A presença da guerrilha colombiana Exército de Libertação Nacional (ELN) na Venezuela aumentou nos últimos meses. Analistas alertam que a expansão deve continuar e afirmam que o governo de Nicolás Maduro tem sido conivente com a situação.
Segundo estudo do InsightCrime, que monitora o crime organizado na América Latina, com base nos relatórios da guerrilha e de ONGs, o ELN está presente em pelo menos 12 Estados da Venezuela. O grupo aproveita a expansão para angariar mais recursos financeiros por meio de contrabando de gasolina, extorsão, tráfico de drogas e mineração ilegal.
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A expansão, na visão da agência de riscos políticos Control Risks, preocupa empresas que investem na Colômbia. "A presença do ELN na Venezuela contribui para o fortalecimento militar e financeiro do grupo, o que leva a um aumento dos atentados contra infraestrutura e empresas do setor de mineração e energia (dentro da Colômbia)", disse à reportagem Claudia Navas, analista da Control Risks que atua em Bogotá.
A presença do ELN varia desde a construção de campos do grupo - como no Estado de Bolívar - até a distribuição de alimentos por meio dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (Claps) - como em Zulia e Táchira, por onde, historicamente, o grupo passou da Colômbia para a Venezuela. Outros Estados em que a guerrilha atua são Apure, Trujillo, Anzoátegui, Lara, Amazonas, Barinas, Portuguesa e Guárico.
De acordo com a ONG venezuelana Fundación Redes, que estuda a movimentação do ELN pelo país, a guerrilha estaria recebendo armas de forças venezuelanas e participando de programas governamentais como o Clap, de distribuição de cestas básicas subsidiadas. Enquanto isso, os guerrilheiros colombianos ganham território e poder por meio da criação de estações de rádio, distribuição de panfletos em escolas e implementação de postos de controle em estradas.
"Para o regime venezuelano, o ELN é um recurso para facilitar o controle social e manter uma ordem que permita a continuidade do status quo, especialmente em zonas de mineração. Elementos corruptos das forças de segurança venezuelanas trabalham lado a lado com a guerrilha, que os ajuda a controlar a mineração e dividir taxas", afirma Claudia. Ela acredita que a expansão do ELN torna mais fácil para o grupo "aumentar suas fontes de financiamento longe do controle das autoridades colombianas".
Ataques
Autoridades venezuelanas denunciaram a presença de grupos armados estrangeiros no país, mas não fizeram referência direta ao ELN. No dia 4, o grupo atacou membros da Guarda Nacional Bolivariana no Estado do Amazonas, matando três policiais e ferindo outros dez.
O ataque foi uma resposta à prisão de quatro guerrilheiros, um deles Luis Felipe Ortega Bernal, conhecido como "Garganta". Com ele, as autoridades encontraram diversos documentos, um deles um carnê usado pelos venezuelanos para obter benefícios do governo chavista.
"A relação desses grupos armados com o governo venezuelano preocupa nossos clientes. A Control Risks acompanha de perto para avaliar o impacto no setor privado dos dois países", acrescenta Claudia.
O ministro da Defesa venezuelano, Vladimir Padrino López, acusou o governo colombiano de não agir e ser responsável pela situação. "Condenamos a presença de qualquer grupo armado, condenamos a incapacidade do Estado colombiano em não controlar seus grupos, sua violência e seu narcotráfico."
As tentativas de negociação de paz entre ELN e Colômbia ficaram mais difíceis desde que o presidente Iván Duque, afilhado político do ex-presidente Álvaro Uribe, assumiu, em agosto. O governo pede à guerrilha que liberte os sequestrados, interrompa o recrutamento de menores e encerre os ataques a instalações de infraestrutura para retomar os diálogos. A guerrilha acusa Bogotá de querer acabar com o processo.
Outra preocupação é a facilidade de recrutamento de novos guerrilheiros. "Também nos preocupa que a situação socioeconômica do país (Venezuela) contribua para que mais venezuelanos passem a integrar o ELN", diz Claudia.
Segundo o relatório do InSight Crime, em cidades como Atures, no Amazonas, e Domingo Sifontes, em Bolívar, a presença de guerrilheiros e o controle que exercem sobre a mineração chegou a um ponto em que o controle de comunidades indígenas se tornou responsabilidade do ELN, e não mais do Estado venezuelano.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.