uma nova bomba atômica com capacidade de destruição 24 vezes maior do que a lançada sobre Hiroshima, no Japão, durante a Segunda Guerra Mundial: a B61-13.
A nova arma nuclear gravitacional, que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso americano, está sendo desenvolvida pela Administração Nacional de Segurança Nuclear do Departamento de Energia (NNSA) para atingir “alvos militares mais difíceis e de grande área”, como bunkers e centros de comando subterrâneos, que têm se tornado cada vez mais comuns entre os inimigos dos EUA.
O caso mais recente é observado na guerra do Oriente Médio, onde o Hamas, um dos grupos terroristas patrocinados pelo Irã, construiu longos túneis que dificultam a ação do Exército israelense na resposta aos ataques de 7 de outubro.
O Pentágono afirmou que a nova arma não tem a finalidade de expansão do atual arsenal militar do país, mas surge como uma modernização de equipamentos considerados ultrapassados, diante das novas estratégias de “potenciais ameaças”. Com isso, a bomba seria fabricada a partir de ogivas reaproveitadas de outras mais antigas, como da B61-7, uma das versões anteriores do mesmo modelo, também com alto potencial de letalidade.
Atualmente, os EUA estão envolvidos indiretamente em duas grandes guerras regionais: a da Rússia contra a Ucrânia, no leste europeu, e de Israel contra o Hamas, no Oriente Médio.
Outro fator que contribuiu para o anúncio do governo americano é o fato da China estar expandindo seu arsenal nuclear. Segundo relatórios da Defesa americana, o país asiático pode ter mais de mil ogivas até 2030. Hoje, o Instituto Internacional de Estudos para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla original) calcula que o governo chinês tenha cerca de 350.
Na linguagem bélica, os equipamentos militares são classificados por letras e números, de acordo com as referências de cada país.
No caso da B61-13, a letra faz referência à bomba gravitacional, ou seja, esse tipo de armamento é projetado para ser lançado de aviões e cair de forma mais assertiva em alvos programados.
O 61 significa o ano em que o primeiro modelo foi criado, 1961, e o 13 é a versão em que aquele equipamento se encontra.
Atualmente, o arsenal militar americano possui cinco armas desse modelo ativas. De acordo com dados do Pentágono, a versão mais atualizada em atuação desse tipo é a B61-12, que foi desenvolvida há dois anos e tem um custo aproximado de R$ 150 milhões cada.
A nova bomba, caso seja aprovada pelo Congresso, terá uma potência de 360 quilotons, diante dos 15 da que foi lançada sobre Hiroshima há mais de sete décadas. Cada quiloton equivale à explosão de mil toneladas de dinamite.
Apesar de ser incerta a quantidade de unidades disponíveis no arsenal americano, a Federação dos Cientistas Americanos (FAS, na sigla em inglês) aponta em seus relatórios que hoje existem mais de 5 mil ogivas táticas produzidas pelos EUA, estando cem delas localizadas em bases de Washington na Europa.
A criação e possível financiamento da nova arma americana tem chamado a atenção de analistas de guerra, que veem com cautela o novo projeto.
Para Andrew Facini, diretor do Conselho de Riscos Estratégicos dos EUA, a nova arma pode ter efeito contrário ao esperado, que é de conter as ameaças globais.
“O desenvolvimento do novo armamento pelos EUA pode acabar no lado errado do paradoxo da estabilidade-instabilidade, arriscando uma escalada para uma guerra nuclear, intencional ou não”, disse ele no Boletim dos Cientistas Atômicos, publicação referência no país sobre o assunto.
Uma das projeções do governo americano para desenvolver a B61-13 é aposentar a B83-1, a última arma com capacidade de megatons (unidade de massa equivalente a 1 milhão de toneladas) no arsenal dos EUA, que estava programada para ser abandonada desde o governo do democrata Barack Obama (2009-2017).
Especialistas consultados pela Agência EFE acreditam que a construção do B61-13 parece ser mais um movimento político para finalmente se livrar da B83-1 do que um reforço de renovação do arsenal, devido ao seu alto custo de manutenção.
Apesar do governo americano garantir que a nova arma não é uma resposta “a nenhum evento atual específico”, congressistas elaboraram um relatório no final de outubro, destacando a necessidade do país de se preparar para ataques da Rússia e da China.
Uma das propostas apresentadas à época era desenvolver um plano de modernização do arsenal nuclear, que deve custar mais de US$ 400 bilhões (R$ 1,9 trilhão) até 2046.
Acredita-se que a nova arma nuclear, se aprovada, custará aproximadamente US$ 10 bilhões (R$ 49 bilhões, na cotação atual) para ser concluída, orçamento que está dentro do pacote autorizado de US$ 1,7 trilhão (R$ 8,3 trilhões) do arsenal nuclear americano.