Independentistas catalães elegem novo líder
Os deputados independentistas da Catalunha amenizaram suas divergências e elegeram no domingo (10) um novo presidente regional, Carles Puigdemont, que prometeu liderar um processo para avançar para a independência da Espanha.
“Viva a Catalunha livre”, proclamou o novo presidente de 53 anos, eleito com 70 votos a favor, 63 contra e duas abstenções no parlamento regional, onde os independentistas têm maioria absoluta após as eleições regionais de 27 de setembro.
Em seu discurso de posse, deixou claras as suas intenções: “iniciar o processo para constituir um Estado independente na Catalunha, para que as decisões do parlamento da Catalunha sejam soberanas”. “Um processo nada fácil e nada cômodo”, reconheceu.
“Certamente é parte mais complexa e incerta do que realizamos até hoje. Mas a coordenaremos com sucesso”, afirmou. “Prometo que vou dar o meu sangue”.
Em uma inesperada reviravolta dos acontecimentos, Mas cedeu no sábado às pressões de seus opositores e renunciou a sua reeleição em favor de seu companheiro de partido, prefeito de Girona desde 2011. Isso permitiu a formação de um governo apoiado por conservadores, progressistas e anticapitalistas, cuja missão será proclamar em 18 meses a independência da Catalunha, região de 7,5 milhões de habitantes.
O governo não deixará passar nem uma única ação que suponha violar a unidade e a soberania”, garantiu o chefe do governo Mariano Rajoy, em um pronunciamento à rede televisão. “Continuamos contando com os mecanismos previstos pela lei para nos defender”, acrescentou. “Não me faltará força nem determinação para continuar defendendo a unidade da Espanha”.
Enquanto os independentistas concentram suas forças, a Espanha encontra-se sem governo e com um cenário político muito fragmentado após as eleições de 20 de dezembro, vencidas pelo presidente do governo conservador Mariano Rajoy, mas longe da maioria absoluta.
Com a região mais rica do país e a segunda mais populosa em rebeldia, o governo atual insistiu na necessidade de que “o próximo governo da Espanha conte com uma ampla base parlamentar que garanta a estabilidade e a capacidade para fazer frente ao desafio independentista”.
Em Madri “nas últimas semanas diziam com entusiasmo que a Catalunha estava se afundando (...). A partir de ontem voltaram a soar todos os alarmes”, comemorou Mas neste domingo.
Rajoy quer pactuar um governo de seu Partido Popular com os socialistas do PSOE, segunda força da Espanha, e Ciudadanos (centro-direita), nascido na Catalunha para combater o nacionalismo.
Mas o PSOE busca uma aliança com a esquerda radical do Podemos, que também precisaria das forças independentistas da Catalunha. A situação em Barcelona, no entanto, lhes dificulta a tarefa.
Seu porta-voz Antonio Hernando evitou se pronunciar sobre pactos, mas ofereceu “seu apoio ao governo no poder para fazer respeitar a lei”. “Não há melhor maneira de enfrentar o independentismo que ver o PP e o PSOE juntos”, respondeu o porta-voz conservador Fernando Martínez-Maillo.
Com a maioria absoluta, mas somente 47,8% dos votos nas eleições de setembro, os independentistas querem retomar a estratégia assumida em 9 de novembro, com uma resolução parlamentar lançando o processo de secessão e declarando-se insubmissos às instituições espanholas.
O texto foi suspenso pelo Tribunal Constitucional, mas Puigdemont assegurou que será fiel a seu conteúdo. “Não têm direito de situar as instituições fora da lei”, advertiu o líder socialista catalão Miquel Iceta.
Sua estratégia esteve a ponto de fracassar pelas discrepâncias entre a coalizão Juntos por el Sí (62 deputados), com conservadores e progressistas, e a esquerda radical Candidatura de Unidad Popular (10 deputados, que rejeitava como presidente Artur Mas.
Mas, contudo, facilitou o pacto quase no limite legal, antes de verem-se obrigados a convocar na segunda-feira novas eleições, que colocariam em risco a maioria absoluta.
“Hoje vamos investir no senhor Mas, no senhor Mas do mesmo”, criticou com certa gravidade a líder da oposição Inéns Arrimadas, do Ciudadanos, destacando que ambos acreditam que “podem estar acima das leis democráticas e da justiça”.
Nos próximos dias, Puigdemont deve formar seu executivo. Entre suas primeiras leis, vão estar a elaboração de uma administração tributária e um seguro social próprio.