Líder da oposição e prefeito de Caracas, Antonio Ledezma, participa de uma manifestação em frente à Embaixada de Portugal em Caracas, em 11 de março de 2014| Foto: JUAN BARRETO/AFP

Quando uma ditadura chega para prendê-lo, eles não economizam na força. Mais de 100 agentes participaram da prisão do venezuelano Antonio Ledezma. Cerca de 25 deles chegaram ao seu escritório, quebrando portas e vidros no caminho. "Eles o prenderam selvagemente", como sua esposa disse mais tarde. “Eles bateram nele”. O próprio Ledezma disse aos agentes: “Por que tantos? Sou apenas uma pessoa. Eu peso 75 quilos, não vou lutar com vocês sozinho”. Lá embaixo havia cerca de 80 homens, empunhando metralhadoras, atirando para cima, fazendo um grande show.

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Eles levaram Ledezma para a prisão. 

Ele é, ou foi, prefeito de Caracas, a capital da Venezuela. Por quase três anos foi prisioneiro político – e depois escapou do país. Ele se juntou aos quase 4 milhões de seus compatriotas que estão no exílio, que fugiram da perseguição e da fome (uma espécie de perseguição, com certeza). Diz Ledezma: “Eu faço parte de um grupo de 4 milhões de pessoas, nascidas na Venezuela, que foram forçadas a abandonar as vidas que conhecíamos”. Ele diz isso com muita emoção. 

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Não muito tempo atrás, Ledezma foi convidado do Oslo Freedom Forum em Nova York. Um cavalheiro de cabelos grisalhos, ele é ao mesmo tempo urbano e apaixonado - uma combinação que não é desconhecida na política latino-americana. 

Antonio Ledezma nasceu em 1955 e desde cedo teve gosto pela política. Quando tinha 13 anos, foi parar na cadeia depois de participar de um protesto estudantil. Ele seguiu adiante, estudou e conquistou um diploma de direito. Ele serviu no legislativo da Venezuela e, em 1999, fundou um partido: a Alianza Bravo Pueblo, cujo nome vem do hino nacional da Venezuela, "Gloria al bravo pueblo". 

Em 2008, Ledezma foi eleito prefeito de Caracas. Isso foi quase uma década depois que Hugo Chávez assumiu a presidência da Venezuela. Chávez chegou ao poder sob a “camuflagem” da democracia, diz Ledezma. Ele foi eleito democraticamente e depois começou a desmantelar a democracia do país. Ele tinha talento, é preciso dizer: um grande e obscuro talento. 

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Chávez tinha "a magia da sedução", diz Ledezma. “Ele fez o papel de um homem pobre explorado pelos gringos, pelos americanos, fazendo discursos cheios de autopiedade e prometendo que o Estado seria mais paternalista do que nunca”. “Somos um país rico”, diria Chávez. “Então, por que alguém deveria passar necessidade?” (Logo, eles estariam precisando de tudo). 

Chávez destruiu o Estado de Direito na Venezuela, segundo Ledezma. “A lei não conta mais, mas sim o humor do governante”. A separação de poderes também não existe mais. "A constituição foi reescrita ao capricho do ditador". Chávez acumulou "poder político, financeiro e da mídia", mas mesmo isso não foi suficiente: ele transformou a Venezuela em "um narcoestado, uma narcotirania". 

Prisão

Como você pode imaginar, o prefeito Ledezma foi um dos mais proeminentes opositores de Chávez e do chavismo no país. Em uma manchete no ano passado, o britânico The Guardian o descreveu como um líder da oposição "linha dura". Mas o que significa "linha dura" exatamente? Ledezma certamente se opõe à narcotirania que atingiu a Venezuela. 

Ele foi preso por esses 100 homens em fevereiro de 2015. A acusação? A de sempre: "conspirar contra a paz e a estabilidade da nação". Enquanto estava na prisão, Ledezma adoeceu e foi enviado para seu apartamento, onde ficou em prisão domiciliar. "Fiquei trancado dentro do meu apartamento por mais de dois anos", diz ele. “Às vezes eu ia até a janela só para pegar sol, mas isso era proibido”. 

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Ele conta que nunca sucumbiu à depressão. Trabalhou contra isso, dia após dia. “Eu mantive meu senso de humor. E sempre acordei com a esperança de superar o que estávamos tentando superar”. 

