As conversas de alto nível entre o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, começaram com um clima de surpresa e expectativa em Cingapura, em junho de 2018. Nesta quinta-feira (28), entretanto, elas terminaram em decepção em Hanói, Vietnã – por enquanto.
O presidente americano disse: “O problema era as sanções. Eles queriam que as sanções fossem levantadas em sua totalidade e nós não poderíamos fazer isso… Às vezes você tem que se retirar e esse foi um desses momentos”.
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Se esta é a história toda? O tempo vai dizer.
De qualquer maneira, o momento em que Kim e Trump se conheceram no ano passado foi visto como uma vitória para a "política de gestos" de Kim e um vislumbre de esperança para a estabilidade na região. Mas como a última rodada de negociações terminou prematuramente sem acordo, parece que o Vietnã, o anfitrião, é o único vencedor – graças à cúpula que chamou a atenção para o recente sucesso do impressionante desenvolvimento econômico deste país.
Mas enquanto os EUA, a Coreia do Norte e o Vietnã têm dominado as manchetes, onde a Coreia do Sul – a outra parte interessada – tem estado? Até agora, parece ter estado visivelmente ausente. Isso ocorre porque a Coreia do Sul não fazia parte do acordo de armistício (entre a Coreia do Norte, os EUA, a China e a ONU) que interrompeu a Guerra da Coreia? Ou será que a Coreia do Sul não se beneficiaria de nenhum acordo entre a Coreia do Norte e os EUA?
Certamente, a Coreia do Sul é uma vítima imediata da fracassada cúpula de Hanói. Assim que Trump abandonou as negociações, o mercado de ações sul-coreano caiu drasticamente. Se Kim agora retomar os testes de mísseis, a Coreia do Sul seria a nação mais ameaçada.
De fato, mesmo que Trump aceite eventualmente levantar as sanções contra a Coreia do Norte, provavelmente seria a Coreia do Sul que teria que fornecer a maior parte do apoio financeiro à Coreia do Norte. O benefício imediato para a Coreia do Sul, se futuras negociações entre Kim e Trump terminarem bem, seria uma diminuição da ameaça de guerra.
O que a Coreia do Sul tem a ganhar
Mas a Coreia do Sul também pode se beneficiar economicamente – pelo menos em longo prazo – em um ambiente pós-sanção. Poderia, por exemplo, reabrir o Complexo Industrial Conjunto Kaesong, que beneficiaria algumas pequenas e médias empresas do país. A Coreia do Sul também pode esperar um aumento na taxa de emprego, devido a mais oportunidades de negócios com o Norte, e a expansão do mercado através do Fundo de Cooperação Inter-Coreano (IKCF, na sigla em inglês).
O IKCF foi estabelecido em 1990 para promover a compreensão mútua e a cooperação socioeconômica entre as Coreias. Antecipando o levantamento de sanções, a Coreia do Sul aumentou seu orçamento do IKCF para US$ 890,7 milhões em 2019, um incremento de 15% em relação a 2018.
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Sem as sanções, a Coreia do Sul também poderia esperar aumento do comércio e dos lucros do turismo, ligando as ferrovias entre as duas Coreias. De fato, uma das principais razões pelas quais Kim pegou um trem da Coreia do Norte para encontrar com Trump no Vietnã foi enviar uma mensagem para a Coreia do Sul: se a Coreia do Sul forçar o fim das sanções, poderá operar suas ferrovias pelo norte e conectar-se a rotas comerciais. China, Rússia e Vietnã.
Mas esses benefícios dependem de uma única ressalva: só acontecerão se a Coreia do Norte ou os EUA abrirem caminho. E até que isso aconteça, esse dilema de quem dará o primeiro passo piorará as relações entre as duas Coreias.
Desnuclearização
Parece improvável que Kim abra mão do seu programa nuclear. Quando a segunda cúpula foi realizada, em 27 de fevereiro, surgiram as notícias de que outra nação nuclear bem conhecida, o Paquistão, havia derrubado aviões militares indianos sobre a Caxemira. O primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan, convocou imediatamente uma reunião da Autoridade Nacional de Comando do Paquistão e ordenou uma zona de exclusão aérea sobre o país, comentando depois que, "dadas as armas que eles (Índia) têm e nós temos, podemos permitir um erro de cálculo?"
Os dois eventos podem parecer desconexos, mas é altamente provável que isso tenha reafirmado a Kim por que ele precisa de armas nucleares. Ser uma nação nuclear de fato é fundamental para que Kim garanta a sobrevivência de seu regime. A capacidade nuclear certamente não é algo do qual ele vai desistir prontamente.
Também é de se questionar se Trump realmente está interessado na desnuclearização e no desenvolvimento econômico da Coreia do Norte. É mais provável que o presidente americano esteja usando a cúpula com Kim para fortalecer sua posição dentro dos EUA. Trump anunciou que estava arranjando uma segunda cúpula com a Coreia do Norte no ano passado, antes das eleições de meio de mandato – um truque, talvez, para atrair mais votos. E é perfeitamente possível agora que ele esteja usando a cúpula de Hanói para distrair as pessoas dos escândalos domésticos envolvendo o seu nome. No dia em que Trump se reuniu com Kim, o ex-advogado de Trump, Michael Cohen, estava prestando testemunho altamente crítico ao Congresso sobre suas negociações com Trump.
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E assim o presidente sul-coreano Moon Jae-in parece estar preso entre a Coreia do Norte e os EUA – e nenhum dos dois parece estar totalmente comprometido com o sucesso das negociações para a desnuclearização da Península Coreana. Enquanto isso, o presidente sul-coreano enfrentará crescentes críticas domésticas de conservadores por causa de seu crescente orçamento para o IKCF – e da contínua falta de resultados.
Ainda há esperança para a península coreana, mas ela está diminuindo. E se Moon quiser manter-se no governo, e beneficiar a economia de seu país, ele terá que encontrar novas maneiras de levar Kim e Trump de volta à mesa de negociações. Não será tarefa fácil.
*Sojin Lim é docente sênior e vice-diretora do Instituto Internacional de Estudos Coreanos na
University of Central Lancashire (Reino Unido).
©2019 The Conversation. Publicado com permissão. Original em inglês.