Brasil pede bloqueio de investimentos líbios no país
O governo brasileiro pediu ontem o bloqueio dos investimentos líbios no Brasil. O bloqueio foi pedido à Justiça Federal, em São Paulo, com base na Resolução 1.970, da Organização das Nações Unidas (ONU).
Com a ajuda do Banco Central (BC), a Advocacia Geral da União (AGU) localizou, para o bloqueio, os investimentos do Banco Central Líbio no Brasil. O BC líbio é o maior investidor de uma empresa chamada Corporação Bancária Árabe (Arab Banking Corporation - ABC).
Essa corporação é a acionista majoritária na instituição financeira brasileira chamada Banco ABC Brasil que tem uma corretora de valores mobiliários. Até o início da noite, a Justiça Federal ainda não havia distribuído o processo com o pedido da AGU.
O Banco ABC Brasil é um banco múltiplo habilitado a operar nas carteiras Comercial, de Investimentos, Financeira, Crédito Imobiliário e Câmbio, contando ainda com uma agência nas Ilhas Cayman. Tem sede na Av. Juscelino Kubitschek em São Paulo e funciona como um banco múltiplo, com operações como banco comercial, de investimento, financeira, crédito imobiliário e câmbio. Sob o controle do ABC Brasil há uma distribuidora de títulos e valores imobiliários e uma empresa de administração de serviços.
O BC brasileiro disse que apenas cumpre as resoluções internacionais acatadas pelo governo, procedimento semelhante ao adotado nos casos envolvendo bens e investimentos atingidos pela resolução da ONU.
Agência Estado
O Conselho Nacional de Transição (CNT) da Líbia quer eleições para presidente em 20 meses. O prazo, se comparado ao processo de transição dos vizinhos, é dilatado. Na Tunísia, as eleições legislativas serão realizadas em outubro, nove meses após a queda de Ben Ali. No Egito, o pleito também deve ocorrer em breve.
Segundo o representante do CNT no Reino Unido, Guma Al Gamaty, o órgão rebelde dirigirá o país nos próximos oito meses, quando será eleito um conselho para reformular a Constituição. "Temos, depois, um ano para a eleições parlamentares e presidenciais", disse.
O anúncio foi feito um dia depois de os "amigos da Líbia" decidirem liberar US$ 15 bilhões (R$ 24 bi) de fundos congelados.
Na última quarta-feira, no entanto, o Reino Unido enviou, por conta própria, um avião a Benghazi com 280 milhões de dinares líbios (R$ 370 milhões) em notas impressas no país.
Ontem, a União Europeia suspendeu as sanções a 28 entidades do país, como portos e bancos.
Combates
Enquanto os líderes políticos tentam organizar o governo, as forças rebeldes líbias avançam na direção da cidade de Sirte, local de nascimento de Muamar Kadafi, apesar da extensão do prazo final para a rendição da cidade.
Embora os combates tenham diminuído muito na Líbia, incluindo na capital Trípoli, os seis meses de guerra civil prejudicaram as linhas de fornecimento e danificaram a infraestrutura em todo o país. Segundo o coordenador humanitário da ONU para a Líbia, Panos Moumtzis, nos últimos dias algumas agências da ONU retornaram a Trípoli.
A organização levou 11 milhões de garrafas de água e vai levar 600 toneladas de comida e o equivalente a 100 milhões (US$ 140 milhões) em medicamentos para o país, mas afirma esperar que a ajuda da ONU seja temporária. "Este país tem uma série de recursos e nós vemos as necessidades humanitárias como de curto prazo", disse ele sobre o país, rico em petróleo, que tem 6 milhões de habitantes. "Eu não vejo o programa humanitário indo além do final do ano, no máximo."
O novo comandante militar de Tripoli, o insurgente Abdel Hakim Belhaj, discutiu ontem as preocupações a respeito do seu passado de militante islamita. Belhaj é o ex-líder do Grupo Combatente Islâmico Líbio, que lutou ao lado da rede extremista Al-Qaeda no Afeganistão e no Iraque.
Kadafi careca
Um jornal de Trípoli publicou uma foto em que o ditador líbio, Muamar Kadafi, aparece careca, com a mensagem "Procurado vivo ou morto" logo acima.
Em entrevista à rede Al Jazeera, o presidente do CNT, Mustafa Abdel Jalil, admitiu que os rebeldes não têm nem ideia do paradeiro de Kadafi.
"Se soubéssemos onde Kadafi está agora, nossos revolucionários estariam a caminho para capturá-lo. Não temos informação de que Muamar Kadafi esteja na Líbia ou em qualquer outro lugar."
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