Ele usou a imaginação para isso. Por exemplo, se imaginava caminhando no Parque Nacional El Ávila, nas proximidades. Ou visitando Nova York. Ou indo para a Itália, onde seus irmãos moram. Principalmente, "eu me refugiava nos livros", lembra. 

O que ele leu? Ele leu sobre Winston Churchill e sua luta contra apaziguadores em casa e ditadores no exterior. Ele leu discursos de Franklin Roosevelt, Martin Luther King e outros. Além disso, “fiquei realmente interessado em entender as transições para a democracia” - na Espanha, no Chile e na África do Sul, por exemplo. 

Na Espanha, os partidos políticos, a igreja e o monarca desempenharam seus papéis, observa Ledezma. Foi uma dança complicada, mas conseguiram. E não é interessante, diz Ledezma, que F. W. de Klerk, durante anos o presidente da África do Sul, estivesse disposto a servir como uma espécie de vice-presidente de Nelson Mandela, para efetuar a transição para a democracia? 

Dentro de seu apartamento, Ledezma designou quatro pontos de leitura diferentes para "quebrar a monotonia". Em cada ponto, ele lia um livro específico. Ia de um lugar para outro (e, sim, um dos lugares de leitura designados era o banheiro). Além disso, ele escreveu poemas, mais de mil deles. 

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Em 30 de julho de 2017, houve eleições na Venezuela - uma farsa total. Ledezma disse isso, em um vídeo postado na internet. À 1h, forças de segurança vieram prendê-lo novamente, de pijama. Ele fez tanto barulho quanto pôde, para que seus vizinhos pudessem ouvi-lo. Ele não queria simplesmente ficar "desaparecido". Uma vizinha, uma mulher, filmou a prisão, gritando: "Eles estão levando Ledezma embora! Eles estão levando Ledezma embora!”. O vídeo circulou por toda parte. 

Como antes, os agentes trataram Ledezma brutalmente. Uma delas, uma mulher, exigiu que as algemas de Ledezma estivessem ainda mais apertadas. Ledezma estava no chão do carro da polícia, sangrando. 

Ele lidou com muitos agentes, soldados e funcionários durante seus anos de confinamento (em casa ou na prisão). A maioria deles tratou-o com respeito. "Mas alguns ficaram agressivos", diz ele. “Eu disse a um deles: 'Se você não quer me respeitar como ser humano, respeite as condecorações do seu uniforme'”. Alguns agentes ou guardas “simplesmente queriam infligir dor. Eles viam como natural infligir dor a outra pessoa. Outros usavam a desculpa de que eles estavam apenas seguindo ordens. Eles pareciam insatisfeitos por estar cumprindo essas ordens, mas o que poderiam fazer?” 

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Da mesma forma como ocorreu no julgamento de nazistas em Nuremberg, claro. 

Na prisão, naquele verão de 2017, as condições eram desagradáveis. A cela estava apertada e cheia de baratas. A comida estava podre. Ainda assim, Ledezma manteve sua força mental, lembrando que os venezuelanos antes dele tinham passado por coisas muito piores. 

"Eu cresci lendo histórias de mártires. Então eu pensei: 'Isso não é nada comparado com Guasina e Sacupana. Isso não é nada comparado a La Rotunda”. Os dois primeiros lugares citados por Ledezma foram campos de concentração nos anos 50, sob o ditador Marcos Pérez Jiménez. La Rotunda foi uma prisão que se tornou infame sob a ditadura de Juan Vicente Gómez, que governou a Venezuela por 27 anos: 1908 a 1935. La Rotunda era o tipo de lugar onde eles misturavam vidro na comida e penduravam os homens pelos genitais. 

Fuga e exílio

Depois de um tempo, as autoridades colocaram Antonio Ledezma novamente em prisão domiciliar - foi quando ele planejou sua grande fuga. Em 17 de novembro de 2017, ele fugiu para a Colômbia e depois voou para a Espanha. Lá, ele disse aos jornalistas tudo o que ele queria: “Essa jornada de mais de 24 horas foi como um filme de James Bond. Nós passamos por mais de 29 postos de controle, bloqueios de estradas. Eu assumi todos os riscos”. 

Andrés Pastrana, ex-presidente da Colômbia (1998-2002), tuitou: “Bem-vindo à liberdade! Precisamos de você livre no mundo, defendendo a liberdade, os direitos humanos e a democracia, e não prisioneiro da narcoditadura de Nicolás Maduro”. Maduro, como você sabe, é o atual ditador chavista, tendo sucedido o original em 2013, quando Chávez morreu. 

