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SEUL – Para as pessoas que andam nas trilhas em volta de Seul, a visão é inconfundível: a Lotte World Tower, tomando a forma de um broto de bambu gigante.

Se a torre for terminada no prazo previsto, no final do próximo ano, ela se tornará um marco internacional muito necessário para os sul-coreanos, que gostam de medir seu país em escalas globais: com 555 metros, será o primeiro arranha-céu de Seul e o sexto maior prédio do mundo.

Mas, na Coreia do Sul, onde muitas pessoas se preocupam com padrões de segurança assim como com o poder cada vez maior dos chaebol, como eles chamam os conglomerados controlados por famílias que dominam a economia e o horizonte, a população olha para a torre Lotte com medo.

Desde 2013, uma série de acidentes tem atormentado o projeto de US$ 3,3 bilhões – incluindo três mortes de trabalhadores.

Alguns dos problemas com a construção, como uma infiltração de água e uma porta que caiu sobre um visitante, têm pouco a ver com a segurança estrutural geral do prédio, de acordo com engenheiros independentes que revisaram o projeto e disseram que os incidentes não seriam descobertos pela imprensa se tivessem acontecido em outras construções.

Mas o modo como os acidentes na construção deixaram as pessoas e os oficiais ansiosos diz muito sobre como a sociedade ainda anda bastante cética sobre a habilidade do governo de garantir a segurança.

— A confiança do público está no fundo do poço. Os especialistas podem dizer que todos os problemas são menores, mas as pessoas ficam tão preocupadas que essa torre cresce como uma dor de cabeça monumental — afirma Lee Deuk-hyung, líder do Weery Citizens Alliance, organização que funciona como fiscalizadora cívica de projetos municipais.

A torre está sendo construída pela Lotte, o quinto maior conglomerado da Coreia do Sul, com receita anual de mais de 73 bilhões de dólares. Seu fundador, Shin Kyuk-ho, começou como vendedor de máquinas de chicletes e montou um império de negócios que se estende pelo Japão e por seu país natal, a Coreia do Sul, onde é mais conhecido por sua cadeia de hotéis, shopping centers e parques de diversão. Shin, que hoje tem 92 anos, e seu filho, Shin Dong-bin, de 60, querem deixar um legado mais distinto para o fundador da empresa: o complexo Lotte World com 8,5 hectares no sul de Seul, que engloba o World Mall, um shopping e área de lazer que abriu em outubro, e a World Tower, de 123 andares, que inclui um hotel ultraluxuoso, escritórios e um observatório.

Quando terminada, a torre Lotte, que chegou ao 103o andar em julho, dará à Coreia do Sul o direito de se gabar de ter o prédio mais alto da Península Coreana. Será maior do que o atual campeão de altura, o Northeast Asia Trade Tower, de 305 metros em Incheon, a oeste de Seul, e do que o maior prédio da Coreia do Norte, o Ryugyong Hotel, em Pyongyang, de 330 metros, ainda não terminado.

O título da Lotte não vai durar muito. O Hyundai Motor Group, outro chaebol, avisou em junho que planeja construir em Seoul até 2022 uma torre de 571 metros, que se chamará Global Business Center.

Os administradores do Lotte dizem que o complexo vai criar 20 mil empregos e atrair 50 milhões de visitantes por ano, incluindo quatro milhões de turistas de fora do país.

Mas o projeto causou controvérsias desde o primeiro dia.

Levou 15 anos para a Lotte conseguir a permissão para a construção, o que aconteceu apenas depois que o conglomerado concordou em arcar com o custo de mudar o ângulo de uma pista militar ao sul de Seul, para que a torre não ficasse no caminho dos aviões de combate que se aproximam do campo de pouso. O negócio foi criticado como a mais nova lembrança da influência dos chaebol, tão poderosos que os opositores dizem que poderiam até mandar nos militares em um país que ainda está tecnicamente em guerra com a Coreia do Norte.

A construção começou em 2010. À medida que a torre crescia, também subiam os preços das terras em volta dela.

Mas as dúvidas sobre o projeto também aumentaram, especialmente depois que o ferry sul-coreano Sewol afundou em abril de 2014, matando 304 pessoas e aprofundando a descrença das pessoas nas políticas de segurança do governo.

