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Tensão nuclear

Coréia do Norte quer negociar, não ceder, dizem analistas

A promessa norte-coreana de retomar as negociações em torno do seu programa nuclear não significa que o regime comunista esteja cedendo, segundo analistas. Eles acham que, embalada pelo recente teste nuclear, a Coréia do Norte estará tão arredia quanto sempre.

Pyongyang confirmou nesta quarta-feira a intenção de retomar as negociações com EUA, Rússia, China, Japão e Coréia do Sul, paralisadas há um ano, em reação a restrições americanas contra supostos crimes financeiros do governo norte-coreano.

Analistas dizem que a Coréia do Norte em parte se sentiu verdadeiramente vulnerável às sanções impostas pela ONU depois do teste nuclear do dia 9, especialmente porque elas têm apoio da China, praticamente a única parceira econômica do país.

- Certamente eles estão sentindo o calor das sanções e querem criar uma impressão de serem cooperativos - disse o especialista Paik Jin-hyun, professor de Assuntos Internacionais da Universidade de Seul.

Além disso, depois do teste nuclear a Coréia do Norte pode estar se sentindo mais segura para negociar com os EUA.

- Sua posição é de mais confiança - disse o pesquisador Park Young-ho, do Instituto da Coréia para a Reunificação Nacional. - Eles acham que já entraram no clube nuclear e tem influência sobre os EUA.

Ele considera, entretanto, que isso é apenas uma mudança tática:

- Não acho que tenham alterado sua posição.

A Coréia do Norte diz ter realizado seu teste nuclear em resposta à suposta ameaça bélica dos EUA, que mantêm cerca de 30 mil soldados na Coréia do Sul. Pyongyang prometeu, entretanto, que não vai tomar a iniciativa de um ataque nuclear. Em troca, quer promessas de que os Estados Unidos não vão atacar a Coréia do Norte e que vão suspender as restrições financeiras, que estariam provocando graves prejuízos aos dirigentes comunistas.

O especialista em assuntos coreanos Peter Beck, do International Crisis Group, em Seul, disse que Pyongyang pode ter se aproveitado da proximidade das eleições parlamentares americanas, na terça-feira que vem, para fazer o anúncio:

- Você certamente fará uma impressão melhor ao governo Bush se [anunciar a volta às negociações] uma semana antes de uma eleição acirrada do que uma semana depois de uma derrota constrangedora [de Bush nas eleições]. Se você está sob pressão para voltar à mesa antes cedo do que tarde, é melhor fazê-lo agora.

Entretanto, a exemplo de outros analistas, ele alertou contra o excesso de expectativas sobre uma mudança no comportamento obscuro da Coréia do Norte:

- Realmente não lhes custa nada voltar à mesa. Acho que devemos ter baixíssimas expectativas, devido à desconfiança fundamental que existe.

Park disse que a Coréia do Norte, que tenta agradar aos EUA, apesar de seu violento discurso antiamericano, deve explicar a volta às negociações como sendo o resultado de concessões de Washington.

Ao fazer o anúncio, a KCNA (agência oficial de notícias norte-coreana) disse que haverá negociações diretas com os EUA a respeito das restrições financeiras.

- É uma forma de livrar a cara e sair do impasse. Mas não haverá uma solução rápida - previu Park.

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