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Ledezma concordou com Pastrana, dizendo à imprensa: “Eu vou defender a liberdade da Venezuela. Sou mais útil para a Venezuela na rua do que como prisioneiro”. 

Em Madri, ele foi recebido pelo primeiro ministro espanhol, Mariano Rajoy, no Palácio de Moncloa. A Espanha ofereceu refúgio a Ledezma e sua família, e eles ficarão lá pelo tempo que for necessário. Em Caracas, Nicolás Maduro gargalhou: “O vampiro está voando livre ao redor do mundo! O vampiro, protegido, foi para a Espanha - para viver uma vida ótima”. 

Tem sido ótima? Tem sido melhor do que prisão ou prisão domiciliar - mas Ledezma não teria escolhido estar no exílio, tentando reunir o mundo para ajudar a Venezuela. De qualquer forma, ele está fazendo isso com zelo. 

Houve alguma tristeza pessoal, até mesmo choque. Em outubro deste ano, o genro de Ledezma foi preso pela polícia espanhola. Luis Fernando Vuteff, empresário argentino, é acusado de fazer parte de uma operação de lavagem de dinheiro, vinculada ao governo chavista. Ledezma disse, essencialmente, que ele ama a sua família - mas que o sistema judicial espanhol deve seguir o seu curso e o fará. Ele acrescenta que ele nunca teve “qualquer relação com alguém relacionado aos grupos que destruíram meu país”. 

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Derrocada da Venezuela

A Venezuela já foi uma nação modelo, próspera, avançada e democrática. Alguma vez Ledezma imaginou que o país poderia sucumbir à tirania e à pobreza - não apenas a pobreza, mas à própria fome? “Não, honestamente. Pensei que teríamos mais democracia, que não voltaríamos a um tempo que parecia ter desaparecido para sempre: uma época em que tínhamos homens fortes como líderes, quando as pessoas seguiam cegamente o homem a cavalo, um falso messias com discursos populistas, alegando ser predestinado. Chávez foi muito bom nisso”. 

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Maduro é muito menos bom nisso, muito menos talentoso. “Ele é um ativista”, diz Ledezma, “formado e educado pelos irmãos Castro. Ele é um agitador, muito limitado intelectualmente”. De acordo com Ledezma e muitos outros, os irmãos Castro escolheram Maduro como seu veículo para tirar vantagem da Venezuela. O ditador Gómez, continua Ledezma, “não sabia ler nem escrever. Mas ele sabia que não sabia e por isso cercou-se de pessoas brilhantes”- pessoas que conheciam o petróleo, por exemplo, pessoas que conheciam as finanças do estado. Maduro, por outro lado, “é ignorante, mas acha que sabe. Portanto, ele se cercou de pessoas desqualificadas e o resultado é um desastre”. 

A Venezuela é o país que possui as maiores reservas de petróleo - número um no mundo, à frente até mesmo da Arábia Saudita. No entanto, os venezuelanos não têm petróleo. O país é o número 6 em reservas de gás, mas fica sem gás. É o número 10 em reservas de água, mas carece de água potável. Este ano, cerca de 300.000 crianças correm o risco de morrer de fome. Ladrões e outros criminosos operam impunemente. A população é horrivelmente vulnerável, e é por isso que eles fogem, se puderem. 

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Quanto tempo isso pode durar? Ledezma explica que Maduro e seu regime governam pela força bruta e com a ajuda de seu parceiro cubano – mas a rebelião está aumentando nas fileiras militares. Alguns deles não estão comendo, e “não há nada mais subversivo em um exército do que a fome”, como diz Ledezma. Ledezma acha que nações capazes deveriam intervir na Venezuela. Falar de autodeterminação no contexto venezuelano é absurdo, diz ele. As pessoas não têm voz, não têm escolha. Isso foi destruído anos atrás. 

O prefeito Ledezma foi homenageado pelo National Endowment for Democracy (organização que promove a democracia no mundo), pelo Parlamento Europeu e por outros órgãos. Com Leopoldo López, ainda preso político, ele pode ser o oponente mais proeminente do regime chavista. E agora ele está livre para gritar, o que é uma má notícia para o regime, e boas notícias para aqueles de nós, onde quer que vivamos, que anseiam vê-lo cair.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.