A Coreia do Norte testou dois mísseis balísticos de curta distância nesta quinta-feira (25). Eles foram lançados entre às 7h e 7h30 (19h e 19h30 de ontem no horário de Brasília), da província de Hamgyong do Sul, na Coreia do Norte, e caíram perto da zona econômica marítima exclusiva do Japão, que se estende por cerca de 400 quilômetros da costa do Japão. As informações são das autoridades japonesas e sul-coreanas.
Este foi o primeiro teste com míssil balístico da Coreia do Norte desde 29 de março de 2020. No fim de semana, o regime comunista de Kim Jong-un já havia testado mísseis de cruzeiro, o que, ao contrário do teste com mísseis balísticos, não viola as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Os mísseis de cruzeiro voam em baixa altitude para evitar radares e usam motores a jato. Comparado aos balísticos, a velocidade de voo dos mísseis de cruzeiro é lenta, mas eles podem mudar livremente de direção durante a trajetória até o alvo. Já os mísseis balísticos seguem uma trajetória pré-determinada, atingindo as camadas mais altas da atmosfera e cobrindo grandes distâncias.
Com esses testes, a Coreia do Norte mostra que está desenvolvendo suas capacidades para atacar os inimigos mais próximos: Japão e Coreia do Sul.
Qual é o poder militar da Coreia do Norte?
De acordo com levantamento do CSIS ( Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais), atualizado em novembro passado, o país tem pelo menos 13 tipos de mísseis operacionais e outros 10 em desenvolvimento, entre eles o já famoso Hwasong-15.
Esse míssil balístico intercontinental foi testado em 2017 e atingiu uma altitude estimada em 4.500 quilômetros, indo 10 vezes mais alto do que a altitude onde está a Estação Espacial Internacional. A distância alcançada foi de mil quilômetros, mas ajustando-se a trajetória balística, o míssil teoricamente poderia atingir alvos a 13 mil quilômetros de distância – ou seja, poderia alcançar todo o território continental dos Estados Unidos em menos de 30 minutos após o lançamento.
Como a ampliação e melhoramento do arsenal de guerra da Coreia do Norte é prioridade para Kim Jong-un, ele anunciou em outubro do ano passado que sua ambição é desenvolver um míssil balístico intercontinental que atinja uma distância ainda maior: 15 mil quilômetros.
No início deste ano, a Coreia do Norte deu mais uma demonstração de força militar ao apresentar um novo míssil balístico submarino que, segundo os militares do país, é “a arma mais poderosa do mundo".
Nos últimos cinco anos Kim expandiu os testes de armas, sendo 2017 o ano em que mais mísseis foram lançados – quando a Coreia do Norte também realizou o seu maior teste nuclear, que foi, no mínimo, seis vezes mais potente do que a bomba que atingiu Hiroshima em 1945, segundo estimativas de cientistas.
Militares americanos acreditam que a Coreia do Norte já tenha conseguido diminuir o tamanho de uma ogiva nuclear para inseri-la dentro de um míssil. Estima-se também que o país tenha entre 20 e 30 bombas nucleares e que tenha material físsil para construir mais bombas.
Em 2018 não houve testes de mísseis na Coreia do Norte, devido à breve aproximação com os EUA, mas em 2019, com a deterioração das negociações, os lançamentos foram retomados, geralmente com testes de mísseis balísticos de curto alcance. Em 2020, em meio à pandemia, foram lançados seis mísseis do tipo e dois de cruzeiro.
A Coreia do Norte investe cerca de um quarto do seu PIB com defesa, segundo estimativa do governo americano. Nos últimos dois anos, o país aperfeiçoou sistemas de lançamento, testou armas para se defender de ataques dos EUA e atualizou sua tecnologia de lançamento de mísseis a partir de um submarino. O número de soldados, segundo levantamento do Instituto Internacional para Estudos Estratégicos, era estimado em cerca de um milhão antes da pandemia. Contudo, os equipamentos convencionais usados pelo exército norte-coreano são em sua maioria obsoletos.
O que os EUA e aliados podem fazer?
Analistas veem os recentes testes de mísseis e os anúncios de desenvolvimento de novas armas como uma maneira de demonstrar o poder de fogo da Coreia do Norte e pressionar o novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a partir de uma posição fortalecida. Desde que as conversas com o ex-presidente Donald Trump chegaram a um impasse (EUA pedindo a desnuclearização total e a Coreia do Norte exigindo retirada de sanções), Kim Jong-un e seu regime disseram não estar dispostos a negociar com os americanos. As relações se deterioraram também com a Coreia do Sul.
Neste mês, após exercícios de guerra conjuntos entre EUA e Coreia do Sul, a imprensa oficial norte-coreana publicou um comunicado de Kim Yo-jong, irmã do ditador, com um "conselho à nova administração dos EUA". "Se quiserem dormir bem nos próximos quatro anos, seria melhor que não façam nada que lhes faça perder o sono", disse ela.
Diante das negativas, o que os EUA poderiam diminuir os riscos de um conflito na região e avançar com a desnuclearização da península? Algumas sugestões vieram nesta semana, de uma comissão de especialistas do CSIS, que elencou uma série de recomendações à administração Biden ao estabelecer sua política para a Coreia do Norte durante o seu mandato.
A primeira é entender que, embora a desnuclearização da Península Coreana não seja alcançada no curto prazo, a desnuclearização completa, verificável e irreversível deve permanecer como o objetivo de longo prazo. De acordo com os especialistas, desistir disso seria o equivalente a incentivar outros países da região a criar seus próprios programas de armas nucleares.
O segundo ponto é coordenar a estratégia estreitamente com aliados em Seul e Tóquio. “Uma estratégia focada na aliança também deve envolver esforços para fortalecer a defesa regional e a dissuasão por meio de iniciativas bilaterais e trilaterais EUA-Japão-Coreia do Sul, incluindo uma retomada do Grupo Trilateral de Coordenação e Supervisão”, escreveram os especialistas. Ainda falando em alianças, eles salientam a importância de uma aproximação entre o Norte e o Sul, especialmente nas áreas humanitárias, enquanto avançam as negociações de desnuclearização.
No curto prazo, os analistas dizem que há a necessidade se concentrar em interromper o crescimento do programa nuclear da Coreia do Norte e gerenciar a ameaça, apresentando um plano de desnuclearização abrangente, começando “com o congelamento inicial das operações nucleares de plutônio e urânio em Yongbyon e a interrupção na produção de material físsil da Coreia do Norte”, além da suspensão dos testes.
Os especialistas do CSIS citam também que é importante manter as sanções econômicas como uma forma de pressão contra a Coreia do Norte, analisando cuidadosamente o momento certo de aliviá-las em troca do avanço da desnuclearização por parte do regime comunista. Também afirmam que os Estados Unidos não podem ignorar os abusos dos direitos humanos cometidos no país. “As melhorias na maneira como a Coreia do Norte trata seu próprio povo serão um indicador importante de sua decisão estratégica de ingressar na comunidade internacional, bem como uma pré-condição necessária para qualquer compromisso econômico sério com o mundo”.
Por último, os pesquisadores acreditam que os EUA devem pedir que a China coloque mais pressão sobre a Coreia do Norte, sem deixar o assunto totalmente nas mãos de Pequim. “Os Estados Unidos deveriam alavancar taticamente a influência da China sobre Pyongyang, seu principal parceiro comercial e único aliado, e ao mesmo tempo considerar estratégias econômicas e políticas de longo prazo com a Coreia do Norte que impeçam Pequim de determinar o futuro econômico da Coreia.
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