Controlar a poluição do ar que provoca danos à saúde da população, principalmente nas grandes cidades, pode acelerar o aquecimento do planeta nas próximas décadas. Apesar de ainda haver incertezas sobre o assunto, esse é o resultado apontado por estudos. O assunto é tema de três artigos publicados pela revista Science.
A poluição afeta o clima de várias formas. Alguns poluentes absorvem radiação solar - causando aquecimento -, enquanto outros resfriam, ao dispersar radiação e reduzir a quantidade de luz que atinge a superfície da Terra. Além disso, os gases lançados pelo homem reagem entre si e podem gerar mais aquecimento.
O cientista Drew Shindell, da agência espacial americana (Nasa), juntamente com outros pesquisadores, sugere que a queda das concentrações de aerossóis de sulfato e o aumento da concentração de fuligem contribuíram notavelmente para o rápido aquecimento do Ártico em décadas recentes.
David Parrish, da Agência Nacional de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa) e coautor de um dos artigos, explica que gases como dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e ozônio provocam aquecimento. "Já poluentes como o material particulado (conjunto de pó e fumaça) causam resfriamento."
Shindell disse ao jornal "O Estado de S. Paulo" que o aquecimento vai depender da forma como será feita a "limpeza do ar" nas cidades e pode variar de região para região. Entretanto, em sua opinião, a estratégia ideal para evitar um colapso climático é colocar especial ênfase no controle das emissões de poluição atmosférica que também levam ao aquecimento, caso do metano e do monóxido de carbono. "Alguns poluentes contribuem tanto para os problemas de saúde quanto para a diminuição da produtividade agrícola e o aquecimento da Terra", afirma.
Ainda de acordo com ele, o impacto no clima resultante da limpeza de poluentes que esfriam o planeta deve ser compensado por reduções adicionais das emissões dos gases que provocam aquecimento.
Na opinião de Parrish, a mensagem fundamental é que os programas para melhorar a qualidade do ar e os para evitar a mudança climática não devem ser pensados como questões distintas.
Modelos climáticos
Os pesquisadores ressaltam que os modelos climáticos precisam melhorar e passar a incluir as complexas reações entre os gases que ocorrem na atmosfera. Eles afirmam que o problema existe inclusive nos dados do último relatório do painel do clima da ONU (o IPCC). De acordo com o pesquisador Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), no quarto relatório do IPCC a geração de modelos climáticos não levava em conta como as espécies bastante reativas - como monóxido de carbono, ozônio e óxidos de nitrogênio - reagiam e mudavam a quantidade dos gases-estufa.
Para Nobre, no entanto, isso não significa que as projeções do IPCC não têm validade. "Os novos estudos mantêm o aquecimento em valores não muito distantes daqueles projetados." Ele afirma que, no próximo relatório do IPCC, a ser finalizado entre 2013 e 2014, os modelos climáticos num dos conjuntos de simulações terão de ter um componente de química atmosférica. "Assim, pelo menos em parte, as preocupações apontadas serão abordadas pelos novos modelos."
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