Imagem mostra perspectiva das montanhas subglaciais Gamburtsev, na Antártida| Foto: AFP PHOTO/British Antarctic Survey

Por mais de meio século, geólogos têm discutido sobre as origens de uma extraordinária cadeia montanhosa, encontrada sob o gelo do leste da Antártida e com quase 3 km de altitude.

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As montanhas de Gamburtsev, cujo nome homenageia o geofísico soviético que as descobriu em 1958, durante exploração no primeiro Ano Polar Internacional, têm 1.200 km de extensão e picos que alcançam os 2.700 metros, entremeados por vales e depressões profundos.

A formação desta cordilheira é um dos muitos mistérios do grande continente branco.

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A cordilheira Gamburtsev se formou em um continente geologicamente antigo e há muito tempo livre de movimentações tectônicas que costumam dar origem às montanhas.

No entanto, seus picos pronunciados, semelhantes aos Alpes europeus, atestam claramente para sua formação recente, raramente tocada pelas forças erosivas do vento, da neve e da água.

Em artigo publicado na edição desta quarta-feira (16) da revista científica Nature, uma equipe internacional de cientistas afirma ter encontrado a chave para o enigma.

Eles acreditam que a resposta esteja em uma rede de lagos e falhas no leito rochoso, espelhando de forma notável características encontradas nos trópicos africanos, a meio mundo de distância.

"O sistema de falhas da Antártida oriental lembra uma das maravilhas do mundo, o sistema de falhas da África oriental", afirmou o chefe das pesquisas, Fausto Ferraccioli, do British Antarctic Survey (BAS).

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"Ele fornece a peça que falta do quebra-cabeça que ajuda a explicar as Montanhas Subglaciais Gamburtsev. Descobriu-se que o sistema de falhas também contém os maiores lagos subglaciais da Antártida", acrescentou.

O sistema de falhas foi encontrado graças a uma segunda exploração da cordilheira Gamburtsev, feita no último Ano Polar Internacional, que foi celebrado entre 2007 e 2009 para cobrir as estações nos dois pólos.

O projeto, que envolveu sete países, mapeou a topografia subglacial da Antártida centro-oriental, usando duas aeronaves Twin Otter, equipadas com radar de penetração e sensores para mapear alterações nos campos gravitacional e magnético da Terra.

O que se propõe é uma narrativa de algo que ocorreu bilhões de anos atrás.

Sete minicontinentes colidiram para formar o supercontinente chamado Gondwana, criando uma cordilheira no ponto de impacto.

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Ao final do processo, a rocha que se ergueu neste impacto ruiu, sucumbindo ao próprio peso, e erodiu com o passar do tempo, deixando uma "raiz" subjacente na crosta.

Seguiram-se dois períodos próximos de ruptura, em 250-100 milhões de anos atrás. Por força dos movimentos tectônicos, Gondwana se partiu novamente e criou-se uma fratura de 3 km na crosta do planeta, que se estende da Antártida oriental até a Índia sob o oceano.

Combinada com as falhas, a "raiz" residual ajudou a erguer a terra onde agora está a Antártida oriental.

Ao fazê-lo, desenvolveu-se um extenso sistema de falhas e vales, cujos flancos passaram a ser cortados por rios, e então por geleiras, à medida que a Terra foi resfriando.

Cerca de 34 milhões de anos atrás, as magníficas montanhas foram ocultas pelo manto de gelo da Antártida oriental, uma área do tamanho do Canadá. Como a Bela Adormecida, esta formação preservou sua misteriosa juventude.

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"Estamos habituados a pensar que a formação das montanhas se relaciona a um único evento tectônico, ao invés de uma sequência de eventos", explicou Carol Finn, do Instituto Geológico americano (USGS, na sigla em inglês).

"A lição que aprendemos sobre os eventos múltiplos que formaram as Gamburtsev pode influenciar a história de outras cadeias montanhosas", concluiu.