Burundi. Relatos em redes sociais citam tiroteios, explosões e mortes em pelo menos quatro bairros da capital, nas últimas 24 horas. Assassinatos e perseguições a opositores e oficiais de segurança agravam o quadro no país africano, que há semanas encabeça a lista de alertas da ONU.
Sudão do Sul. Conflitos entre grupos atrasam a entrega de suprimentos. Forças da oposição destroem uma barca militar e capturam outra. Ambos os lados negam ter iniciado as hostilidades. ONGs abandonam algumas áreas.
Iêmen. Ataques aéreos liderados por coalizão saudita e bombardeios pró-houthis deixam ao menos 95 mortos e 129 feridos apenas na cidade de Taiz, em duas semanas. O sistema de saúde está à beira de um colapso, com os seis hospitais públicos fora de funcionamento.
Desde as 5h, a brasileira Paula Simas Magalhães, 32, processa informações enviadas por todas as missões e postos da ONU no mundo.
Às 8h10, pontualmente, ela já deverá ter enviado ao secretário-geral, Ban Ki-moon, um relatório de, no máximo, quatro páginas com o resumo do que aconteceu de mais grave nas últimas 24 horas.
O material é usado nas reuniões de direção, diariamente, às 8h30.
Na quarta-feira da semana passada (2), às 7h30, o ucraniano de sua equipe, que monitora o centro e o oeste da África, informa que o homem encontrado morto na República Centro-Africana não era um membro de um dos grupos armados, mas um civil.
Às 7h40, ela cobra o islandês, que monitora a Ásia. “E o Nepal? Não aconteceu nada desde os protestos?”, questiona, por um sistema de mensagens digitais. Ao mesmo tempo, queria saber da paquistanesa, que cobre o leste e o sul da África, se ainda não havia recebido o relatório da missão do Sudão do Sul.
Às 7h42, ela comenta com uma colega do Taiwan: “Tem muito hoje. Ainda estamos acrescentando, mas precisamos começar a cortar”.
Às 7h46, o ucraniano se levanta para fechar as persianas e bloquear o sol que começa a nascer no East River e ilumina a sede da ONU, em Nova York. A equipe começou o expediente às 21h do dia anterior. Começam a chegar os funcionários do próximo turno de 12 horas.
“Você nem foi para casa. Aposto que estava no bar”, brinca o afegão para o filipino que o substituirá na bancada do Oriente Médio e norte da África.
Na sala, noticiários da BBC, Al Jazeera e CNN estão ligados. Relógios das principais missões de paz e de Genebra mostram os fusos horários. Mas a sala está silenciosa.
Sai Guatemala, entra Somália
Às 8h, o chefe de Paula, senegalês, entra na sala de crises. Tira dos destaques do relatório a Guatemala, cuja Justiça negou o pedido do então presidente (que depois renunciaria ) para manter a imunidade no processo de impeachment.
No lugar, a Somália, onde terroristas destruíram uma ponte para impedir a passagem de tropas da União Africana, que têm apoio logístico da ONU, e onde dezenas de soldados foram mortos.
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Às 8h03, Paula pede à equipe que cheque as informações dos países pelos quais cada um é responsável. São quatro bancadas divididas em: 1) centro e oeste da África; 2) sul e leste da África; 3) norte da África e Oriente Médio; 4) resto do mundo.
Às 8h07, a colega taiwanesa começa a formatar o documento, enquanto Paula finaliza o texto. Às 8h10, elas batem as palmas das mãos para comemorar o envio pontual.
A tarefa não consiste apenas em processar informação, mas também em administrar as diferentes visões dos departamentos da ONU.
O núcleo de missões de paz, por exemplo, leva em conta aspectos militares de suas tropas, enquanto direitos humanos são mais propensos a avaliar garantias mínimas nos países e a coordenação política tem seu próprio entendimento das negociações.
A tarefa ficou mais complicada ainda com a ascensão de grupos terroristas, que passaram a ver a própria ONU como alvo, o que não acontecia duas décadas atrás.
24 horas
O centro de crises conta com 40 profissionais no total -- a maioria trabalha em turnos de 12 horas. Os chefes, como Paula, têm a própria escala.
Quando explodem crises, os horários se misturam, e as pessoas, às vezes, passam dias seguidos na sede. Há suprimentos de água e comida para dias.
A composição ideal seria a equipe mais diversificada possível, para que haja gente que domine os principais idiomas e conheça todas as regiões monitoradas. Mas faltam africanos e latino-americanos, devido à carência de candidatos que falem inglês.
Paula não tem problema com idiomas. Filha de diplomata, ela nasceu na Bolívia, foi alfabetizada em francês, viveu no Canadá, no Reino Unido, na África do Sul, em Uganda, no Haiti, na Suíça e nos Estados Unidos. Mas é no Brasil onde se sente “em casa”.
A poliglota lamenta não dominar o árabe, porque está de mudança para Gaza, onde voltará a atuar em campo, que é o que mais gosta de fazer.
Ela diz que pensa, sobretudo, em inglês e português, mas, nos sonhos, as línguas, os países e as pessoas se embaralham na mente.
Outro dia, Paula sonhou que estava perdida em um palacete, quando encontrou a colega taiwanesa. “Mas você não vai fazer o relatório?”, uma perguntava. “Mas essa era a sua vez”, a outra respondia.
“É a paranoia de não conseguir acordar a tempo”, interpreta.
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