O acidente reacendeu a memória que os sul-coreanos têm de outro desastre que expôs os problemas de uma cultura corporativa que muito frequentemente enfatiza a velocidade e a eficiência à custa da segurança. Em 1995, a Loja de Departamentos Sampoong, precariamente construída em Seul, caiu matando mais de 500 pessoas, em uma das maiores tragédias do mundo envolvendo prédios.

— Quando as pessoas veem a torre Lotte, elas revivem o trauma de Sampoong — afirma Chung Lan, professor de Engenharia Arquitetônica da Universidade Dankook, na Coreia do Sul, que investigou tanto o desastre de Sampoong quanto a controvérsia a respeito da torre Lotte.

Depois do incidente com o ferry, grupos cívicos e a imprensa local colocaram a Lotte sob intenso escrutínio.

Quando pequenas crateras, algumas com menos de 30 centímetros de profundidade, apareceram em distritos vizinhos, os moradores começaram a pensar se a culpa não era da torre Lotte.

Fotos dos buracos se tornaram virais nas redes sociais. O mesmo aconteceu com os piores cenários, como o que prevê que a torre vai cair dentro de uma cratera gigante.

As pessoas também mostram preocupação a respeito da diminuição do nível de água de um lago próximo, com alguns dizendo que a queda pode ter sido causada pelo prédio, apesar de a cidade precisar encher o lago constantemente com água do rio mesmo antes de a construção começar, uma tarefa que foi assumida pela Lotte desde então.

Outros problemas no shopping, mesmo os que parecem pequenos, também causaram preocupações.

Algumas pessoas ficaram presas em elevadores que não funcionaram direito. Pequenas rachaduras abriram na pintura e na argamassa do piso. Trabalhadores se queimaram de leve com fagulhas elétricas. Em dezembro, o público correu para evacuar uma sala de um cinema multiplex quando a tela começou a vibrar. (Na verdade a culpada foi uma caixa de som.) Vazou líquido de um aquário contendo mais de 4.700 toneladas de água, que havia sido construído sobre uma subestação de eletricidade. Um trabalhador caiu e morreu na construção de uma sala de concerto que faz parte do shopping.

O ministério de Segurança e Proteção Pública e as autoridades da cidade de Seul ordenaram inspeções especiais no local da construção, que incluíram especialistas não governamentais para ajudar a garantir a confiança do público na avaliação. Jin Hee-sun, oficial de políticas de construção para o governo da cidade diz que, embora esses episódios não desaprovem a segurança da estrutura do complexo em geral, a lentidão da Lotte, sua falta de transparência e a ausência das revisões feitas por pessoas de fora para lidar com esses dois problemas “ajudou a diminuir a confiança e aumentar a ansiedade do público”.

Os oficiais da cidade de Seul obrigaram a Lotte a fechar o aquário e o complexo de cinemas por cinco meses. Eles reabriram em maio, mas o movimento do shopping ainda não voltou ao nível de antes de dezembro, que era de 100 mil visitantes por dia.

— Eles foram fechados por causa de erros pequenos que mostraram que a administração do projeto pela Lotte não é da melhor qualidade; mas foi exagero. Nenhum deles nos trouxe preocupação sobre a segurança estrutural — explica Hong Sung-gul, professor de Engenharia Arquitetônica no Instituto Arquitetônico da Coreia.

Para diminuir as preocupações com segurança, Shin e seu filho Dong-bin, o segundo do grupo, afirmaram que vão mudar seus escritórios para a torre assim que ela estiver pronta.

— Há tantas notícias que minha mãe me disse para não vir aqui — contou Kim Kyung-ho, de 19 anos, que num domingo recente estava assistindo ao filme de Hollywood “O Exterminador do Futuro 5” no shopping. — Quando estou aqui, eu vejo este lugar como qualquer outro shopping, apenas mais novo e muito, muito maior.

Outra diferença eram os guardas de segurança parados em cada uma das escadas rolantes para resolver qualquer problema.

— Estamos sob um critério de segurança tão diferente que sai na imprensa até quando uma pessoa tropeça e machuca a perna. Muitos dos nossos problemas têm a ver com o fato de que nunca houve um prédio tão alto no país — explica Lee Seul-ki, assessora de imprensa da Lotte.

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