Enquanto a maior parte dos nova-iorquinos tentou voltar à vida normal depois dos atentados de 11 de setembro de 2001, a rotina de alguns continua voltada para localizar vítimas daqueles ataques.
Num esforço que alguns consideram necessário, e outros, excessivo, antropólogos e legistas começaram neste mês a vasculhar detritos para tentar localizar restos das quase 3.000 pessoas mortas no choque de dois aviões sequestrados contra as torres gêmeas do World Trade Center, onde novos arranha-céus começam a ser erguidos. O material foi recolhido em escavações no terreno desde 2007.
Os cientistas já peneiraram dois lotes de material e estão examinando amostras de DNA humano. Uma nova leva de detritos foi escavada ao longo das obras no terreno.
Para algumas famílias, encontrar um traço físico dos seus mortos é importante. "Temos uma obrigação para com aqueles que perdemos (...) de fazermos tudo para recuperá-los", disse Edward Skyler, vice-prefeito da cidade para questões operacionais. "E a tristeza do fato de que ainda estamos procurando, oito anos depois da tragédia, não escapa a ninguém."
Essa operação de busca custará cerca de 2 milhões de dólares, segundo ele.
Para Talat Hamdani, que perdeu um filho cadete da polícia no 11 de Setembro, fazer mais buscas é "cruel e desumano".
"Revirar os restos não vai fornecer o desenlace para as famílias das vítimas. Pelo contrário, vai só causar mais dor ao reabrir sua ferida, e injetará mais uma vez um sentimento de vingança nas veias da nossa nação", disse ela.
No último processo de filtragem, 25 trabalhadores recolheram o material armazenado num aterro e, com um laboratório móvel, cientistas passavam a poeira o cascalho e o entulho por peneiras finas. Eventuais restos humanos achados nesse processo são então cruzados com um banco de DNAs.
Até agora, 50 restos que os cientistas acham que podem ser humanos foram testados. O IML disse que o trabalho deve ser concluído até o começo de julho.
Ao todo, dos 21.744 restos descobertos nas duas operações anteriores, 59 por cento foram identificados, correspondentes a 1.626 das 2.749 vítimas.
"As pessoas vão a grandes extremos para encontrarem restos, para que possam finalizar e completar essa porção do seu trabalho de luto", disse a terapeuta Diana Nash.
Para J. Shep Jeffreys, psicólogo especializado em luto na Escola Johns Hopkins de Medicina, a falta de restos físicos após uma morte trágica gera grande incerteza na família. "Se não tivermos isso, temos um processo ambíguo. A ambiguidade está roendo a capacidade de reivindicar alguma vida após a morte."