O líder da oposição venezuelana Juan Guaidó lançou a consulta popular nesta segunda-feira, em Caracas, Venezuela| Foto: Yuri CORTEZ/AFP
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A consulta popular que Juan Guaidó está mobilizando entre os venezuelanos nesta semana será um teste de força que definirá o futuro político do líder opositor, considerado presidente interino da Venezuela por quase 60 nações. Se por um lado a grande abstenção e o rechaço da comunidade internacional democrática às eleições parlamentares do país deste domingo (6) podem revigorar a oposição, por outro, o fim do mandato de Guaidó como deputado em 4 de janeiro pode fazer com que alguns líderes repensem o apoio dado a ele.

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Em discurso na manhã desta segunda-feira (7), Guaidó disse que a consulta popular é uma "pedra fundamental para a libertação de nosso povo". Três questões estão em pauta: a rejeição às eleições parlamentares promovidas pelo chavismo neste domingo; o rechaço ao ditador Maduro; e se os venezuelanos aprovam o apoio internacional para resgatar a democracia.

O processo está sendo conduzido majoritariamente pela internet, entre 7 e 12 de dezembro, sendo esperada uma grande participação de venezuelanos que vivem fora do país. Além disso, a oposição está convocando uma manifestação nas ruas para o próximo sábado (12) em toda a Venezuela. Se o apoio popular a essas iniciativas promovidas por Guaidó for grande, as chances de que os países continuem reconhecendo o opositor como presidente interino serão maiores.

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Pelo menos 45 nações já afirmaram que não reconhecerão o legislativo eleito neste domingo. O Brasil está entre eles. Em um declaração conjunta com 12 nações americanas, o governo brasileiro ressaltou que as eleições organizadas pelo regime ilegítimo de Nicolás Maduro "carecem de legalidade e legitimidade".

Os signatários pediram à comunidade internacional a rejeição do resultado do pleito e exortaram "os atores de toda a Venezuela, de todas as tendências ideológicas e filiações partidárias, a colocarem os interesses do país acima de tudo e a se comprometerem urgentemente com um processo de transição, definido e impulsionado pelos venezuelanos, de modo a encontrar uma solução pacífica e constitucional que leve o país a eleições presidenciais e parlamentares livres, justas e críveis o mais rapidamente possível".

Ao todo, 18 países americanos não reconheceram as eleições parlamentares deste domingo: Estados Unidos, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Uruguai, Costa Rica, Equador, El Salvador, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Santa Lúcia. A eles se somam o Reino Unido e os 27 Estados-membros da União Europeia. "A UE apela às autoridades e dirigentes venezuelanos (…) que se unam urgentemente e iniciem um processo de transição liderado pela Venezuela”, afirmaram os Estados membros em um comunicado.

Ao mesmo tempo, essas declarações não vieram acompanhadas de um reforço ao apoio até agora prestado a Guaidó. Países como Chile, Reino Unido e os Estados Unidos de Donald Trump afirmaram que continuarão reconhecendo-o como presidente, mas esse compromisso não foi amplamente citado pelas nações que rechaçaram as eleições parlamentares de Maduro.

"Os países que não reconhecem Maduro e nem a [nova] Assembleia Nacional terão que apoiar a oposição representada em alguém. Até agora, Guaidó, com muito menos apoio do que tinha anteriormente, continua muito acima de outras lideranças", afirmou à Gazeta do Povo Benigno Alarcón, diretor do Centro de Estudos Políticos da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), na Venezuela.

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Uma pesquisa recente da consultoria Datanálisis revelou que Guaidó tem cerca de 30% de popularidade, enquanto Maria Corina Machado, mais à direita no espectro ideológico, tem 20%, enquanto Maduro tem 14%. Segundo Alarcón, o posicionamento dos países que hoje reconhecem Guaidó pode continuar o mesmo ou mudar, dependendo do resultado da consulta popular.

Uma estratégia que pode ser adotada pelos países que resolverem abandonar Guaidó é buscar vias alternativas contra Maduro em uma oposição que não é vista como radical pelo regime, opina o comentarista internacional e professor da Universidade de São Paulo (USP) Vinicius Vieira.

"Se houver uma transição [para a democracia], acredito que ela deve passar por uma negociação com a oposição consentida, assim como ocorreu no Brasil, e não com aqueles que, sob a ótica do regime, são radicais. E por mais que não concordemos, Guaidó é um radical para Maduro", avaliou. Vieira também acredita que tanto Estados Unidos, sob a liderança do democrata Joe Biden, quanto a União Europeia devem começar a abrir canais de comunicação com essa oposição consentida.