A maior reunião diplomática da história, a 15ª Conferência do Clima (COP-15), terminou nesta sexta-feira à noite (18) com um acordo pífio, que não prevê metas obrigatórias de redução de emissões de CO2 até 2020. O texto final traz apenas um mecanismo de financiamento para ações de combate ao aquecimento global e um compromisso de impedir a elevação da temperatura em 2°C, sem dizer claramente como isso será cumprido. Depois de duas semanas de negociações e muita expectativa, a cúpula das Nações Unidas em Copenhague foi considerada um fracasso.

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O acordo político foi fechado depois de 23 horas (horário da Dinamarca) pelos líderes dos Estados Unidos, União Europeia, China, Índia, Brasil e África do Sul. Presentes em massa, 193 chefes de Estado e de governo tentaram em vão um compromisso que equacionaria as disputas técnicas em torno de dois objetivos: prorrogar o Protocolo de Kyoto até 2020, limitando as emissões de CO2, e incluir os EUA em um tratado internacional.

O cenário do fracasso começou a se desenhar na noite de quinta-feira (17), quando uma reunião de 33 líderes políticos acabou sem avanços. No retorno a seu hotel, em plena madrugada, o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, revelou o grau de desacordo: "Estou rindo para não chorar". Pela manhã, a tensão era nítida no centro de conferências. O consenso se anunciava impossível porque os EUA condicionavam um acordo à criação de um mecanismo internacional de verificação das ações ambientais em países em desenvolvimento. A China não aceitou o debate.

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Para desatar o nó, um novo texto-base para um acordo de Copenhague foi proposto às 7 horas de hoje pelo governo anfitrião, sepultando as chances de um tratado climático ambicioso. Três horas depois, na plenária de líderes, Lula começou um pronunciamento contundente - e muito elogiado - dizendo-se "frustrado".

A sensação de fracasso foi ampliada quando o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, tomou a palavra, mas não anunciou evolução em sua posição. O impasse intransponível se desenhou. A reunião foi interrompida e substituída por um novo encontro dos 33 países mais influentes nas negociações, entre eles o Brasil. Resultado: nova decepção.

Ao longo do dia, rascunhos de declarações provisórias chegavam a todo momento às mãos de representantes de ONGs e jornalistas, revelando a crônica do regresso do acordo climático. Às 16h30, um quinto documento fixava um compromisso global de redução das emissões para 2050 em 50% - um cenário pífio. Costurando um entendimento, Lula se reuniu com líderes como Obama, Wen Jiabao, premiê da China, Nicolas Sarkozy, presidente da França, e Angela Merkel, chanceler da Alemanha, sem sucesso. Às 17h30, o brasileiro convocou a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e o diretor do Departamento de Meio Ambiente do Itamaraty, Luiz Alberto Figueiredo, e alguns negociadores. "Ninguém vai embora. Vamos continuar negociando até um acordo", disse o presidente, segundo um diplomata.

O esforço final de mediação ainda foi feito às 18h30, em uma reunião dos grandes emergentes - o grupo formado pelo Brasil, África do Sul, Índia e China -, convocada pela China. Sem ser convidado, Obama compareceu, pedindo para se sentar ao lado de Lula. Mais uma vez sem acordo, a reunião foi encerrada. O brasileiro, então, deixou local da conferência e pegou o avião de volta ao País.

A debandada de líderes prosseguiria com a saída do presidente da Rússia, Dmitri Medvedev, entre outros. Desolado, o maltês Michael Cutajar, presidente do grupo que negocia o novo tratado, disse à reportagem: "Com o que aconteceu, fica difícil continuar acreditando nesse processo mediado pela ONU".

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